Divulgação – Testes rápidos que são distribuídos pelo Ministério da Saúde

Até esta quarta-feira (29), Curitiba havia confirmado, conforme boletim divulgado pela Prefeitura, um total de 564 casos de Covid-19. Considerando-se que a população da cidade é de 1,93 milhão de habitantes, quase dois meses depois do início da circulação do novo coronavírus pela cidade o número de contágios nem parece tão expressivo assim. Uma pergunta, no entanto, é inevitável. Afinal, os dados refletem a realidade da dimensão do problema? A considerar pela escassez de testes, a resposta tem de ser negativa.

Na rede pública de saúde, os exames para o novo coronavírus estão sendo feitos, prioritariamente, em casos graves da doença, principalmente quando há internação do paciente. O protocolo segue recomendação do Ministério da Saúde e se baseia no fato de que há uma limitação no número de exames disponíveis no país. Já na rede privada, são poucos os laboratórios que possuem algum dos testes para detecção do novo coronavírus e o custo para fazer o exame não é baixo – vai de R$ 290 a R$ 505.

Há no país dois tipos de testes, os sorológicos e os que usam o método RT-PCR (sigla em inglês para transcrição reversa seguida de reação em cadeia da polimerase). Os testes sorológicos fazem uso de amostra de sangue, soro ou plasma para detectar anticorpos produzidos pelo próprio organismo do paciente em resposta à infecção pelo novo coronavírus, chamados de IgM e IgG. Como o organismo demanda um tempo para a produção desses anticorpos, esse tipo de teste é indicado para exames a partir de 10 dias após o início dos sintomas.

Já o PCR, como é conhecido, se baseia na detecção de fragmentos do material genético do vírus em raspados da mucosa do nariz ou da garganta do paciente para revelar se ele está doente no momento da realização do exame, porém não detecta contágios passados.

Nesta semana, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) formalizou no Diário Oficial da União (DOU) a decisão de autorizar farmácias para aplicarem testes rápidos de detecção de anticorpos de covid-19. A resolução confirma ressalva feita pela diretoria da agência ao conceder a permissão de que esse tipo de teste não serve para confirmar o diagnóstico da doença, mas ajuda a mapear o quadro de saúde.

Até esta quarta, pelo menos cinco laboratórios estavam realizando os testes

Ao longo do dia desta quarta-feira, o ‘Bem Paraná’ esteve em contato com diversos laboratórios da cidade, tentando descobrir quais possuíam o teste para a Covid-19 e também qual o valor do exame. Cinco dos estabelecimentos consultados disseram estar oferecendo o serviço, mas a maior parte dos locais só faz os testes em caso de recomendação médica e há ainda quem só esteja atendendo a partir da próxima semana.

O Labcen, por exemplo, está realizando somente o teste rápida feito por meio de coleta de sangue, indicado após 10 dias do início dos sintomas ou para os pacientes assintomáticos, com o o objetivo de verificar se estão imunes. É necessário agendamento e o valor do exame está em R$ 295 – se a coleta for feita em domicílio, há ainda uma taxa extra de R$ 100. A Unimed, por sua vez, está realizando o exame apenas por Swab (PCR) e somente a caráter domiciliar. É obrigatório ter solicitação médica para realizar agendamento e o teste custa R$ 505.

Genoprimer também está com testes de PCR, feitos sob requisição médica, e as coletas são realizadas no laboratório com horário marcado. O custo é de R$ 300.
Jáno Scriber, o valor dos testes IgG/IgM para detecção de anticorpos é de R$ 330 (R$ 280 pelo teste em si mais R$ 50 de taxa de coleta). Estão sendo agendados exames para a partir de 5 de maio, próxima terça-feira.

Já o LANAC (Laboratório de Análises Clínicas) realiza o teste rápido para o coronavírus, com análise feita por IgG e IgM para COVID-19, que detecta o anticorpo contra o vírus depois de 7 a 10 dias de contágio. O resultado sai no mesmo dia, em até cinco horas. O especialista em bacteriologia do LANAC, o bioquímico Marcos Kozlowski, explica que o teste serve para ver em qual fase da doença o paciente se encontra. “Um paciente com IgG positivo provavelmente já está imune, ou em fase de cura, o que permite um afrouxamento do isolamento social, depois de 15 dias de isolamento total”, afirma.

