Reencontrei amigos que já não via há alguns anos e repeti inúmeras vezes sobre seus filhos: Como está grande, como cresceu! De meu lado, ouvi os mesmos comentários sobre minhas meninas que me acompanhavam.
Longe dos olhos, as crianças mudam mesmo rápido demais. Dos nossos com os quais acordamos e dormimos todos os dias, é mais difícil ver o ‘crescer’. Percebe-se, é claro, quando alguma marca é atingida, quando riscamos a altura na parede, quando revemos as fotografias, quando no primeiro dia frio do ano, não há nenhum casaco que caiba.
Essa semana, com esse assunto em mente tive a impressão de que ouvi a Sofia, minha filha mais nova, mudar. Ouvi Sofia crescer. Aconteceu assim: nós tomávamos café da manhã no sábado, um desses cafés que se arrastam até quase a hora do almoço. Ela levantou e sentou-se ao piano, tocou uma, duas, três músicas. Cantou enquanto tocava, encheu a sala com o volume das teclas. Soava segura, divertia-se, passava páginas de partitura. 
Entre ela e eu, uma habilidade, um fazer que não pertence a nós. É só dela. Entre ela e eu, um refrão apresentado a nossa casa via seus fones de ouvido. Melodia que não é nossa, é só dela. Entre ela e eu, símbolos (notas, escalas) que não sei ler, um idioma que não compartilhamos, que é só dela. Entre ela e eu, uma extroversão, um ocupar sem reservas seu espaço no mundo, um volume alto na voz, uma cabeça que sacode sem medo de tontura, um rodopiar pela sala quando a música termina, um pedido sincero e merecido de aplauso que é tão tão dela. 
Um viva a Sofia que é outra música. Que é grande. Como cresceu.
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