Rodrigo Rosa

Poesia, teatro, música, política e sentimento. Esses são os ingredientes da receita que formulou o grupo O Teatro Mágico, um dos nomes da música independente mais amados pelo público. A banda, que comemora 15 anos de carreira, realiza uma apresentação especial neste sábado na Ópera de Arame. A celebração vai ter um gosto especial pois, além da data simbólica, os ingressos estão praticamente esgotados.
Fernando Anitelli, o vocalista e criador do grupo, conversou com o Bem Paraná sobre as alegrias e dificuldades, depois de tanto tempo de estrada, além das comparações com outros artistas. 

Bem Paraná — Nestes 15 anos de carreira, quais foram as maiores conquistas do grupo?
Fernando —
Foram várias conquistas, cada uma do seu respectivo tamanho. Começando por conseguir colocar 100 pessoas em um teatro, até levarmos 60.000 pessoas para uma apresentação na rua. Trabalhar com arte é uma tarefa árdua, então posso dizer que fazer e comemorar 15 anos de carreira, e poder comemorar isso em um show na Ópera de Arame, praticamente com os ingressos esgotados, é algo que me deixa bastante realizado. Entregar um trabalho de qualidade para o público e receber, em troca, uma recepção positiva e muita alegria, é o que eu posso considerar como uma grande conquista.

Bem Paraná — Visto que não é todo artista do cenário independente que consegue se destacar, o Teatro Mágico ultrapassou essa barreira de maneira surpreendente. Quais foram as grandes dificuldades nesse percurso todo?
Fernando —
Acredito que tornar possível que o nosso trabalho pudesse chegar nas pessoas foi o grande desafio, a grande dificuldade. Existem várias maneiras de atingir o público, de fazer com que ele escute música, mas conseguir com que ele saiba escutar a música, que receba o som de braços, peito e cabeça abertos. Considero que conseguimos isso, mas esse processo todo de, além de oferecer um bom trabalho, mas também uma boa letra, um bom conceito, uma boa criação, foram as maiores dificuldades. Olhar e interagir com as pessoas que estão caminhando na mesma direção musical que a gente. Enfim: tocar as pessoas.

Bem Paraná — Vocês são referência no que podemos chamar de “música livre”, misturando artes cênicas, saraus, entre outros. Como surgiu a estética do grupo?
Fernando —
Bom, a ideia dessa estética surgiu quando eu formulava as atrações ao vivo. Me seduziu a possibilidade da mistura, da pluralidade. Pensei: como posso levar a catarse para cima do palco? Imaginei logo o palhaço com o elemento catalisador, pois ele, com as suas atitudes livres, fornece ao público a visão e a possibilidade de ser qualquer coisa. Acho que a estética representa bem a nossa intenção: encurtar a distância entre o palco e a plateia.

Bem Paraná — Nesses anos todos de carreira, como o grupo lidou com a comparação com outros artistas/bandas?
Fernando —
Uma vez, a Folha de São Paulo disse que nós parecíamos uma mistura de Chico Buarque com o Tom Zé cantando hip hop, atuando numa peça sobre saltimbancos. Eu, particularmente, adorei a comparação, pois admiro muito o Chico e o Tom. Mas já nos compararam aos Secos e Molhados, Raul Seixas, Zeca Baleiro, Cordel do Fogo Encantado, Los Hermanos. Não vejo problema nenhum nessas comparações. Tudo é poesia, tudo é música. É isso que importa.

Bem Paraná — Há algum grupo ou artista com o qual a banda gostaria de contar para uma participação?
Fernando —
Gostaria de tocar com o Milton Nascimento e o Ney Matogrosso, que são os artistas consagrados com os quais eu mais me identifico musicalmente. Já dos novos, estabelecemos boas parcerias. Francisco, El Hombre, por exemplo, vai abrir nossos shows no Rio, o que eu acho positivo demais. A possibilidade de escrever, compor e dialogar com diferentes mentes é o que dá o tom diferenciado do som.

Bem Paraná — Vocês são admirados por muitas pessoas. Como é a relação de vocês com os fãs?
Fernando —
É uma relação tranquila. Sempre que encerramos uma apresentação, atendemos todo mundo, tanto para trocar ideias, quanto para falar do projeto. Essa relação é fundamental. Eu diria que é necessária, afinal só estamos aqui por causa do público. Poder proporcionar esse contato é o mínimo que podemos fazer para agracecer.

Bem Paraná — Curitiba é considerada uma boa cidade para testar espetáculos (no sentido de avaliar a recepção do público). Possui alguma lembrança das vezes em que passou por aqui?
Fernando —
Claro! Quando parte da trupe tocou, acredito que no Parque Barigui, para um público grande, foi um belo momento que lembro. Nossa participação em alguns projetos musicais da cidade também foi benéfico. Curitiba tem papel fundamental, pois a cidade nos pegou em um momento de construção da banda. Isso ajudou com que formatássemos o nosso som, como é apresentado hoje.



O Teatro Mágico
O Teatro Mágico, criado pelo músico e vocalista Fernando Anitelli em 2003, se consolidou como referência por sua estética própria, que reúne a música com as artes performáticas, e também pelo uso inovador da internet para formação de público. A percepção de mudanças comportamentais — como o público se relaciona com a música e os seus artistas — trouxe para a companhia o espírito de projeto de música livre e o uso pioneiro de redes sociais como Facebook, Twitter e Youtube. Além da criação da sigla MPB (Música para Baixar), O Teatro Mágico foi um dos primeiros no Brasil a disponibilizar músicas para download gratuito. Atuando na música de forma totalmente independente, tanto na produção como na venda, a banda já lançou cinco CDs de estúdio, três DVDs e um álbum ao vivo. Mesmo disponibilizando todo seu conteúdo para download gratuito, o grupo já vendeu mais de três milhões de CDs e mais de 450 mil DVDs. Na internet, são mais de 17 milhões de visualizações no Youtube, 161.000 seguidores no Twitter, 95.000 no Instagram e mais de 1,2 milhão curtidas na página oficial no Facebook.



SERVIÇO
O TEATRO MÁGICO 
Show 15anos
Onde: Ópera de Arame (R. João Gava, s/n) 
Quando: Sábado (1/9), às 21h30. Abertura do teatro às 20h30
Quanto: de R$50 (meia-entrada) a R$210 (inteira), de acordo com o setor