Rayany Gonçalves/ Divulgação

Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estudaram e descreveram uma nova espécie brasileira de perereca, a Pithecopus gonzagai, nordestina tal qual o músico Luiz Gonzaga, homenageado pelos cientistas que participaram da investigação. Estudos bioacústicos, morfológicos e genéticos foram realizados por uma equipe multicêntrica, que publicou os achados no European Journal of Taxonomy. O professor Daniel Pacheco Bruschi, do Programa de Pós-graduação em Genética, liderou o estudo, que conta também com a participação do doutorando Johnny Sousa Ferreira e de pesquisadores da Unicamp e da Universidade Federal de Uberlândia. O trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

A dupla da UFPR é responsável pela análise genética. Eles fizeram testes de delimitação de espécies utilizando amostras de sequências de DNA e as comparando, para identificar a variação genética com relação a uma espécie-irmã, o P. nordestinus. A perereca descrita no estudo se diferencia de outras do gênero pelo tamanho pequeno, menor largura da cabeça e ausência de um padrão reticulado de coloração nos flacos. Ela também tem uma menor distância do olho até a narina.

A história é atravessada por um rio:  o grandioso Rio São Francisco (RSF), tradicionalmente chamado de “velho Chico”.  “Este importante rio teve um papel central na história evolutiva da nova espécie, bem como da sua espécie-irmã. Alterações no seu curso há milhares de anos causaram um isolamento geográfico entre as populações ancestrais”, explicam os cientistas, em texto de divulgação que circula no Whats App

Bruschi explica que seu grupo de pesquisa já estava estudando as espécies de anfíbios há anos, com indicativos genéticos de que as populações mais ao norte do Nordeste poderiam ser diferente das populações do Sul. Em 2019, ele publicou um estudo que identifica o rio como a principal barreira de isolamento das populações, com análises no tempo e no espaço, relacionando-os as mudanças históricas no curso do rio. Este processo é chamado de evento vicariante – quando uma barreira física separa as populações antes conectadas. “Nós observamos, atualmente, o P. gonzagai ao norte do rio e o P. nordestinus ao sul”, registram os cientistas.

De acordo com o professor, o primeiro estudo identificou o rio como barreira e delimitou, entre outras coisas, há quantos mil anos as espécies surgiram. “Agora, nós combinamos a morfologia com trabalhos de outras ferramentas, como a bioacústica, e com sequências de DNA, para chegar a conclusão de que são espécies distintas”. Com a bioacústica, por exemplo, foi possível esudar o som emitido na vocalização da perereca, já que as espécies se reconhecem entre si por meio desse sinal.

A nova espécie foi apresentada, de forma lúdica, em um videoclipe  da banda Papo de Sapo, responsável por materializar, com a poesia do baião, a descoberta da ciência. Daniel Gonzaga, neto do Gonzagão e filho do Gonzaguinha é quem canta a história de um bicho novo no Norte, a Pithecopus gonzagai. “Essa é mais uma união entre a cultura e a ciência brasileiras. Duas pedras preciosas que todo brasileiro deveria ter muito orgulho”, registra o texto de divulgação.