SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O que o ex e o seu atual têm em comum? Personalidades semelhantes, responde uma pesquisa recente publicada na revista da Academia Nacional de Ciências (PNAS) dos EUA.


Pesquisadores da Universidade de Toronto usaram dados de 332 pessoas que participaram de um estudo alemão de longa duração (o German Family Panel). Nele, ex e atuais companheiros relatavam suas próprias personalidades.


As análises dos cientistas mostram a tendência que homens e mulheres têm de se envolver em relacionamentos com um tipo particular de pessoa –mas, claro, com possíveis características diferentes. 


“Nossos achados não indicam que os parceiros atuais são cópias exatas dos ex-companheiros, mas que eles têm algumas semelhanças na personalidade”, diz à reportagem Yoobin Park, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo.


De acordo com a pesquisa, a semelhança entre companheiros é menor em pessoas extrovertidas e abertas para novas experiências.


“Para a psicanálise, o homem escolhe o presente baseado na história de vida que teve”, diz Renata Toledo, psicóloga da USP que não participou do estudo. “O próprio [Sigmund] Freud tem um artigo que se chama ‘Recordar, Repetir e Elaborar’, no qual ele fala que cada nova relação é uma tentativa de recordar o passado por meio de uma repetição no presente. Você repete com o outro uma relação que você já viveu.” 


Estariam, então, todas as relações condenadas a um ciclo de repetições de encontros e desencontros?


Não é bem assim, segundo Park. Sem dúvida, pode haver frustração quando, em um relacionamento com alguém similar ao ex, aparecem problemas já vividos com outra pessoa antes.


Mas, ao mesmo tempo, há pontos positivos nas semelhanças. “As pessoas podem conseguir transferir habilidades que aprenderam com o ex, como lidar com conflitos que aparecem com esse tipo de pessoa”, diz Park.


É preciso, contudo, tomar cuidado para não tentar consertar o relacionamento passado com o atual, o que significa que o luto quanto à relação anterior não foi feito adequadamente. 


“A pessoa tenta finalizar o relacionamento numa pessoa que não é o ex. É a mesma coisa que conversar com um morto. Não tem como corrigir o outro. O que pode ser feito é repensar os erros para se ter uma nova experiência”, diz Toledo. 


Se a experiência com o seu ex foi realmente ruim e a possibilidade de lidar com uma pessoa daquele tipo já causa arrepios, talvez haja uma solução.


Segundo a pesquisa, uma das possíveis explicações para as semelhanças entre o ex e o atual é o ambiente. No caso dos extrovertidos, por exemplo, a menor chance de similitudes entre os relacionamentos seria explicada pela diversidade de contatos e por frequentar lugares diversos.


Para os introvertidos, isso quer dizer que, possivelmente, mudar os ambientes nos quais se circula pode ajudar a encontrar alguém menos parecido com o ex. Park diz, porém, que ainda não se sabe o papel real desse tipo de fator.


“As pessoas que temem encontrar uma cópia do ex e repetir os mesmos erros estão ignorando o peso de suas próprias ações na manutenção do relacionamento, independentemente de quem estão namorando”, afirma Park.