Valquir Aureliano – Polícia em frente de escola no Boqueirão

No último dia 13, a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, no interior de São Paulo, foi palco de um dos mais violentos atentados da história do Brasil. Dois ex-alunos invadiram a instituição e abriram fogo, matando cinco estudantes e duas funcionários. Menos de um mês depois, a ação repercute no Paraná por meio de uma onda de ameaças, que já levam a Polícia Militar (PM) a reforçar o policiamento nas instituições de ensino.

Segundo informou o setor de comunicação da corporação, desde janeiro existe a proposta de reforçar a atuação policial dentro das escolas por meio de ações preventivas, como policiamento ostensivo e a realização de palestras que visam combater o bullying e a cultura do ódio. Depois do atentado no interior de São Paulo, contudo, a implementação da iniciativa teria sido acelerada.

Embora não divulgue o número de ocorrências atendidas ou de procedimentos realizados, a PM também informa que diariamente tem realizado ações de patrulhamento e ressalta ter reforçado as atuações preventivas principalmente nas escolas que já sofreram ameaças – tais instituições, contudo, não são divulgadas por uma questão de segurança. A corporação, porém, garante que todos os casos denunciados são investigados.

De toda forma, um levantamento feito pelo Bem Paraná com base em notícias divulgadas por toda a imprensa paranaense revela que, desde o atentado em Suzano, ocorrido há 28 dias, foram registrados pelo menos 14 casos de ameaças contra escolas paranaenses.

Os dois casos mais recentes, inclusive, ocorreram em Curitiba. Na última segunda-feira, um aluno teria mudado o nome da rede wi-fi do Centro de Educação Profissional do Paraná (CEEP), no bairro Boqueirão, para “Massacre do dia 10”. O episódio teria sido uma piada de mau gosto de um aluno, mas as fotos mostrando a mudança no nome da rede circularam pelo WhatsApp graças a um print feito por outro estudante e geraram pânico, com muitos estudantes faltando às aulas mesmo em semana de prova – o número de faltas tiveram aumento de 30% no dia de ontem.

UFPR
Já a Universidade Federal do Paraná (UFPR), assim como outras instituições de ensino superior pelo Brasil, recebeu uma mensagem contendo ameaças de atentado no dia de ontem. Diante disso, foi acionado preventivamente a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), polícias Federal e Militar, bem como o Núcleo de Combate Aos Ciber Crimes, da Polícia Civil.

Os vigilantes também foram alertados e houve um pedido de reforço na segurança interna, ao passo que uma equipe interna apoia as investigações nas apurações sobre quem é o autor das mensagens (se é algum membro interno ou externo à instituição).

Secretaria da Educação se posiciona

A Secretaria da Educação do Paraná esclarece que não ocorreu nenhum episódio de violência em Colégios Estaduais do Paraná decorrentes de supostas ameaças disseminadas principalmente via redes sociais e divulgadas pela imprensa no último mês.

A Secretaria também reforça que todas as escolas conhecem e cumprem os protocolos de segurança conforme o manual de Orientações Práticas de Segurança para Instituições de Ensino desenvolvido pela Superintendência em parceria com o Batalhão da Polícia Escolar Comunitária (BPEC), da Polícia Militar.

A Secretaria observa que as equipes pedagógicas de cada escola são acompanhadas e orientadas pelos Núcleos Regionais de Educação, de modo a atender prontamente qualquer situação que possa representar algum risco para os alunos e funcionários.

Por fim, reforça a importância de que o trabalho de combate à violência no âmbito escolar continue sendo realizado de forma coletiva e com responsabilidade pelas escolas, pais, imprensa e comunidade.

Segurança nas Escolas

As escolas da rede estadual são atendidas pelo Programa Patrulha Escolar Comunitária, uma parceria entre a Polícia Militar do Paraná, por meio do Batalhão da Patrulha Escola Comunitária (BPEC), e a Secretaria da Educação do Paraná. A finalidade do programa é desenvolver a rede de proteção à criança e ao adolescente por meio de ações preventivas, que compõem 97% das atividades desenvolvidas no programa, e quando estritamente necessário, ações repressivas. Mesmo nestes casos, a atuação da Patrulha Escolar Comunitária busca congregar e envolver a escola e a família no processo de resolução do problema em questão.

Conduta dos estudantes

Quando a conduta do estudante ultrapassa a indisciplina e passa a ser tipificada como ato infracional, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a equipe gestora da instituição de ensino segue os procedimentos do manual Orientações Práticas de Segurança para as Instituições de Ensino, elaborado pela Secretaria da Educação do Paraná e Batalhão da Patrulha Escolar Comunitária.

