SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ano era 1979, no inverno gelado da serra da Mantiqueira. A décima edição do Festival de Campos do Jordão celebrava grandes conquistas, a começar pela inauguração do Auditório Claudio Santoro -que a partir de então seria o principal palco do evento.


Ao mesmo tempo, as atividades pedagógicas deixavam os primeiros frutos duradouros: ao final do trabalho com os jovens instrumentistas e cantores, eram criadas a Orquestra Sinfônica Jovem e o Coral Jovem do Estado de São Paulo.


Quarenta anos se passaram e a vida musical brasileira, no campo clássico, deu saltos enormes, a partir da reformulação da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) e de diferentes programas de educação musical.


Os dois grupos, no entanto, continuam desempenhando papel central na formação de novos músicos. Neste sábado (8) ambos sobem ao palco da Sala São Paulo para um concerto comemorativo dedicado a obras de Claudio Santoro.


O programa tem três obras da maturidade de Claudio Santoro, começando com “Interações Assintóticas” (1969) que, “escrita de uma forma não tradicional, obriga regente e músicos a um grande trabalho de organização matemática de toda peça”, explica Cláudio Cruz. Em seguida, será apresentada a “Missa a Seis Vozes” (1983), que a partir da interpretação da Orquestra e do Coral terá sua primeira gravação mundial.


A última parte do concerto é dedicada à “Sinfonia n.9” (1982), que, segundo Cruz, é uma peça “bem construída, com temas impactantes, texturas e cores integrando os naipes”, além de uma “citação do tema do primeiro movimento da “Nona Sinfonia” de Beethoven no quarto movimento, assim como uma arquitetura musical que nos remete a obras importantes do repertório sinfônico. Tudo isto dentro de uma linguagem inovadora”.


“Acredito que o Coral Jovem e a Orquestra Jovem do Estado são grupos que oferecem a oportunidade para os alunos de conviver com solistas e regentes de primeiro nível, de vivenciar uma temporada de ensaios e concertos com repertórios desafiadores”, afirma Paulo Zuben, diretor artístico-pedagógico da Santa Marcelina Cultura, responsável por gerir a Escola de Música do Estado de São Paulo, à qual estão vinculados dos dois conjuntos.


Em 2012, a Orquestra Jovem sofreu uma grande reformulação: o número de músicos saltou de 55 para 90 e o valor bolsa oferecida quase quadruplicou. Desde então, o grupo realizou turnês pela Europa e Estados Unidos, gravou quatro discos e conquistou o reconhecimento do meio musical.


“Nosso objetivo é preparar os jovens para o mercado profissional, quer seja tocando em orquestra, música de câmara, solista ou lecionando seu instrumento”, resume o maestro Cláudio Cruz, que dirige o conjunto.


A orquestra faz um programa por mês, para o qual são realizados dez ensaios durante duas semanas diárias de trabalho. “Procuramos programar peças sinfônicas utilizadas em concursos internacionais e em testes para integrar orquestras, incluindo o repertório brasileiro, que é extremamente rico, música do século 20 e de compositores vivos”, explica Cruz.


Já em 2015, foi a vez do Coral Jovem ser reestruturado. O cantor Tiago Pinheiro assumiu a regência titular do grupo, enquanto Marília Vargas tornou-se a preparadora vocal. “A palavra de ordem é maleabilidade”, destaca Pinheiro, que explica que o trabalho com os 44 bolsistas é pensado a partir de três bases estéticas: “canto popular, canto historicamente informado (ou canto barroco) e canto lírico”.


“Como trabalhamos vozes jovens, achamos muito importante oferecer aos nossos bolsistas a oportunidade de conhecer as outras estéticas e abrir seu mundo para elas.”


A reformulação também foi marcada por um despojamento do coro na forma de se apresentar. É frequente ver, nas apresentações, roupas coloridas, cabelos “descolados” e uma sensação de que todos ali estão à vontade: “Acreditamos que a música seja algo vivo e que necessite movimento e diferentes cores”, diz Pinheiro.


“Eu e Marília vemos o Coral Jovem como uma espécie de laboratório que dá acesso a diferentes expressões artísticas. Esta diversidade clama por uma postura também cheia de novas cores e possibilidades.”


O concerto deste sábado será gravado e lançado em CD, e a apresentação será marcada por uma homenagem aos antigos diretores do Coral e da Orquestra Jovem. “Este é um trabalho que não começou agora e só continua vivo por conta da contribuição de pessoas que se dedicaram à formação dos alunos nesse período”, afirma Zuben.


As comemorações continuam ao longo da temporada: em novembro, a Orquestra Jovem chama ex-bolsistas para um “um bis festivo” na Sala São Paulo, enquanto o Coral Jovem faz o mesmo em um programa intitulado “A Festa”, no Masp.


40 ANOS DE ORQUESTRA JOVEM E CORAL JOVEM DO ESTADO


Quando: neste sábado (8)


Onde: Sala São Paulo (praça Júlio Prestes, 16)


Preço: R$ 30 (inteira) R$ 15 (meia)


Classificação: Livre