A cada dois dias, um policial militar é expulso da corporação, no Rio.
Foram 1.716 policiais excluídos entre 1999 e 2009, segundo dados da
Corregedoria da Polícia Militar. Só nos últimos dois anos, quando 313
PMs foram expulsos, a ouvidoria do Ministério Público Estadual recebeu
212 denúncias a respeito de desvios de conduta deles.

“A corrupção policial está institucionalizada, é endêmica e é reflexo
da corrupção política. É o resultado da escolha histórica de manter a
ordem de maneira absolutamente violenta”, afirmou o deputado estadual
Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa.

Para o sociólogo Gláucio Dylon Soares, professor do Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), é imprescindível
o fortalecimento da ouvidoria como forma de combate às más práticas
policiais. “A corrupção policial acontece com demasiada frequência.
Isso ocorre porque é a cultura da instituição, que permite isso.”

Soares diz, no entanto, que é possível combater “essa falta de ética
extrema e chocante”. Ele cita o caso de Nova Orleans, “que foi exemplo
emblemático de corrupção policial”. “A cidade fez um concurso público
nacional, contratou um profissional que promoveu demissões na polícia e
reduziu em muito os índices de corrupção policial.”

Já o sociólogo Fabiano Monteiro, coordenador do curso de aprimoramento
da prática policial cidadã da ONG Viva Rio, acredita que o desvio de
conduta do policial está ligado à dificuldade da corporação de
transmitir valores para os seus homens. “É preciso que cabos e soldados
tenham introjetado qual é o papel da polícia.”

Em sete anos, 12 mil policiais passaram pelo curso. “Entre aqueles que
têm mais tempo de corporação, a mudança de postura é vista como algo
impraticável. Aqueles que estão há menos tempo na corporação não foram
contaminados por essas práticas”, afirmou o sociólogo, que inicia no
ano que vem estudo sobre a conduta dos policias que passaram pelo
curso, como forma de avaliar o efeito das aulas.