Atrás do democrata Joe Biden em todas as pesquisas e vendo sua reeleição cada vez mais ameaçada, o presidente Donald Trump tem segurado a liberação de recursos para os correios dos EUA. O objetivo, segundo a oposição, é suprimir a votação por correspondência, que deve ser a maior da história em razão da pandemia de coronavírus.

O voto por correspondência é comum nos EUA. Pelos correios, o eleitor recebe uma cédula, que é preenchida e depositada em um centro de votação – a impressão em papel especial, tinta magnética e a assinatura são meios de atestar a autenticidade do voto.

Em cinco Estados, a votação é quase exclusivamente pelo correio. Em outros 33, é opcional. Em quase todos, em razão da pandemia, as restrições foram flexibilizadas, para evitar aglomerações no dia da votação. O voto por correspondência, em geral, é o preferido de jovens e eleitores de baixa renda, que favorecem os democratas. Proporcionalmente, os republicanos preferem o voto presencial.

Com a pandemia, os democratas esperam um aumento na demanda pela votação por correspondência – e pediram mais US$ 25 bilhões (cerca de R$ 135,6 bilhões) para financiar a operação. Trump vem tentando usar a liberação do recurso como ferramenta de negociação para obter concessões dos democratas no pacote de auxílio aos americanos em resposta ao coronavírus – os democratas querem aprovar US$ 3,4 trilhões e os republicanos US$ 1,1 trilhão em ajuda.

Assim, o Serviço Postal dos EUA (USPS, na sigla em inglês) se tornou o epicentro da disputa eleitoral deste ano. Ontem, em uma rara manifestação na campanha democrata – que deve começar a se tornar mais comum até a data da eleição -, o ex-presidente Barack Obama acusou Trump de se preocupar mais em “suprimir a votação do que combater o coronavírus”.

“Todo mundo depende dos correios. Os mais velhos, para receber a seguridade social. Os veteranos, para medicamentos. Os pequenos negócios, para manter as portas abertas. Os correios não podem ser um dano colateral de um governo mais preocupado em suprimir o voto do que em suprimir o vírus”, escreveu Obama, no Twitter.

Segundo o Washington Post, o USPS enviou cartas para 46 Estados alertando que não pode garantir que todas as cédulas enviadas pelo correio chegarão a tempo de serem contadas. O aviso reforça a possibilidade de dezenas de milhões de eleitores não terem seus votos validados em razão do ritmo lento de entrega do serviço postal.

O USPS já passava por um estrangulamento de recursos. O corte de custos já atrasava a entrega de correspondências em até uma semana em alguns lugares dos Estados Unidos. As cartas foram enviadas em julho por Thomas Marshall, vice-presidente do USPS, e obtidas pelo Washington Post.

Alguns Estados esperam um aumento de até dez vezes no volume normal de correspondência nos próximos meses. Seis já receberam avisos de que o recebimento de cédulas vai atrasar para grupos específicos de eleitores. Segundo os correios, outros 40 Estados – incluindo alguns cruciais como Michigan, Pensilvânia e Flórida – já foram avisados que os prazos de entrega das cédulas pode ultrapassar a data-limite, o que invalidaria milhões de votos.

“O serviço postal está pedindo aos comissários eleitorais e aos eleitores que considerem de forma realista como os correios funcionam”, disse Martha Johnson, porta-voz do USPS, em comunicado.

Mudanças

Em reação aos alertas enviados pelos correios, alguns Estados mudaram rapidamente os prazos, forçando os eleitores a solicitar e votar mais cedo, ou decidindo atrasar a tabulação dos resultados enquanto esperam que mais votos cheguem.

“É um absurdo que o serviço postal dos EUA seja colocado nessa posição”, disse Vanita Gupta, funcionária do Departamento de Justiça no governo Obama.

“A desaceleração dos correios é outra ferramenta usada na supressão do voto”, afirmou Celina Stewart, diretora da organização Liga das Mulheres Eleitoras. “Isso não é segredo. Achamos que é mais uma tática de supressão de eleitores.” (Com agências internacionais)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.