SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Uma candidata a deputada federal pelo PSL de Minas Gerais afirmou, em depoimento ao Ministério Público Eleitoral no estado nesta quinta (7), que um assessor do ministro Marcelo Álvaro Antonio propôs a ela a devolução de R$ 90 mil em recursos do fundo partidário que a legenda repassaria para a sua campanha no ano passado.

Essa é a terceira candidata que apresenta denúncia sobre o esquema patrocinado pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, em Minas Gerais. Presidente do PSL mineiro, ele foi o reeleito deputado federal com a maior votação em Minas Gerais.

À Promotoria, a candidata derrotada Adriana Borges afirmou que ao se filiar ao partido soube que 30% dos recursos do fundo seriam destinados às mulheres. No entanto, durante a eleição não recebeu os repasses partidários, enquanto Álvaro Antônio já tinha material de campanha nas ruas.

Cobrou ao coordenador da campanha do candidato no Vale do Aço, conhecido como Robertinho Soares, que a chamou no dia 25 de agosto para uma reunião em um quarto de hotel na região central da capital mineira.

Segundo ela, Robertinho afirmou que “não tinha recursos suficientes para atender a todos os candidatos” e “precisava de parte dos recursos provenientes do fundo partidário destinado às mulheres”.

Ele propôs, de acordo com o depoimento, o repasse de R$ 100 mil, contanto que ela usasse R$ 10 mil desse total e devolvesse o resto em nove cheques em branco “para que ele efetuasse os pagamentos das despesas de outros candidatos”.

Adriana Borges afirma que considerou a proposta “indecente” e viu neste momento a “podridão da política”. Recusou a proposta, mas chegou a pedir dias depois ao menos R$ 30 mil a Robertinho.

No fim, foram repassados apenas R$ 2 mil à candidata. Adriana diz que, para sua campanha, conseguiu R$ 20 mil registrados de Salim Mattar, ex-presidente da Localiza e atual secretário de Privatizações do governo Jair Bolsonaro.

A candidata diz que não fez, durante a campanha, cobranças de dinheiro ao próprio Álvaro Antonio. Na eleição, ela teve 11.830 votos.

Como a Folha de S.Paulo mostrou em reportagens publicadas desde 4 de fevereiro, um grupo de quatro candidatas do partido recebeu R$ 279 mil, tendo tido votação ínfima. Parte desse dinheiro voltou para empresas de pessoas ligadas ao gabinete do hoje ministro.

Uma quinta candidata, Cleuzenir Barbosa, deu depoimento ao Ministério Público em dezembro afirmando ter sido pressionada por dois assessores de Álvaro Antônio a devolver parte dos R$ 60 mil que recebeu da verba do PSL. Ela diz que o ministro sabia de tudo.

Uma sexta candidata, Zuleide Oliveira, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que o atual ministro do Turismo a chamou pessoalmente para ser uma candidata laranja na eleição de 2018, com o compromisso de que ela devolvesse ao partido parte do dinheiro público do fundo eleitoral (R$ 45 mil).

Essa é a primeira a implicar diretamente o hoje ministro no esquema de desvio de dinheiro público por meio de candidaturas de laranjas do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro.

O caso foi revelado pela Folha de S.Paulo no início de fevereiro e levou à queda de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência. Polícia Federal e Ministério Público de Minas investigam o esquema.

Procurado, Roberto Soares afirmou que o assunto virou “palhaçada” e que as acusações são feitas sem prova.

“Isso virou palhaçada. Alguém está patrocinando essa campanha de difamação. Onde vai parar isso? Essa senhora acusa sem prova alguma. Assim como no caso da senhora Zuleide que sequer teve o registro homologado. Nunca houve essa conversa, nem com essa senhora nem com qualquer outro candidato do PSL”, disse. 

Ele acrescentou que tem a consciência “tranquila” e afirmou  acreditar que a Justiça vai “provar a verdade”. 

“Posso te afirmar com 100% de certeza que essa senhora não tem nenhuma prova da acusação. Lamentavelmente existe uma campanha de difamação para atingir o ministro Marcelo Álvaro Antônio com denúncias sem fundamento. De antemão, adianto que irei processar essa senhora por essa acusação infundada e acredito que a Justiça irá provar no tempo certo”.