Joka Madruda – Paulo André no amistoso com o Cerro Porteño

O zagueiro Paulo André, 35 anos, publicou no último domingo (dia 30) uma carta sobre sua aposentadoria. Ele largou a carreira de zagueiro para virar diretor geral do Athletico Paranaense. No texto, o ex-jogador faz agradecimentos, desabafos e revelações curiosas. Veja o texto, na íntegra:

“Quando uma pessoa se aposenta, ouve-se dizer “agora vou curtir minha vida, vou viajar, etc…”. Talvez por essa razão eu tenha dificuldade de utilizar a palavra aposentadoria.

A minha carreira no futebol continua numa nova função. Já a minha trajetória como atleta profissional de futebol… essa sim se encerra, a partir de agora, após 22 anos maravilhosos de amizades, histórias e conquistas.

Morei em três continentes diferentes e passei por todos os outros jogando futebol. Sou eternamente grato aos clubes e às pessoas com quem convivi. Corinthians e Athletico foram os clubes que mais marcaram a minha carreira e onde ganhei os títulos e prêmios individuais mais importantes, mas não posso esquecer do São Paulo, Guarani, Le Mans e Cruzeiro, que me permitiram avançar em todos os sentidos. Foram ao todo oito títulos, três prêmios individuais e quase 40 gols como profissional. Sem contar as peripécias fora dos gramados… um blog, um livro, um leilão de obra de arte, uma campanha publicitária para uma marca mundial, uma ONG, uma empresa de gestão de investimentos para atletas, um movimento inédito, etc… Foi demais! E pra colocar um ponto final nessa história, tem textão com acidez, é claro.

Eu nunca achei que pudesse ser jogador de futebol profissional. Muito menos um zagueiro. Sempre vi como coisa chata, a última opção dentre todas as posições. Mas foi o único lugar do campo que me deixaram ficar, então fiquei. Os últimos 20 anos foram de alojamento e concentração, um tédio criativo que produziu iniciativas poderosas. Poderosas até demais, pois me ferrei diversas vezes por não entender, ou não aceitar, que os jogadores não deveriam fazer perguntas ou expor suas opiniões. Uma coisa é certa, eu nunca aceitei a rotina tediosa do ócio como parte inegociável da minha (agora) ex-profissão. E isso hoje faz toda a diferença!

Fato é que eu nunca fui tão bom jogador quanto esperavam, mas fui o melhor que eu podia ser. Eu fui muito mais longe do que imaginei, uma pena ter me limitado tanto.

Infelizmente nunca consegui ultrapassar a barreira dos 30km/h correndo atrás de um atacante. Isso sim foi motivo de grande chateação. No começo era pior, eu sofria tragédias inteiras calado e fiz de tudo pra mudar, mas não deu. Ossos da vida e da genética, não dependia só de mim.

E tudo bem, ao longo da carreira aprendi a conviver com as minhas limitações e até tirava sarro delas. Mais do que isso, foram elas que me fizeram encontrar atalhos até mesmo em linhas retas do gramado. Acabei por descobrir que há diversas velocidades no futebol e eu só não tinha uma delas. As outras eu até que praticava bem. Era apenas uma questão de tempo e espaço, espaço e tempo.

Terminei a carreira com as pessoas dizendo que eu jogava de terno e ontem, pela primeira vez, entrei de terno num gramado e entendi o que elas queriam dizer. Apesar de elegante, eu parecia estar meio amarrado.

Não houve um dia nos últimos 20 anos que eu não tenha saído da cama com a sensação de que eu podia ser melhor, de que valia a pena insistir, repetir e tentar de novo, cada vez melhor. Recentemente, pela primeira vez na vida, eu não quis sair da cama para treinar. A vontade de ser um melhor gestor passou a ser maior do que a de ser um bom jogador de futebol. E nesse dia decidi organizar minha retirada. A força de tanto querer me fez ser quem eu fui e por respeito a essa força, eu continuo escutando e seguindo-a, dessa vez nos campos da gestão!”

Clique aqui para ver a carta de Paulo André no Facebook do ex-jogador.