SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O papa Francisco recomendou que os pais recorram à psiquiatria quando constatarem tendências homossexuais em seus filhos na infância, em uma entrevista coletiva no avião que o levou de volta a Roma após sua viagem à Irlanda.

Um jornalista perguntou ao pontífice o que diria aos pais que observam orientações homossexuais em seus filhos.

"Eu diria, em primeiro lugar, que rezem, que não condenem, que dialoguem, que deem espaço ao filho ou filha", respondeu o papa.

Também afirmou que os pais devem levar em consideração a idade da criança.

"Quando é observado a partir da infância, há muito que pode ser feito por meio da psiquiatria, para ver como são as coisas. É outra coisa quando se manifesta depois dos 20 anos" disse Francisco.

"Nunca direi que o silêncio é um remédio. Ignorar seu filho ou filha com tendências homossexuais é uma falha da paternidade ou maternidade", declarou.

Horas após a declaração, o Vaticano disse que as palavras do pontífice não tinham sido interpretadas corretamente e decidiu tirar a referência à psiquiatria da transcrição oficial da conversa "para não alterar o pensamento do papa", disse um porta-voz à agência de notícias AFP.

Não é a primeira vez que o Vaticano decide mudar declarações dadas pelo papa na tradicional coletiva que ele dá ao voltar de suas viagens ao exterior.

Segundo o Vaticano, Francisco não quis abordar o tema como uma doença psiquiátrica. "Quando o papa se refere à 'psiquiatria', é claro que ele faz isso como um exemplo que entra nas coisas diferentes que podem ser feitas", explicou o porta-voz.

"Mas, com essa palavra, ele não tinha a intenção de dizer que se tratava de uma doença psiquiátrica, mas que talvez fosse necessário ver como são as coisas no nível psicológico", acrescentou o porta-voz.

A declaração acontece em um momento que o papa enfrenta grande pressão devido a revelação de um escândalos sexual de abusos cometidos por padres no estado da Pensilvânia, nos EUA. A investigação mostrou que mais de mil crianças foram vítimas de religiosos em 70 anos.

Não foi a primeira vez também que declarações do papa sobre gays causou polêmica.

Em maio, o jornal italiano La Stampa disse que Francisco recomendou a bispos italianos que não aceitem seminaristas gays. "Fiquem de olho nas admissões aos seminários, deixem os olhos abertos", disse o pontífice, segundo a publicação. "Se tiverem dúvidas, é melhor que eles não entrem."

Um dia antes da conversa com os bispos italianos, porém, Francisco tinha feito um aceno a comunidade LGBT.

Na ocasião, o pontífice se reuniu de forma privada como chileno Juan Carlos Cruz, vítima de abusos sexuais de padres, que é homossexual.

"Deus o fez assim e o ama dessa maneira, e para mim não importa. O papa o ama dessa maneira, e você deve ser feliz do jeito que é", disse Francisco, segundo revelou o próprio Cruz ao jornal espanhol El Pais.