A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), com pedido de medida cautelar, a fim de suspender qualquer ato do poder público que autorize ou promova censura a professores no ambiente escolar. De acordo com a PGR, a medida foi motivada pelo crescente número de leis e movimentos que buscam implantar um modelo de ensino que contraria o modelo educacional vigente, definido pela Constituição Federal e regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Entre os movimentos apontados pela PGR, está o “escola sem partido”, que propõe restrições à liberdade de expressão dos professores com base em vedações genéricas e vagas à “doutrinação” política e ideológica. Projetos para restringir discussões nas salas de aulas de escolas públicas vêm sendo apresentados em Legislativos de todo o País por parlamentares de bancadas evangélicas e do grupo político do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Na última segunda-feira, por exemplo, a Assembleia Legislativa paranaense rejeitou projeto que pretendia instituir o “escola sem partido” na rede pública de ensino do Paraná. Proposta semelhante teve a tramitação barrada na Câmara Municipal de Curitiba pela Justiça.
Barreira – Caso seja acatada, a medida pedida pela procuradoria pode suspender a tramitação de projetos dessa natureza em todos os legislativos estaduais, municipais e no Congresso. Segundo a PGR, essas propostas pretendem impor limites à emissão de opiniões político-partidárias, religiosas ou filosóficas, à manifestação de convicções morais, religiosas ou ideológicas eventualmente contrárias às de estudantes, pais ou responsáveis, e à abordagem de questões relacionadas a gênero e sexualidade no ambiente escolar.
De acordo com a procuradora-geral da República, a ação pretende resolver a controvérsia conforme o tratamento conferido à matéria pela Constituição Federal e, com isto, afastar as graves ocorrências, verificadas em âmbito nacional, que colocam em risco a garantia do direito fundamental à educação. “A escola é o espaço estratégico para a construção de uma sociedade de pessoas que se dirigem umas às outras de forma ética, sendo essencial, a tal propósito, a abordagem de questões como gênero, identidade de gênero e orientação sexual”, defendeu Dodge.