De acordo com a situação, em um primeiro momento a instituição de ensino entra em contato com os pais ou responsáveis do estudante, o Conselho Tutelar, o Batalhão da Patrulha Escolar Comunitária ou a Polícia Militar do Paraná. Na continuidade do atendimento ao estudante, é acionada a Rede de Proteção, que inclui o Conselho Tutelar, Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal de Políticas Públicas sobre Drogas, Comitês Municipais e Regionais de Saúde Mental, Delegacias do Adolescente, Delegacias Especializadas, Delegacias Regionais, Unidades de Saúde, Centro de Atenção Psicossocial, Centro de Referência de Assistência Social, Centro de Referência Especializada de Assistência Social, Promotoria da Infância e Juventude, Polícia Militar, Conselhos de Segurança, Associação de Moradores, Comunidades Terapêuticas, Instituições de Ensino e Núcleos Regionais de Educação.

Escola Segura e outros programas

Em 2019 terá início o programa de governo Escola Segura, que prevê a capacitação de policiais militares da reserva para atuação em colégios estaduais, em atividades que previnam ou reprimam situações de violência e insegurança, em conjunto com as ações do Batalhão da Patrulha Escola Comunitária (BPEC). Na primeira etapa de implementação, que deverá acontecer ainda no primeiro semestre, 200 policiais começarão a atuar em 100 escolas de Foz do Iguaçu, Londrina e Região Metropolitana de Curitiba.

Atualmente as escolas da rede estadual já são atendidas pelo Programa Patrulha Escolar Comunitária, uma parceria entre a Polícia Militar do Paraná, por meio do Batalhão da Patrulha Escola Comunitária (BPEC), e a Secretaria da Educação do Paraná. É fundamental que os profissionais da Educação construam uma relação de confiança e parceria com o Policial Militar integrante do BPEC, o que resulta em um trabalho coeso e eficiente no ambiente escolar.

Desde 2012, está em atividade no Paraná o programa Brigadas Escolares – Defesa Civil na Escola. A iniciativa visa construir na rede estadual de ensino uma cultura de prevenção, com a formação de brigadas escolares em todas as escolas, e adequar as edificações escolares às normas de prevenção contra incêndio e pânico.

As ações do Programa são divididas em três eixos: criação das brigadas escolares e capacitação dos brigadistas; elaboração dos planos de abandono de cada escola e treinamentos com simulações; adequação dos prédios e instalação de equipamentos de segurança. As escolas que cumprem todas as exigências de segurança estabelecida pelo programa recebem anualmente o Certificado de Conformidade do Programa Brigada Escolar.

A Secretaria da Educação também é parceira da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no projeto Aprendendo a Conviver, de segurança escolar e combate ao bullying. O projeto inclui a elaboração de um plano de ação para cada escola participante, capacitação de professores, encontros nas escolas com tutores, e uma plataforma digital formada por uma série de videoaulas.

Em 2018 o Aprendendo a Conviver aplicou questionários a cerca de 22 mil estudantes de 122 escolas estaduais e municipais de Curitiba, Colombo, Pinhais, Piraquara e São José dos Pinhais com o objetivo de gerar um relatório estatístico com informações sobre as percepções dos alunos no que se refere à segurança escolar e ao bullying.

Prevenção ao Bullying

A Secretaria da Educação publicou em março a Orientação n.º 06/2019 – SEED/SUED, com recomendações quanto à necessidade de sensibilização da comunidade escolar no sentido de estabelecer medidas de proteção e de prevenção contra o bullying.

AMEAÇAS RECENTES EM ESCOLAS

Quinta do Sol – 14/03
Menos de um dia após o atentado em Suzano, a Polícia Militar atendeu uma ocorrência em Quinta do Sol, na região central do Paraná, onde um adolescente de 15 anos teria ameaçado um grupo de alunos após um desentendimento durante o intervalo. Os estudantes aemaçados disseram que o rapaz estaria armado, mas o objeto não foi encontrado e o rapaz fugiu antes da chegada da polícia.

Coronel Vivida – 18/03
Um homem publicou ameaças nas redes sociais contra escolas, creches, hospitais, asilos e mercados de Coronel Vivida, no sudoeste paranaense. Por conta do episódio, muitos pais foram buscar seus filhos na escola, com receio de que as ameaças se concretizassem. O suspeito, no entanto, se apresentou espontaneamente à Justiça e foi liberado após prestar esclarecimentos, apagar as mensagens em tom de ameaça e pedir desculpas públicas pelo transtorno causado.

Jaguariaíva – 19/03
A comunidade acadêmica de um colégio estadual em Jaguariaíva, na região central do Paraná, realizaram uma passeata até a Câmara Municipal protestando contra casos de violência envolvendo alunos e professores da instituição, além da ameaça de um atentado semelhante ao ocorrido em Suzano. O autor das ameaças seria um ex-estudante da instituição de 19 anos, que estaria aterrorizando professores e alunos do colégio.

