BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em uma última tentativa de garantir o apoio do centrão, o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, evitará temas polêmicos e defenderá a adoção de um “manual de decência” em convenção que oficializará sua candidatura ao Palácio do Planalto.

Em discurso na sexta-feira (20), ele deve se esquivar de pontos que enfrentam resistência em partidos como DEM, PP e PR, como a revogação da reforma trabalhista e a taxação de grandes fortunas.

Em compensação, dará destaque a pautas que costumam ser defendidas por partidos de centro-direita, como o combate à corrupção, o maior financiamento à segurança pública e a adoção de políticas de geração de emprego.

Os partidos do centrão ainda não definiram com quem se aliarão na disputa presidencial deste ano. Nas últimas semanas, eles chegaram a discutir um apoio ao PDT, mas a tendência é de acabem compondo com o PSDB de Geraldo Alckmin.

O presidenciável do PDT aproveitará a convenção nacional para lançar uma prévia do seu programa de governo, intitulada “12 passos para mudar o país”. 

Um dos trechos da iniciativa, em fase final de elaboração, estabelece que, caso o pedetista seja eleito presidente, a equipe de governo assinará um documento, uma espécie de manual de responsabilidade com o dinheiro público.

A regra principal é de que um auxiliar em cargo de confiança deve se afastar temporariamente do posto caso seja apresentada contra ele uma denúncia fundamentada de corrupção e que, paralelo a isso, seja realizada uma apuração independente.

Apesar do discurso moralizante, Ciro tem negociado com partidos implicados em denúncias de corrupção. O PP é uma das siglas mais envolvidas com a Operação Lava Jato e o ex-presidente nacional do PR Valdemar Costa Neto foi condenado no escândalo do mensalão.

Na segurança pública, tema que tem sido monopolizado pelas candidaturas de direita, Ciro irá propor um maior protagonismo do governo federal, aumentando a destinação de recursos e criando uma polícia especial para combater tráfico de drogas e de armas nas fronteiras do país.

MULHERES

Em um aceno ao eleitorado de esquerda, ele deve defender a ampliação das cotas raciais em universidades federais e o estímulo a políticas afirmativas para minorias, como mulheres, negros e homossexuais. 

A equipe de campanha tem tentado convencê-lo a se comprometer, em discurso na convenção partidária, com a meta de que metade dos cargos de confiança seja ocupada por mulheres até o final de 2022.

Nesta quinta-feira (19), Ciro se reunirá com as lideranças femininas do PDT para discutir propostas que possam ser defendidas durante a convenção nacional. O encontro também tem como objetivo minimizar o impacto de xingamento feito por ele contra uma promotora.

Na quarta-feira (18), ele chamou de “filho da puta” integrante do Ministério Público que solicitou a abertura de um inquérito contra ele por injúria racial. O presidenciável não sabia, mas o pedido foi feito por uma mulher, o que gerou repercussão negativa nas redes sociais contra ele.

Com a indefinição do quadro eleitoral, Ciro chegará ao evento de oficialização de sua candidatura sem a escolha de um candidato a vice-presidente e sem o anúncio de nenhum apoio partidário.

A aposta é de que os partidos do centrão só tomem uma decisão no início de agosto e que o PSB defina uma posição na próxima semana. A legenda ainda está dividida entre PDT e PT.