Franklin de Freitas – Cobra-papagaio

A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), da Polícia Civil, está tendo um ano agitado em 2019. Segundo o delegado Matheus Laiola, mais de 500 animais silvestres já foram resgatados/apreendidos apenas neste ano em Curitiba e região metropolitana. O caso mais recente foi registrado nesta segunda-feira (26), quando três aranhas tarântulas, cinco cobras (duas pítons, duas cobras-papagaio e uma suaçuboia) e uma coruja foram apreendidas no bairro São Gabriel, em Colombo.

Na ocorrência, um rapaz de 21 anos, que trabalha numa grande rede de pet shop, acabou sendo detido. Ele foi autuado por manter animal silvestre em cativeiro, crime que pode lhe render, se condenado, até um ano de prisão, além do pagamento de multa. Já os animais apreendidos foram encaminhados ao Centro de Apoio à Fauna Silvestre, que possui convênio com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) para fins de tutela desses animais.

Os animais apreendidos, explica Laiola, provavelmente foram comprados no mercado paralelo, uma vez que não tinham documentação e o rapaz não possuía autorização do Ibama. “Nesse caso, excepcionalmente, eles (animais) estavam bem. Era um local pequeno, mas não havia os maus tratos. Deveria ser um local maior, mas não estavam sem comer ou coisa do tipo”, explica Laiola.

Ainda segundo o delegado, durante as operações deste ano a polícia já se deparou comanimais oriundos dos Estados Unidos, da floresta Amazônica e de diversas outras localidades. “Cada situação tem sua peculiaridade. Nesse caso, ainda não sabemos de onde vieram os animais, mas até o final da investigação vamos descobrir. Ele tem uma cobra avaliada em R$ 15 mil e uma coruja linda avaliada em R$ 2 mil”, afirma.

Ao menos por enquanto, contudo, não há indícios da atuação de uma grande organização criminosa voltada para o tráfico de animais na cidade, mas sim alguns pequenos grupos que atuam à margem da lei e lucram – e muito – com o tráfico. “Eles disseminam em rede social, internet, grupos de Whatsapp.Não existe uma grande organização, mas pequenos grupos que vivem disso. Um macaco prego, por exemplo, pode ser vendido por mais de R$ 50 mil.”

Embora afirme que não exista uma espécie ou um tipo de animal que possa ser apontado como mais visado pelos traficantes, Laiola ressalta que nos últimos tempos têm chamado a atenção os casos envolvendo a cobra píton. “A gente tem apreendido bastante píton, uma serpente. Esses tempos (em abril) apreendemos uma de quase seis metros de comprimento. Na operação de hoje, apreendemos outra com quatro metros.”

Com diversidade de espécies, Brasil é um dos alvos de traficantes

De acordo com a Rede Nacional contra o Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS), o Brasil é hoje um dos principais alvos dos traficantes da fauna silvestre devido a sua imensa biodiversidade – o país abriga 10% dos 1,4 milhões de seres vivos catalogados no planeta. Mundialmente, aponta ainda a rede, o tráfico de animais movimenta de 10 a 20 bilhões de dólares por ano, o que coloca o tráfico de animais como a terceira maior atividae ilícita do mundo, atrás apenas do tráfico de drogas e de armas.

Ainda de acordo com o Renctas, há no território nacional quadrilhas organizadas e especializadas nesse tipo de tráfico, com atuação mais forte, principalmente, em lugares que há grande biodiversidade e baixo desenvolvimento social-econômico – casos,por exemplo, da região Norte, Nordeste e do Pantanal. Os capturadores ou caçadores, inclusive, costumam ser pessoas muito pobres que conhecem o habitat dos animais, diz o Renctas. Depois de capturado, porém, o animal ainda passa por vários intermediários até chegar aos grandes comerciantes, que ficam principalmente, no eixo Rio – São Paulo.

Animais são vendidos por até R$ 240 mil no mercado paralelo

Um estudo do RENCTAS ainda mostra que o tráfico da fauna silvestre brasileira se divide em três objetivos distintos. Um deles é a captura de animais para colecionadores particulares e zoológicos, considerado o mais cruel dos tipos de tráfico da vida selvagem, já que prioriza espéciesmais ameaçadas de extinção — quanto mais raro o animal, maior o seu valor de mercado. Uma arara-azul-de-lear, por exemplo, é avaliada em US$ 60 mil dólares (cerca de R$ 240 mil). Além desse grupo, há ainda aqueles que capturam animais para fins científicos, ou seja, focam em espécies que fornecem a química base para a pesquisa e produção de medicamentos. Animais visados neste casoi são jararaca, urutu, coral, aranha-marrom e outros, que têm substâncias extraídas para serem vendidas por grama.