SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao entrar para a fila de adoção, algumas questões são colocadas para os futuros pais como a possibilidade da criança ter um irmão. Hoje, das 46 mil pessoas que esperam para adotar no país, 28 mil optam por apenas uma criança, segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça).


Moradores de Taubaté, no interior paulista, a psicóloga Carina Figueiredo,40, e o marido, o administrador e pastor Alex Figueredo, 44, limitaram em um o número de irmãos quando entraram na fila de adoção. Eles foram habilitados em 2012, após um longo período de entrevistas e envio de documentos.


Casados há quase 20 anos, eles descobriram no terceiro ano da união um problema de saúde nele.


“Adoção nunca foi um assunto romântico para nós. Sempre tivemos os pés no chão porque sabíamos que seria para sempre”, conta Carina.


Em agosto de 2018 o casal foi chamado no Fórum, onde foram avisados que três irmãos estavam disponíveis para adoção. Um menino de 5 e duas meninas: uma de 3 e outra de 2 –essa última ainda não havia sido destituída.


“Eles não falaram muito sobre o passado das crianças, apenas que estavam há oito meses na casa de transição e que foram vítimas de negligência”, conta a mãe. Ela explica que o número de filhos não foi uma questão para o casal e que em nenhum momento pensaram em separá-los.


Marcaram, então, visitas à casa transitória para conversar com a psicóloga. Em uma dessas visitas, Gustavo, o filho mais velho perguntou para o Alex se ele seria seu pai enquanto jogavam bola. “Instruído a não falar nada, Alex apenas perguntou por que o menino dizia aquilo. Ele respondeu que ele era o pai que ele queria”, lembra Carina.


Em uma nova visita, Gustavo havia dito a todas as crianças do local que os dois seriam seus pais. “Ele nos adotou primeiro”, diz.


As idas à casa passaram a ser diárias e o vínculo entre eles foi aumentando. O casal aproveitou o aniversário de uma sobrinha para apresentá-los para toda a família. A experiência foi positiva para os dois lados.


Uma semana depois perguntaram se o casal queria levá-los para casa para ver como seria a experiência. E assim, o juiz liberou a adoção logo em seguida.


“O início foi desafiador. Eles nos testavam. Cheguei a ouvir que não era mãe e sim tia”, explica Carina.


Reações como essas são esperadas, principalmente em adoções tardias, aponta a psicóloga Tatiany Schiavinato, que atua na área de adoção desde 2012.


“É muito comum crianças terem dificuldades para se vincularem aos novos pais. Isso ocorre por causa da quebra de vínculos anteriores. Os testes e conflitos são reflexos do medo de serem novamente abandonados”, afirma.


A psicóloga destaca que contar mentiras e reagir de forma agressiva também são comuns nessa fase, “até que essa criança se sinta pertencente à essa família”, conclui.


Neste sábado (25) é comemorado o Dia Nacional de Adoção. Segundo o CNJ, 9.534 crianças estão para adoção no país. Desse total, 5.262 possuem irmãos.


Em 2016, foram adotadas 1.710 crianças. Em 2017, foram 2.128 crianças. Ano passado, foram concretizadas 1.422 adoções no Brasil.


Segundo o CNJ, a regra é que grupo de irmãos permaneçam na mesma família. Tanto que esta é uma das hipóteses para opção por adoção internacional. No entanto, existe possibilidade de que eventualmente possa separar um grupo de irmãos, em famílias, por exemplo, na mesma cidade e região, desde que se comprometam a manter visitas, periódicas para manter o vínculo entre os irmãos.


Caso tenha interesse em adotar uma criança, o CNJ preparou um passo a passo no seguinte link: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/cadastro-nacional-de-adocao-cna/passo-a-passo-da-adocao.