ALFREDO HENRIQUE

PORTO FERREIRA, SP (FOLHAPRESS) – Um policial militar de 20 anos que estava embriagado é acusado de matar um vendedor durante uma briga em um posto de gasolina em Porto Ferreira (a 228 km de São Paulo), na madrugada da última segunda-feira (14).

A vítima, o vendedor William Carlino Fadel, 39, foi morto com dois tiros. O soldado, que estava de folga, foi preso sob suspeita de homicídio qualificado (motivo fútil), além de também ser indiciado por embriaguez ao volante e por tripla tentativa de homicídio, ao colidir contra um carro ocupado por duas mulheres e uma criança.

Segundo o delegado Eduardo Henrique Palmeira Campos, o policial militar chegou visivelmente embriagado à loja de conveniência do posto. “O soldado abriu uma garrafa de cerveja usando uma pistola.”

O soldado saiu da loja, abasteceu seu carro, um Hyundai Tucson preto, vomitou em público e estacionou o veículo perto da vítima, segundo a versão policial. Por causa disso, o vendedor chamou a mulher, que estava na loja, “para evitar confusão”.

O soldado foi tirar satisfações e foi empurrado por Fadel, diz a polícia. Em seguida, sacou a arma e atirou no rosto e abdome da vítima, que morreu no local. O soldado fugiu em seguida.

PMs que faziam ronda na região ouviram os tiros e perseguiram o suspeito. No km 215 da rodovia Anhanguera, o soldado colidiu contra um Fiat Palio, que estava parado em uma cancela do pedágio de Pirassununga. O carro, ocupado por três vítimas, foi arrastado por 40 metros.

Mesmo com o sistema de airbags acionado, o PM ainda trafegou por mais oito quilômetros, quando perdeu o controle do veículo, parando no canteiro central da rodovia, onde foi preso.

Fadel foi sepultado nesta quarta (16) no Cemitério Cristo Rei, de Porto Ferreira. A Secretaria Estadual de Segurança Pública e a PM foram questionadas, mas não se manifestaram.

OFENSA À FARDA

Nesta semana, o governador paulista, Márcio França (PSB), disse que aquele que ofender a farda da Polícia Militar, ofender a integridade policial, está correndo risco de vida.

“As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser”, afirmou o governador.

França contrariou estratégia da Polícia Militar ao organizar uma cerimônia em homenagem à cabo Katia da Silva Sastre, 42, que matou um ladrão durante tentativa de assalto em frente a uma escola em Suzano, na Grande São Paulo.

O ato oficial de enaltecimento à reação da policial com morte do bandido pode passar mensagem equivocada à tropa e à população de incentivo às pessoas reagirem a assaltos -na contramão da orientação da polícia. Outra é que a morte de ladrões seja vista pela corporação como algo incentivado pelo governo, após a escalada nos últimos anos do número de mortos pela polícia -alta de 10% em 2017, com 943 casos, recorde desde 2001.

Tudo isso mesmo que a atitude da cabo tenha sido correta diante do risco no caso específico.

“É claro que a gente gostaria que não acontecessem casos assim, mas quando acontecem casos como este, eu fiz questão de elogiar. Acima de tudo, como mãe, ela deu um exemplo para a sociedade. Os jornais podem criticar, eu respeito quem critica, mas a maioria de São Paulo elogiou e acha que está correto, que a atitude da moça foi decente”, disse o governo no interior paulista.

“Quando um médico, a polícia, um político fazem coisas erradas, a gente não tem que criticar? Do mesmo jeito, quando fazem uma coisa certa, que é acima da obrigação, a gente tem que elogiar. Não custa nada elogiar. A PM é o único setor público em que, quando falham, são identificados. Em qualquer lugar que eles andam, sabem que são policiais. Então são vulneráveis”, acrescentou França.

As afirmações de França remetem a declaração do então governador Geraldo Alckmin (PSDB), em 2012, sobre uma ação da PM que terminou com nove mortos no interior de SP. “Quem não reagiu está vivo”, declarou o tucano na ocasião.