Marcello Casal Jr/Agência Brasil – Bolsonaro no pronunciamento: “A PF de Sergio Moro se preocupou mais com Marielle do que com seu chefe Supremo”

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) negou hoje que tenha tentado interferir na Polícia Federal para proteger sua família de acusações de corrupção. As declarações foram dadas em pronunciamento em resposta as acusações do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, que ao anunciar hoje sua demissão, afirmou que Bolsonaro tentou intervir na PF para ter acesso à investigações da corporação. 

“Nunca pedi para blindar ninguém da minha família. Jamais faria isso”, garantiu Bolsonaro. “Não são verdadeiras as declarações de que eu queria saber de investigações em andamento”, disse. O filho de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, é investigado por suspeita de participar de um esquema de retenção de salários de assessores quando era deputadco estadual do Rio de Janeiro, conhecido como “rachadinha”. 

O presidente reafirmou que o ex-diretor da PF, Maurício Valeixo, teria se demitido a pedido porque estava cansado. “Valeixo disse que desde janeiro vinha falando com Sergio Moro que queria deixar a Polícia Federal”, afirmou. “Desculpe seu ministro. O senhor não vai me chamar de mentiroso”, rebateu Bolsonaro. “Não existe possibilidade de interferência na Polícia Federal”, alegou.

O presidente acusou ainda Moro de ter condicionado a troca de comando na PF à sua nomeação para ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). “Me desculpa, mas não é por aí”, declarou Bolsonaro no Palácio do Planalto ao relatar o suposto pedido de Moro para exonerar Valeixo só em novembro depois de indicá-lo para o STF. “Reconheço as suas qualidades em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. E, outra coisa, é desmoralizante para um presidente ouvir isso.”

Bolsonaro acusou Moro de fazer “corpo mole” na investigação sobre o atentado sofrido por ele durante a campanha eleitoral de 2018. “A PF de Sergio Moro se preocupou mais com Marielle do que com seu chefe Supremo”, afirmou. 

Bolsonaro também insinuou que as declarações de Moro seriam uma forma de pavimentar sua candidatura à presidência. “Se ele quer ter independência, poderia ser candidato em 2022”, disse. “Ele fez acusações infundadas que eu lamento”, rebateu o presidente.

“Não são verdadeiras as insinuações de que desejaria saber sobre as investigações em andamento. Nos quase 16 meses em que esteve à frente do Ministério da Justiça, o senhor Sergio Moro sabe que jamais lhe procurei para interferir nas investigações que estavam sendo realizadas, a não ser aquelas, não via interferência, mas quase como uma súplica, sobre o Adélio [Bispo], o porteiro, e meu filho 04 [Jair Renan]”, afirmou o presidente, em uma referência às investigações sobre a tentativa de assassinato contra ele na campanha eleitoral de 2018 e às investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, também em 2018. Bolsonaro citou a lei n° 13.047 de 2014 para destacar que tem a prerrogativa de nomear e exonerar o diretor-geral da PF.

“Falava-se em interferência minha na Polícia Federal. Ora bolas, se eu posso trocar o ministro, por que eu não posso, de acordo com a lei, trocar o diretor da Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização para ninguém para trocar o diretor ou qualquer um outro que esteja na pirâmide hierárquica do Poder Executivo. Será que é interferir na PF quase que exigir, implorar [a] Sergio Moro que apure quem mandou matar Jair Bolsonaro? A PF de Sergio Moro mais se preocupou com Marielle [Franco, vereadora assassinada] do que seu chefe supremo? Cobrei muito dele isso daí, [mas] não interferi”, afirmou. O diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome indicado por Sergio Moro, foi exonerado do cargo nesta sexta-feira.

Cunha – O presidente J fez questão de deixar claro, em discurso no Palácio do Planalto, que Moro quer vê-lo fora da cadeira presidencial. Pela manhã, Bolsonaro se reuniu com deputados federais. “Hoje vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial”, relatou o presidente ao falar da conversa com os parlamentares. No discurso, o chefe do Planalto afirmou que as acusações de Moro são “infundadas”.

A interferência de Bolsonaro, de acordo com Moro, foi expressa na exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo. Nas palavras do presidente da República, porém o ex-juiz da Lava Jato levantou argumentos para causar uma divisão entre Bolsonaro e a população.

“Hoje essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro”, declarou o presidente, ainda sobre a conversa com aliados.

Bolsonaro relatou não ter mágoas de Moro após a demissão, mas deixou claro que uma coisa é “admirar” uma pessoa e outra é “conviver”. “Hoje vocês conhecerão aquela pessoa que tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil.”