Ponta Grossa – 21/03
Uma carta ameaça a “maior execução de alunos já vista em todo o mundo” foi encontrada no banheiro de um campus da Universidade Estadual de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais. A Polícia Civil investiga o caso, enquanto a PM reforçou o policiamento na instituição, cujos alunos, professores e direção entraram em alerta máximo após a ameaça.

Maringá – 21/03
Um adolescente de 16 anos foi apreendido dentro de um colégio de Maringá, no norte do Paraná, acusado de incitação ao crime. Segunco o Batalhão de Patrulha Escolar Comunitário (BPEC), o aluno teria ameaçado um ataque à escola em postos numa rede social, tendo inclusive postado fotos em que aparece armado. Em um dos posts, escreveu: “O bullying termina quando os tiros começam. Todos os meninos com seus tênis bonitos, é melhor correr bem mais rápido do que minha arma.”

Ibiporã – 22/03
Mensagens enviadas por alunos de uma escola de Ibiporã, no norte do Paraná, davam conta de um ataque no local. COmo os jovens não foram às aulas no dia e as informações se espalharam rapidamente pela escola, houve uma situação de pânico, inclusive com diversos pais de alunos indo até a frente do colégio. Localizado, o adolescente suspeito disse que tudo não passou de uma brincadeira.

Fazenda Rio Grande – 25/03
Um adolescente alertou colegas pelo WhatsApp que realizaria um ataque num colégio de Fazenda Rio Grande, na RMC. O rapaz também publicou fotos segurando armas de fogo, o que levou amigos a pedirem para que ele não fizesse nada. O suspeito é filho de policial militar e foi apreendido em sua cara armamentos diversos, enquanto a GUarda Municipal reforçou o patrulhamento nas imediações do colégio.

Cascavel – 25/03
Em Cascavel, no oeste do Paraná, uma ameaça de ataque foi postada nas redes sociais, o que levou muitos pais a não levarem seus filhos para as aulas. A Polícia Militar, contudo, reforçou a ocorrência e iniciou a apuração do episódio, provavelmente outra “brincadeira”.

Rolândia – 27/03
Em Rolândia, no norte do Paraná, estudantes encontraram em uma carteira desenhos que ameaçavam a realização de um massacre na escola. As imagens mostram duas pessoas com o rosto coberto por um lenço, uma delas empunhando uma arma, e traziam ainda mensagens como “Um tito pra cada cabeça, uma bomba para todos! AVISO REAL” e “Quarta-feira dia 27/03/2019 vão todos morrer!”. A mensagem teria sido escrita e desenhada por algum aluno do 1º ano e, por precaução, a PM reforçou o policiamento na instituição.

Almirante Tamandaré – 28/03
Estudantes encontraram ameaças de morte no banheiro de uma escola da RMC e o caso viralizou nas redes sociais, com fotos da mensagem escrita na parede com caneta vermelha. Uma determinada aluna da instituição, inclujsive, foi ameaçada diretamente. Com a repercussão, muitos pais foram buscar seus filhos na escola antes mesmo de as aulas acabarem.

Ponta Grossa – 02/04
Um adolescente de 14 anos teria publicado fotos ameaçando cometer um atentado numa escola de Ponta Grossa, além de ter feito apologia a ações criminosas ocorridas recentemente no Brasil. O rapaz foi localizado pela Polícia Militar e seu computador foi apreendido após ser encontrado material suspeito, cujo teor não foi divulgado.

Imbaú – 03/04
Três adolescentes mascarados e portando um machado invadiram um colégio em Imbaú, na região dos Campos Gerais. Eles desligaram um disjuntor, deixando a escola sem luz, e dentro da instituição danificaram carteiras, portas e o quadro menos de pelo menos uma sala. Os três suspeitos são alunos da escola e foram localizados e apreendidos a poucos quilômetros do local.

Curitiba – 10/04
Na última segunda-feira, um aluno mudou o nome da rede Wifi de um colégio no bairro Boqueirão, em Curitiba, para “Massacre no Dia 10”. O print feito por um outro estudante mostrando a situação viralizou nas redes sociais e causou alvoroço, levando muitos estudantes a faltaram às aulas de ontem, mesmo numa semana de provas.

Curitiba – 10/04
A UFPR acionou a ABIN e as Polícias Federal, Militar e Civil após receber mensagens que ameaçavam um atentado na instituição. Foi solicitado o reforço na segurança interna dos campus e agora a instituição, com o apoio da polícia, tenta identificar o autor das ameaças.