Franklin de Freitas – Manifestação em frente ao O Torto Bar

De acordo com informações do Ministério da Saúde, disponíveis no Sistema de Informação de Agravo de Notificação (Sinan Net), os casos de violência em bares do Paraná estão em alta. Entre 2010 e 2017 foram notificados 2.173 casos no Estado, sendo 442 registros apenas no último ano. Na comparação com 2016, quando haviam 347 registros de agressões, nota-se um aumento de 27,4% nas ocorrências.

Ontem, inclusive, um episódio desse tipo foi registrado em Curitiba. Arlindo Ventura, conhecido como “Magrão” e proprietário do “O Torto”, localizado no bairro São Francisco e um dos bares mais tradicionais da cidade, foi acusado de racismo por uma cliente e teria em seguida a agredido com um golpe no rosto. Ele diz que acertou a mulher ao tentar empurrá-la, mas testemunhas relataram que ele teria efetivamente dado um soco nela. Antes, imagens de uma câmera interna mostram os dois discutindo e ela jogando um copo de cerveja contra ele e depois dando-lhe um chute.

Não demorou para o episódio viralizar nas redes sociais, com internautas iniciando uma campanha de boicote ao bar e enchendo a página no Facebook d’O Torto com críticas. No final da tarde de ontem ainda foi realizado um protesto em frente ao estabelecimento. Nas redes sociais, mais de 800 pessoas haviam aderido ao protesto.

“Todas as pessoas se organizaram para estar aqui hoje e demonstrar repúdio e repulsa ao ato de violência cometido pelo Magrão. O que a gente quer é que essa menina que sofreu a agressão saiba que não está sozinha, que a gente está do lado dela e que não vamos permitir que seja normalizado esse tipo de atitude”, afirma Ana Rivelles, que estava no bar quando da confusão e participou da manifestação ontem.

Magrão, por sua vez, disse que a manifestação era legítima. “Eu vejo que todo o movimento que for democrático, educado, é legítimo. Se acham que estou errado e querem vir aqui (protestar), a rua é de todos, o espaço d’O Torto é de todos. Estamos aqui para debater essa questão, essa polêmica”, disse o empresário.

Estatística
Mas, os eventos de violência em bares estão longe de liderarem as estatísticas. Segundo o relatório estatístico criminal da Secretaria de Estado de Segurança Pública, até o terceiro trimestre de 2019 foram registrados 46.360 casos de crimes relacionados a lesão corporal no Paraná, onde se enquadrariam os casos de agressão. Portanto, as ocorrências em bares estariam muito distantes de liderar esse quadro.


Abrabar se diz preocupada com linchamento moral

A Associação de Bares e Restaurantes (Abrabar) afirmou não compactuar com casos de racismo e violência, mas também esclareceu que dará apoio jurídico ao estabelecimento, se necessário.

Segundo Fabio Aguayo, presidente da Abrabar, a recomendação é para que os empresários tenham câmeras de monitoramento de boa qualidade para elucidar casos como esse ocorrido no O Torto Bar. Por fim, ainda demonstra preocupação com o que ele chama de ‘linchamento’.

“Eu fico preocupado com o linchamento moral. Muitos casos assim temos visto reviravoltas, que não era aquilo que se pregou, que se falou. Mas o linchamento já foi feito e ninguém pede desculpas depois”.

Violência doméstica, sexual e/ou outras violências em bares

Paraná
2017: 442
2016: 347
2015: 414
2014: 288
2013: 260

Curitiba
2017: 93
2016: 67
2015: 74
2014: 56
2013: 67

Tipos de violência registrados
Violência física: 376
Violência psicológica/moral: 85
Tortura: 9
Violência sexual: 35
Trabalho infantil: 4

Fonte: Sistema de Informação de Agravo de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde