GOIÂNIA, GO (FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de Goiás apreendeu nesta terça-feira (18) cinco armas de fogo e o equivalente a R$ 405 mil em dinheiro na casa de João Teixeira Farias, o João de Deus, em Abadiânia (GO). O material estava escondido em várias partes do quarto do médium, entre elas o fundo falso de um guarda-roupa.

A quantia estava distribuída em malas e no esconderijo do armário. Havia cédulas de várias moedas, incluindo reais, dólares americanos e canadenses, pesos argentinos, euros e francos suíços.

Já as armas, todas sem registro, estavam num baú, numa gaveta e numa caixa. Trata-se de dois revólveres de calibre 32 e um de 38, uma pistola 380 e uma garrucha, esta última com numeração raspada.

Havia ainda munições diversas, entre elas algumas de uso exclusivo do Exército, e uma arma de brinquedo.

O delegado-geral de Goiás, André Fernandes, disse que o médium vai responder por posse ilegal de armas de fogo. A origem do armamento, bem como do dinheiro, ainda vai ser investigada.

A delegada Karla Fernandes, coordenadora da força-tarefa que apura os supostos abusos sexuais cometidos por João de Deus, afirmou ser plausível que a fonte dos recursos sejam doações de fiéis, o que, segundo ela, não precisa der declarado ao Fisco. Segundo registros contábeis, só a livraria mantida pelo médium girava R$ 500 mil por mês.

As buscas em três endereços, entre eles a Casa Dom Inácio de Loyola, local dos atendimentos de João de Deus, levaram mais de quatro horas. Peritos do Instituto de Criminalística usaram substância que serve para detectar material genético, como sangue e sêmen, no recinto em que, segundo mulheres denunciantes, ocorriam as violações.

A defesa de João de Deus não se manifestou especificamente sobre as armas e o dinheiro apreendido. Ela disse que seu cliente tem R$ 34,2 milhões em sua conta bancária no Itaú de Anápolis (GO). Em nota, o advogado Alberto Toron contestou a informação da Promotoria de que o médium movimentou a quantia.

Nesta quarta (19), o ministro Nefi Cordeiro, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), negou pedido da defesa de João de Deus para soltá-lo –o habeas corpus já havia sido negado no dia anterior pelo Tribunal de Justiça de Goiás.

A prisão preventiva do médium foi decretada na sexta (14). Ele ficou escondido num sítio na zona rural de Abadiânia até se entregar no domingo (16) e ser levado para a prisão em Aparecida de Goiânia.

No pedido de libertação, o advogado Alberto Toron havia argumentado que João de Deus sofre constrangimento ilegal, pois a prisão teria sido decretada "sem comprovação concreta da necessidade de se garantir a ordem pública pela gravidade dos crimes, a incerteza para a instrução criminal e aplicação da lei penal máxima porque não existem provas concretas de que o paciente teria abusado sexualmente das vítimas".

Até sexta (21), a polícia espera concluir o primeiro inquérito do caso João de Deus. Ele deve ser indiciado sob suspeita de posse sexual mediante fraude, cuja pena é de até seis anos de reclusão em regime fechado, por suposto abuso de uma mulher que procurou atendimento em outubro.

Ela disse aos policiais que João de Deus a levou para o quarto de atendimentos individuais e a massageou na região sob o ventre, com a justificativa de dissipar uma energia ruim. Em seguida, teria notado que o médium estava com o pênis de fora. Segundo as investigações, ele ofereceu um quadro religioso à mulher e a presenteou com uma pedra.

FBI procura polícia de Goiás para troca de dados sobre médium

O FBI, espécie de Polícia Federal americana, e a embaixada dos Estados Unidos entraram em contato com a Polícia Civil de Goiás para trocar informações sobre supostos abusos sexuais de mulheres cometidos por João de Deus.

Conforme investigadores do caso, as autoridades dos EUA receberam denúncias de mulheres daquele país que teriam sido molestadas. Também querem obter dados sobre os casos de americanas reportados no Brasil à polícia e a Promotorias de estados diversos.

Por ora, há relatos envolvendo mulheres de seis países, além do Brasil. Além dos EUA, os casos se referem a mulheres de Alemanha, Austrália, Bélgica, Bolívia e Suíça.

A Polícia Civil de Goiás informou que ainda não está definida como será a atuação do FBI. Uma reunião com representantes da embaixada americana, em Brasília, foi acertada para a semana que vem.

"A embaixada manifestou interesse em uma reunião em Brasília por causa de algumas manifestações que eles receberam lá e para denotar se há cidadã americana como vítima", disse o delegado-geral de Goiás, André Fernandes.