SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Vaticano anunciou nesta sexta-feira (28) que o papa Francisco “demitiu do estado clerical” o padre Fernando Karadima, 88, um dos principais acusados de abusos sexuais no Chile.

Isso significa que Karadima deixa de ser sacerdote e se torna leigo, e não pode mais cumprir nenhuma função clerical, como rezar missas e ouvir confissões.

“O papa Francisco demitiu da função clerical Fernando Karadima Fariña, da Arquidiocese de Santiago do Chile. O Santo Padre tomou esta decisão excepcional de forma consciente e pelo bem da Igreja”, informa o comunicado do Vaticano.

O decreto foi assinado por Francisco na quinta-feira (27). Karadima, que supostamente vive em um asilo em Santiago, foi informado nesta sexta.

Karadima foi considerado culpado de abusar de meninos durante vários anos, em uma investigação conduzida pelo Vaticano em 2011. Na época, ele havia sido condenado a viver uma vida de “orações e penitência”.Agora, a sentença anterior foi revogada.

“A destituição do estado clerical é mais um passo na linha dura do papa Francisco ante os abusos”, afirmou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.

“Estávamos ante um caso muito sério de podridão e era necessário arrancá-lo pela raiz”, acrescentou. “Trata-se de uma medida excepcional, sem dúvida, mas os graves delitos de Karadima causaram um dano excepcional no Chile.”

Desde maio, 41 bispos renunciaram no país sul-americano após a abertura de uma investigação sobre o acobertamento dos abusos cometidos por Karadima.

O inquérito foi aberto depois de o papa Francisco ser questionado por vítimas e ser alvo de protestos em sua visita ao Chile, em janeiro. Na ocasião, ele chamou de calúnia as acusações contra Juan Barros, então bispo de Osorno, acusado de fazer vista grossa aos abusos de Karadima.

Dias depois, Francisco pediria desculpas às vítimas. As manifestações também não impediram a participação de Barros nos atos de sua visita. O bispo renunciaria em maio, junto com outros 34 bispos.

Religiosos também estão entre os 158 investigados da Procuradoria chilena por abusos sexuais ocorridos entre os anos 1960 e hoje.

O caso dos abusos sexuais cometidos por Karadima é um dos mais emblemáticos do Chile por causa da influência dele dentro da igreja.

Na paróquia de El Bosque, localizada em um bairro nobre da capital chilena, que dirigiu de 1980 a 2006, Karadima forjou ao longo dos anos fortes laços com setores da elite política e econômica do Chile.

“O pedófilo Karadima expulso do sacerdócio. Eu nunca pensei que veria esse dia. Um homem que arruinou a vida de tantas pessoas. Agradeço que o papa Francisco @Pontifex_es tenha tomado esta decisão finalmente. Espero que muitos sobreviventes sintam um leve alívio hoje”, tuitou Juan Carlos Cruz, uma das três vítimas recebidas pelo papa em abril passado.

“Além do simbólico, do reparador que pode ser para as pessoas que sofreram os abusos, tem um toque de esperança muito forte que estejam sendo criados ambientes mais seguros para os jovens e crianças e que estas coisas não passem ao futuro”, comentou no Chile Juan Carlos Hermosilla, advogado das vítimas.

Além do Chile, a Igreja Católica é questionada por casos de abusos sexuais de sacerdotes na Austrália, na Irlanda, nos EUA e na Alemanha.