Pacientes com suspeita da doença tentaram, mas não conseguiram o teste

Desde a semana passada a advogada Paola Bianchi Wojciechowski apresenta sintomas que indicam a possibilidade de um caso moderado de coronavírus. O que começou com uma tontura não demorou a evoluir para enjoo, tosse seca e estado febril persistente. A mulher de 33 anos conta que chegou a desmaiar em casa e até chamou o Siate. Foi recomendada que fizesse o exame para averiguar se não havia sido havia contraído o novo coronavírus.

Para além dos sintomas, a proximidade dela para com alguns dos pacientes que tiveram quadros mais graves de Covid-19 indicam uma alta possibilidade de contágio. O avô, de 94 anos, faleceu, assim como a esposa dele. O pai dela também pegou a doença e o mesmo aconteceu com pelo menos outros seis parentes, entre primos, tios e tias.

“Depois que meu avô testou [positivo para Covid-19], mesmo com todos os meus tios tendo problemas de saúde, uma tia com câncer, mesmo eles sendo grupo de risco, não testaram. Teve um tio que chegou a ir para o hospital, mas todos os outros foram assintomáticos. Se não fossemos preocupados…”, conta ela, relatando que todos os parentes fizeram o exame por conta, em laboratório particular, pagando cerca de R$ 300 pelo teste.

Enquanto os parentes estão curados, ela ainda está enfrentando um quadro febril e tentando realizar o exame para averiguar, enfim, se contraiu ou não o novo coronavírus. Foram dois dias entrando em contato com diversos laboratórios até que ontem ela conseguiu marcar o exame, que deverá ser feito hoje, no começo da tarde, com coleta em casa feita por um laboratório particular.

“Minha maior indignação é pelas pessoas que não têm condição. Eu que tenho médico particular, consegui requisição, quase não consegui fazer o exame. Agora imagine as pessoas que não têm essa condição e dependem do sistema público”, questiona Paola.

Já a veterinária Luciana Helena, de 31 anos, apresentou os sintomas do novo coronavírus em meados de março, pouco após a adoção de medidas de isolamento social por Curitiba. Quando tudo começou, conta ela, parecia um resfriado. “Estava mais com coriza, o nariz escorrendo, e espirrando bastante. Depois começou uma dor de garganta chata e no segundo ou terceiro dia começou a febre. Foi a hora que vi que tinha algo estranho. Aí dois dias depois começou a parte respiratória, com falta de ar. Teve noite que eu só cochilei sentada, não conseguia ficar deitada porque não respirava direito”, relata.

Da Prefeitura ela recebeu orientação para ficar em casa, mas nada de teste, que ela ainda tentou fazer em laboratórios privados. “Tentei de todas as formas possíveis, mas na época não tinha em lugar nenhum e só estavam fazendo em quem estava internado e em UTI.

Por que é importante testar as pessoas para a Covid?

Em entrevista ao Roda Viva no final do mês passado, o biólogo Atila Iamarino explicou sobre a importância de se realizar os testes em maior escala para o enfrentamento da pandemia de coronavírus. Segundo ele, é como se estivéssemos no escuro e os testes fossem a lanterna que, apontadas em qualquer direção, mostrariam o que de fato está acontecendo nos lugares mirados.

“A Coreia [do Sul] (…) mostra o que é andar com essa lanterna. Não tiveram de parar. Eles conseguem saber quantas pessoas estão doentes, quantas pessoas têm o coronavírus, antes delas transmitirem e conseguiram não parar a atividade econômica. Qualquer cenário, de qualquer saída que a gente queira imaginar, depende do que a Coreia está fazendo, que é testar todo mundo sem parar. Sem essa lanterna, o que a gente pode usar é uma vela, que é ficar parado e ver quantas pessoas estão chegando até você com complicações hospitalares, que é o que o Brasil está fazendo. O Brasil, muito cedo na pandemia, parou de fazer testes e disse ‘não, agora nós só vamos ver quem está hospitalizado'”.

Acontece, porém, que numa situaçãao dessas haaverá um intervalo de duas ssemanas entre a pessoa contrair o vírus e ser hospitalizada. Nessse intervalo, o paciente poderá contaminar outras pessoas. Além disso, vale destacar que pelo meno 80% doss pacientes que contraem o novo coronavírus são assintomáticos, o que torna ainda mais difícil o controle da pandemia e reforça a necessidade de isolamento social.