SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O “plano Dubai”, anunciado pelo governo federal no dia 10 de junho, foi criticado no seminário Zona Franca de Manaus, promovido pela Folha de S.Paulo na segunda-feira (24), no auditório do jornal, com apoio do Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas).


A proposta, apresentada pela Secretaria de Produtividade, Emprego e Competitividade, prevê estimular cinco polos econômicos na região: biofármacos, turismo, defesa, mineração e piscicultura. O principal objetivo é encerrar no futuro os incentivos fiscais dados à zona franca.


O prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB-AM), criticou a forma como o plano foi divulgado. Segundo ele, há o risco de se desencorajar investimentos na região ao passar a impressão de ser uma alternativa ao modelo da zona franca.


“O plano Dubai é bom desde que venha para complementar e não para substituir a zona franca. Seria tolo se fosse isso”, declarou.


O prefeito afirmou também que é preciso pensar nas áreas a serem estimuladas. “Minério? Será que não pensamos nisso antes porque somos burros ou porque há graves consequências ambientais?”


O professor de administração da UFAM (Universidade Federal do Amazonas) Maurício Brilhante de Mendonça disse ver com bons olhos a proposta do governo por trazer à tona atividades de forte presença local, como o extrativismo e a piscicultura.


“Essas alternativas existem e precisam ser implementadas passo a passo até 2073 [ano até o qual estão previstos os incentivos fiscais da região]”, afirmou.


Para Virgílio, a busca por alternativas para o desenvolvimento econômico da Amazônia depende de um interesse maior do brasileiro pela nossa principal floresta, que desperta preocupação mundial pelos recursos naturais que guarda —parte deles ainda não contabilizados por falta de pesquisa científica.


“Imagine se a floresta amazônica fosse na Alemanha… O Brasil insiste na burrice de ser um país pobre que não aproveita sua última fronteira possível de desenvolvimento”, disse.


Segundo o prefeito, sem a zona franca, a alternativa para quem vive na região será avançar sobre a floresta para explorar. “Poderíamos entrar na indústria 4.0 usando a estrutura que já existe na Amazônia. Temos que adensar nossa capacidade intelectual para darmos os passos seguintes. Não podemos nos conformar em ser um povo de pobres cercado por tantas riquezas”, afirmou.


André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, disse que o cenário econômico e a atuação do governo Bolsonaro são desfavoráveis para o modelo da zona franca.


“Do ponto de vista econômico, Paulo Guedes [ministro da Economia] vê com indiferença a zona franca. Para o ministro, ela é uma distorção.”


Os incentivos fiscais devem contar com complementos que injetem dinamismo na região, e os investimentos, nesse contexto, devem ser orientados, segundo Perfeito. Mas não existe, no governo atual, a intenção de agir dessa maneira, de acordo com o economista.


O comportamento do governo em outras áreas, como a educação, sinaliza que o tão sonhado desenvolvimento da Amazônia pode levar ainda mais tempo do que o esperado, disse Perfeito. “Como vamos criar um polo de tecnologia ali se já sabemos que o governo federal não vai investir em universidade?”


“Não temos nenhum curso superior de engenharia de minas no estado do Amazonas, e só temos um curso de engenharia naval”, lembrou Mendonça, professor da UFAM.


Áreas sensíveis para o crescimento sustentável, como a biotecnologia, que pode auxiliar na criação de produtos com técnicas de extrativismo consciente, dependem de investimento para se desenvolverem ali, segundo o professor.


Para o economista André Perfeito, as pessoas estão distantes da Amazônia e falta incentivo para que pesquisadores e empresários tenham interesse pelo lugar.


“Concordo quando o prefeito Arthur Virgílio ressalta a importância mundial da floresta. Talvez os brasileiros devessem fazer como os muçulmanos que vão, pelo menos uma vez na vida, a Meca: cada um de nós deveria visitar uma vez a Amazônia.”