Na última entrevista que deu, Vinicius de Moraes (1913-1980) disse que era um namorador inveterado. Contou que até aguentava a solidão, mas por pouco tempo, e que não sabia viver sem uma mulher. Vinicius amava, vivia a euforia, sofria, afundava e recomeçava. Casou 9 vezes. A experiência, feliz ou infeliz, serviu de matéria para seus poemas, músicas, cartas e crônicas.

Esses textos estão reunidos agora em Todo Amor. Nas separações, ele sucumbia feito um náufrago. Mas renascia como um boto sedutor quando explodia uma nova paixão. Seus mais lindos sonetos foram criados nos delírios apaixonados vividos distantes das amadas, nas fagulhas das paixões e nas junções abrasadoras e sempre imortais, diz Toquinho à reportagem.

Para Vinicius, ele completa, o sofrimento era o grande combustível da poesia. Sofria e arrasava-se com essas separações. Sentia-se culpado e logo se refazia, sem culpa nenhuma. Tinha tanto prazer na vida, uma alegria tão grande de viver, que transformava esses sofrimentos em pouco tempo, sem se deixar dominar, talvez porque incrustava-os em sua poesia. Romântico ao extremo, evitava as estruturas preconcebidas. Trabalhava o momento da inspiração, buscando dar forma aos sentimentos que aconteciam no correr da vida. Daí sucedendo a arte. Mas a vida na frente.

O poeta vivia intensamente o amor mesmo quando ainda o buscava, e esse amor transbordaria ainda mais forte quando realizado, comenta o músico.