Para o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (sem partido), referência em equilíbrio fiscal, o Brasil precisa corrigir três contas importantes para conseguir crescer: a da Previdência – que ele avalia que o País conseguiu ajustar em parte – a conta de juros e a da máquina pública (da folha de pagamento dos servidores ativos), que ele diz ser “brutal”. A análise foi feita na terça-feira, 5, durante painel da Brazil Conference at Harvard & MIT com o tema “Como nos tornamos um Estado reformista”.

O evento também contou com a participação do economista Marcos Mendes e com a moderação da colunista do Estado Eliane Cantanhêde. O presidente da Câmara do Deputados, Rodrigo Maia (DEM), havia confirmado a participação, mas ficou preso na votação das emendas e destaques do texto-base do projeto de ajuda financeira a Estados e municípios.

O Brazil Conference é um evento anual organizado pela comunidade brasileira em Boston, nos Estados Unidos. Este ano ele ocorre por videoconferência e conta com cobertura exclusiva do jornal O Estado de S. Paulo.

Mendes defendeu a necessidade de conscientizar pessoas e lideranças da importância da realização de reformas que não sejam associadas à neoliberais, ou seja, que reduzam as desigualdades sociais. “O negócio é termos uma liderança que nos convença a seguir nessa direção”, afirmou.

O economista disse ainda que, embora a figura do presidente da República no Brasil concentre muitos poderes, o fenômeno de ganho de protagonismo por parte do Congresso tende a favorecer o desequilíbrio fiscal. “O Congresso tem uma dispersão muito grande de forças e o que impera é a lógica dos interesses específicos e das bancadas especializadas, que não têm uma visão integrada de País e da necessidade de se manter equilíbrio orçamentário”, disse.

Para Mendes, o Congresso dá vitórias a setores específicos – como uma determinada indústria ou um determinado sindicato – e cria barreiras regulatórias que protegem alguns em detrimento da coletividade.

Sobre os vários benefícios concedidos à diversas parcelas da população pelo Estado brasileiro, Hartung defende que eles já chegaram a ser instrumento de estabilidade nas últimas décadas. “A solução de estabilidade foi transformar o Estado brasileiro em um distribuidor dos benefícios, para todo mundo: para o pobre, para o rico, para a classe média – com aposentadoria antes da hora -, para a classe média alta – com universidade pública”, afirma.

“Isso arrefeceu o conflito social, mas tem custo. Primeiro, foi a inflação”, acrescentou o ex-governador do Espírito Santo. “Quando se estabilizou a inflação, a gente começou a pagar através de aumento da carga tributária e, depois, por aumento da dívida pública”, concluiu.

Ética

Mais cedo, em painel mediado por Nathalie Gazzaneo, mestre em Harvard, sobre os dilemas éticos diante da pandemia do coronavírus, filósofos discorreram sobre a escolha que muitos profissionais da Saúde têm tido que fazer – sobre quem vai receber atendimento ou não. Na visão dos filósofos Mário Sergio Cortella e Silvio Almeida, do Instituto Luiz Gama, as escolhas são resultado de uma cadeia de decisões imorais que foram tomadas anteriormente.

“As escolhas que nós fazemos estão ligadas às escolhas feitas por aqueles que nos antecederam”, afirmou Silvio Almeida. Para Cortella, “o profissional da Saúde tem responsabilidade sobre as escolhas que vai fazer, mas não tem culpa”.

Para a filósofa Viviane Mosé, que também participou, “a ética é uma questão de inteligência” e “o dilema da humanidade é um dilema de maturidade”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.