A pesquisa eleitoral faz um retrato da realidade naquele determinado momento em que o eleitor é confrontado pelo entrevistador sobre o destino do voto. Obviamente que aponta tendências, mas representa a vontade do eleitor naquele momento influenciado pelo que vê e ouve. O último levantamento é da XP/Ipespe realizado entre 30 de julho e 1 de agosto e mostra um dado preocupante: o eleitor brasileiro parece que não quer votar em ninguém. 
Vamos aos dados recortados da pesquisa. Primeiramente o que chamou a atenção foi a taxa elevadíssima de votos brancos, nulos e indecisos. A soma chega a 62% na espontânea – quando não é apresentado o nome dos candidatos. Mas com a descrença cada vez maior da população brasileira é até explicável tamanho distanciamento com a classe política. Obviamente que com a aproximação da campanha eleitoral e do processo de eleição propriamente dito candidatos e eleitores tendem a se aproximar – embora que para alguns seja uma questão meramente obrigatória, já que o voto é um dever. 
Existe outra leitura: temos um campo fértil de 62% do eleitorado para os candidatos conquistarem. Embora estejam enojados da classe política, muitos deles decidirão o voto a partir da campanha de rádio e televisão e também nos debates, principalmente, televisivos. 
Caberá aos estrategistas de cada candidato entender o sentimento do povo brasileiro e ir de encontro aos anseios destes. Obviamente que todos os que querem ocupar a presidência da República terão que, invariavelmente, falar sobre o combate a corrupção. Esta é a agenda que o eleitor brasileiro vive. Saúde, educação e segurança também são importantes, como sempre foram numa disputa presidencial, mas o grande tema é, sem dúvida nenhuma, o combate à corrupção – muito impulsionado, claro, pela Operação Lava Jato. 
E como falar em frear a corrupção enraizada na classe política e também em setores da sociedade civil, se quase todos os partidos, salvo um ou outro nanico, está no epicentro do lodo dos escândalos que diariamente ocupam as páginas policiais. O candidato terá de se distanciar do partido e mostrar ao eleitor que ele é diferente. Arrisco dizer, que poucos conseguirão.  
Outro dado que salta os olhos é a rejeição dos candidatos. O mais bem quisto pelo eleitorado brasileiro tem uma rejeição de 47%. Trata-se do paranaense Alvaro Dias (Podemos). Isso quer dizer que de 10 entrevistados, quase metade deles disseram que não votam em Alvaro Dias sob nenhuma hipótese. Repito: Alvaro Dias é o mais bem quisto, segundo a pesquisa. 
E o mais rejeitado? A pesquisa apresentou ao eleitor, cenários com e sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que está preso na superintendência da Polícia Federal cumprindo pena no processo envolvendo o apartamento tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo. Lula é o mais rejeitado, com 61% — mesmo índice de Ciro Gomes do PDT. Ou seja, num grupo de 10 eleitores, seis disseram que não votarão em Lula e Ciro. 
A reprovação aos demais candidatos está no mesmo patamar. O tucano Geraldo Alckmin tem 60% de objeção, seguido por Marina Silva, da Rede, com 59%, Fernando Haddad do PT com 58% e Jair Bolsonaro (PSL) com 57%.  Com um cenário deste, com uma desaprovação tão próxima uma da outra, a campanha eleitoral tende a ser marcada por ataques e tentativas de desconstrução do adversário. Vai ser um “vale-tudo”. Infelizmente. As chamadas fakenews serão usadas e abusadas, principalmente nas redes sociais. O eleitor será bombardeado por denúncias e mais denúncias. Apesar da louvável tentativa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de tentar combater as notícias falsas, a internet será um propulsor de ataques rasteiros que não deve poupar nada nem ninguém. Os golpes serão desferidos abaixo da cintura. E, obviamente, que não terão origem. Serão apócrifos.  
E as propostas? E o futuro do Brasil? Poucos estarão interessados nisso. O eleitor está cansado de tantas propostas vazias que aparecem apenas nas campanhas. Vão prometer tudo. Fechar o ralo da corrupção para investir em saúde e segurança. Promessas virão, poucas, porém, factíveis. O Brasil não suportará mais um presidente preocupado com o fisiologismo, um Congresso Nacional que legisla para os amigos, para atender interesses e para si próprio. O país exige uma mudança de postura, de atitude. Porque, de fato, hoje, o brasileiro não quer votar em ninguém. E tem motivos para isso. E não sou eu que estou dizendo. É o próprio eleitor.