O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, enfrenta novos pedidos de renúncia de parlamentares do seu próprio partido após a publicação do relatório final sobre o partygate. Três políticos do Partido Conservador disseram ter perdido a confiança no premiê, mas Johnson recusa os pedidos de renúncia.

Segundo a imprensa britânica, os parlamentares John Baron, David Simmonds e Julian Sturdy se juntaram à lista de conservadores que se voltaram contra o primeiro-ministro. Baron disse que o relatório final de Sue Gray pintou “um padrão vergonhoso de mau comportamento durante a pandemia, enquanto o resto de nós seguia os regulamentos da covid-19”.

“Um princípio fundamental de nossa constituição é que podemos confiar que as respostas que recebemos no parlamento são verdadeiras e precisas”, disse Baron em comunicado. E acrescentou que Johnson já não conta com o seu apoio, mas não disse se apresentou uma carta de desconfiança para somar às 54 necessárias para desencadear uma votação contra o premiê.

Já Simmonds disse que era “claro que enquanto o governo e nossas políticas possuem a confiança do público, o primeiro-ministro não”. Outros conservadores devem se manifestar nas próximas semanas sobre o relatório, disse John Stevenson à BBC.

“Após a publicação do relatório completo de Sue Gray, sinto que agora é do interesse público que o primeiro-ministro renuncie”, escreveu o vice-presidente Julian Sturdy em sua conta no Twitter.

O chefe do gabinete do premiê, Stephen Barclay, disse que apenas uma “pequena minoria” estava envolvida na violação das regras e voltou a defender que Johnson não tinha conhecimento da extensão de alguns dos eventos.

“Estamos falando sobre o comportamento de uma pequena minoria de pessoas, muitas vezes quando o primeiro-ministro não estava no prédio ou tarde da noite”, disse ao programa Today da BBC Radio 4.

Total responsabilidade

No relatório final publicado na última quarta-feira, 25, a investigadora Sue Gray descreveu festas movidas a álcool realizadas por funcionários de Downing Street em 2020 e 2021, quando as restrições da pandemia impediram os residentes do Reino Unido de socializar ou visitar parentes doentes ou mortos.

Gray disse que a equipe de alto escalão deve assumir a responsabilidade por “falhas de liderança e julgamento”. O relatório foi concluído em janeiro, mas a polícia decidiu abrir sua própria investigação, obrigando Gray a publicar uma versão editada, omitindo todos os detalhes, para não interferir na investigação.

O primeiro-ministro disse que se sentia “humilhado” e assumiu “total responsabilidade” pelo ocorrido, mas insistiu que agora é hora de “seguir em frente” e se concentrar na abalada economia britânica e na guerra na Ucrânia.

Johnson ainda enfrenta um inquérito de um comitê de ética da Câmara dos Comuns sobre se ele mentiu ao Parlamento quando insistiu que nenhuma regra havia sido quebrada em Downing Street. Espera-se que os ministros que conscientemente enganam o Parlamento renunciem.

O escândalo deixa os legisladores do Partido Conservador em um dilema: eles devem tentar derrubar seu líder em meio a uma guerra na Europa e uma crise financeira, ou ficar com um primeiro-ministro cuja vontade percebida de desrespeitar as regras que ele aplica a outros causou indignação pública.

Mais de 15 legisladores conservadores pediram publicamente a saída de Johnson desde que os relatos de partidos que quebravam o bloqueio começaram a vazar constantemente na mídia. Mas Johnson recusou, dizendo que ainda tem trabalho a fazer no governo.

Sob as regras do partido, um voto de desconfiança pode ser acionado se 15% dos legisladores do partido – atualmente 54 – escreverem cartas pedindo. Se Johnson perder essa votação, ele seria substituído como líder conservador e primeiro-ministro. Não está claro quantas cartas foram enviadas até agora, mas o número está crescendo.

Durante meses, as evidências das festas movidas a álcool vazaram na mídia, forçando Johnson a se desculpar, mudar a equipe em seu escritório e prometer uma redefinição para tentar restaurar sua autoridade.

Pacote de ajuda a famílias

Em meio ao escândalo do partygate, o governo britânico anunciou um pacote de 15 bilhões de libras (US$19 bilhões) para ajudar as famílias mais desfavorecidas a enfrentar a crise inflacionária, parcialmente financiado por um imposto excepcional aos gigantes energéticos.

A oposição trabalhista pedia há semanas ao Executivo que aplicasse um imposto ao setor para ajudar as famílias a enfrentar as faturas energéticas. No entanto, Johnson e seus ministros se opuseram à aplicação desse imposto excepcional, argumentando, como os próprios gigantes da energia, que isso poderia prejudicar o investimento em energia renovável e a transição para a neutralidade de carbono.

Eles argumentavam que o governo já havia destinado 22 bilhões de libras para ajudar os mais desfavorecidos a lidar com a inflação, uma quantia que sindicatos e organizações de combate à pobreza denunciam como insuficientes.

Porém, nesta quinta, um dia depois da publicação do relatório de Gray, o governo de Johnson mudou de posição. Num discurso perante o Parlamento, o ministro das Finanças, Rishi Sunak, assegurou que este pacote de ajuda vai permitir aos britânicos mais desfavorecidos “sentir que o peso da inflação está diminuindo”.

Stephen Barclay negou, em declarações ao canal Sky News, que o momento desses anúncios tenha a intenção de silenciar o escândalo do partygate. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)