ISABEL FILGUEIRAS FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) – Depois de 21 veículos terem sido atacados na última quarta-feira (19), mais cinco ônibus foram incendiados na manhã desta quinta-feira (20) em cinco bairros de Fortaleza. Pontos de comércio e até repartições públicas encerraram o expediente mais cedo.

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social informou que mais dois suspeitos foram presos entre a madrugada e a manhã desta quinta (20). Ao todo, 17 pessoas estão sob custódia por suposto envolvimento nas ações.

Segundo o Sindiônibus (Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado), um ônibus foi incendiado no bairro de Vila Velha, por volta das 8h30. Uma hora depois, um outro coletivo foi queimado em Mucuripe. Houve ainda mais um ataque. Um quarto ônibus foi atingido por coquetel molotov no bairro Canindezinho.

O cobrador, que é deficiente físico, não conseguiu sair do veículo e teve queimaduras de terceiro grau; ele foi ajudado por moradores. Na quarta, um motorista também teve queimaduras em outro ataque. Durante a madrugada, um ônibus escolar de Itapiuna (a cerca de 120 km de Fortaleza) e um carro apreendido em frente à delegacia no bairro José Walter, na capital cearense, também foram queimados, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública.

A secretaria afirmou que mais dois homens foram detidos nesta quinta. Outros seis suspeitos já haviam sido presos anteriormente, sendo que dois estão internados com queimaduras no corpo. A pasta diz ainda que a antiga sede da Guarda Municipal, no bairro Rodolfo Teófilo, também foi alvo de tiroteio, além de duas delegacias e duas agências bancárias nas últimas 24 horas.

INVESTIGAÇÃO — A suspeita da polícia é que os ataques tenham sido organizados pela facção criminosa Guardiões do Estado, em retaliação por transferências de presos entre duas penitenciárias na região metropolitana de Fortaleza. A polícia diz ter encontrado bilhete num ônibus incendiado no qual o grupo ameaça atacar prédios públicos se não houvesse a suspensão da transferência de presos. O Sindiônibus garantiu que o funcionamento do transporte irá continuar normalmente. No entanto, usuários reclamam da redução na frota. A entidade admite problemas.

“Pelo medo de alguns operadores, talvez tenham paralisações, mas não é nossa ordem recolher nenhum carro”, disse o sindicato. Para a diarista Sheila de Sousa, o trajeto de casa para o trabalho foi de tensão. “A pessoa sente medo. Já pensou se um cara desses não espera nem a gente descer? Quem manda hoje são os bandidos, é uma vergonha para o governo”, diz ela. O secretario de Segurança, André Costa, disse que a polícia ainda apura se há ligação entre as ações que, segundo ele, podem não ter sido coordenadas. “Não há nada que indique que todos os ataques foram realizados por um grupo. Também não há confirmação que todas as pessoas presas sejam ligadas a esse grupo.”

O governador Camilo Santana (PT) se manifestou em redes sociais. “O policiamento foi reforçado e os setores de inteligência foram mobilizados para identificar e prender cada um dos criminosos envolvidos. […] Não aceitaremos nenhum tipo de intimidação.” Em viagem ao exterior, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), também disse condenar as ações criminosas. “Ocorridos desta ordem são completamente inaceitáveis”, declarou, em nota.

PARALISAÇÃO — Lojas de rua fecharam mais cedo. Em um posto de saúde no centro, as atividades foram encerradas ao meio dia. “Algumas lojas nem abriram pela manhã. O fluxo de pessoas é bem pequeno. A direção da repartição decidiu encerrar o expediente ao meio dia por questão de segurança”, conta a funcionária pública Suzana Moura. Helicópteros e carros de polícia circularam pela cidade durante toda a manhã.

Pelo menos seis bairros passaram por oscilações de energia, o que ocasionou defeito em semáforos no bairro Aldeota. De acordo com a AMC (Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania), o mal funcionamento foi causado pelo apagão. A assessoria não informou quantos sinais falharam. A Assembleia Legislativa também chegou a ficar no escuro por conta de picos de energia. A Enel, distribuidora de energia, nega que as oscilações tenham relação com os ataques. A empresa nega faltar energia e diz que esse tipo de comportamento instável é normal na rede. Dois carros da companhia foram atacados na quarta. O IFCE (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará) suspendeu as aulas pelo resto do dia.