Américo Antonio/SESA – Com casos em alta em quase todas as regiões

Com avanço rápido no número de infecções pelo novo coronavírus e o consequente aumento na quantidade de óbitos e na taxa de ocupação dos leitos de UTI do SUS e da rede privada, o Paraná enfrenta nesta semana o momento mais crítico desde o início da crise sanitária, em meados de março. Inclusive, uma pesquisa divulgada ontem pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) traz um alerta e, também, um alento.

Começando pela notícia ruim, o Doutor José Rocha Faria, do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da PUCPR, avisa que, se mantida a taxa de crescimento da doença, sem a disponibilização de novos leitos, as UTIs do sistema público de saúde voltadas exclusivamente para o atendimento de pacientes com Covid-19 estarão saturadas em menos de duas semanas.

A boa notícia, por outro lado, é que a maior parte das pessoas que precisarão ser internadas em unidades de terapia intensiva daqui a duas semanas ainda não está infectada. “Portanto, está em nossas mãos mudar esse cenário”, ressalta Faria.

Ainda conforme o estudo da PUCPR, a situação mais crítica neste momento está localizada na região Oeste do Estado, que apresenta ocupação de 76% dos leitos de UTI do SUS destinados para pacientes suspeitos ou confirmados com a Covid-19. A cidade de Cascavel, inclusive, apresenta a maior incidência de casos desde o início da pandemia: 533 casos/100.000 habitantes. Além disso, na última semana o número de casos em todo o Estado cresceu 51%, mas em Cascavel e em Toledo o avanço foi de 68 e 83%, respectivamente.

Na região Leste do Paraná, onde está Curitiba, a situação também preocupa. Na Capital, o número de casos cresceu 43% na última semana e a taxa de ocupação dos leitos SUS de UTI estava em 79%, ontem. “Ainda que essa taxa de ocupação seja apenas 10% maior do que há uma semana, não há muito o que comemorar: o crescimento foi pequeno porque mais leitos foram disponibilizados (eram 338, agora são 385). Na realidade, o número de pacientes em UTI cresceu 25% em apenas uma semana”, explica Faria.

‘Abrimos antes de fechar e talvez sejamos a economia mais arrasada’, diz médica

Médica intensivista do Complexo Hospitalar do Trabalhador e integrante do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências Médicas e Terapia Intensiva (CEPETI), Mirella Cristine de Oliveira comenta que as projeções feitas por pesquisadores pelo mundo inteiro com relação ao Brasil não são positivas. E um dos motivos para isso, segundo ela, é que o país ‘abriu antes de fechar’, ou seja, a quarentena foi afrouxada antes do tempo.

“Eu tenho lido predições internacionais e a expectativa é que o Brasil seja o país com maior tempo de quarentena. Nós abrimos antes de fechar. Talvez tenhamos o maior número de contaminados, o segundo maior número de mortes e talvez a economia mais arrasada”, comenta a médica.

“Um fator importante para economia é fechar no tempo certo e abrir com segurança, que daí tem mais tempo para recuperar a economia. Esse vai e vem é prejudicial. Falta visão, governança, inclusive para setores empresariais”, critica a especialista.

Estatísticas mostram que dois infectados transmitem o vírus para três pessoas

Dados levantados pelo departamento de Estatística da UFPR mostram que a taxa de transmissão do coronavírus estava em 1,52 no último domingo. Traduzindo, isso significa que cada duas pessoas contaminas está infectando outras três, em média. Além disso, houve um leve aumento na comparação com o domingo da semana anterior, quando essa taxa, chamada de R, estava em 1,48.

Segundo Mirella de Oliveira, os países que reabriram a economia, em sua maioria, tinham R de 1 ou abaixo, o que significa que a doença já estava em fase de supressão. “Agora, quando você abre sem que tenha controle do R, isso [explosão das infecções] está fadado a acontecer”, afirma a especialista. “Houve um comportamento social inadequado, com fila em shopping, loja de departamento, em um momento que não havia supressão de contaminação, o que fez que o R subisse. Infelizmente, as pessoas não tentendem que subiu o R e nas últimas duas semanas [a pandemia] explodiu”, complementa.

Incidência da Covid-19
(casos/100 mil habitantes)

Cascavel: 533,1
Brasil: 516,32
Cornélio Procópio: 464
Cianorte: 326,8
Toledo: 305,76
Londrina: 192,2
Paranavaí: 185,57
Maringá: 170,42
Curitiba: 128,65
Paraná: 126,82

Curitiba passa dos 3 mil casos e tem 114 mortes confirmadas

A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba confirmou, ontem, mais cinco óbitos de moradores da cidade por Covid-19 e outros 147 novos casos confirmados da doença. A cidade já tem 114 mortos pelo novo coranavírus.

O boletim da Secretaria Municipal da Saúde mostra ainda 147 novos casos confirmados da doença em moradores da cidade. Todos os resultados são por teste RT-PCR (padrão ouro). Agora são 3.032 pessoas que testaram positivo na capital paranaense.
“Notamos que as doenças agudas vêm se agravando e os casos de internamentos por síndrome respiratória têm cada vez mais confirmação para covid-19”, disse a médica infectologista Marion Burger, do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde.

Estado
A Secretaria de Estado da Saúde, em informe emitido ontem, divulgou 612 novos casos da Covid-19 e 18 óbitos pela infecção no Paraná. O Estado soma 14.948 diagnósticos confirmados e 460 mortos em decorrência da doença. Há um ajuste de município de residência de caso confirmado.

As 18 pessoas que faleceram estavam internadas. São nove mulheres e nove homens, com idades que variam de 20 a 89 anos. Os óbitos ocorreram entre os dias 16 e 22 de junho. 330 cidades paranaenses têm ao menos um caso confirmado pela Covid-19. Borrazópolis e Espigão Alto do Iguaçu tiveram registro pela primeira vez. Em 118 municípios há óbitos pela doença.

Brasil
O Brasil teve 654 novas mortes por covid-19 confirmadas ontem, de acordo com atualização do Ministério da Saúde. Com esse acréscimo às estatísticas, o país chegou a 51.217 óbitos em função da pandemia do novo coronavírus. O balanço também teve 21.432 novos casos registrados, totalizando 1.106.470.