Divulgação – Na foto

Mais uma morte relacionada às eleições. Na noite de ontem (27 de outubro) um jovem de 23 anos foi morto a tiros durante uma carreata a favor do candidato Fernando Haddad (PT) em Pacajus, na Grande Fortaleza. Charlione Lessa Albuquerque, 23, estava em um automóvel com a mãe quando foi baleado por homens que desceram armados de outro veículo.

A informação foi confirmada pela Secretaria de Segurança Pública do Ceará. O rapaz, que não possuía antecedentes criminais, participava de uma carreata, quando foi atingido a tiros por um homem, que se aproximou em um veículo Gol de cor branca e fugiu logo após o crime. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu antes de chegar ao hospital.

Charlione é filho da Trabalhadora da CNTRV/CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Vestuário da CUT), Maria Regina Lessa. A carreata seguia em "clima pacífico e descontraído" quando a vítima foi atingida por disparos de arma de fogo deflagrados por um eleitor de Jair Bolsonaro (PSL), que teria atentado contra a manifestação.

"Após os disparos, o assassino bradou orgulhoso o nome de Bolsonaro", informou a confederação, por meio de nota.

Já são mais de 113 casos registrados em todo o país

Dados levantados pelo Bem Paraná por meio de denúncias apresentadas via Mapa da Violência Eleitoral e casos noticiados pela imprensa indicam que desde o dia 1º de outubro já são pelo menos 113 casos de violência eleitoral registrados em todo o país, sendo que 11 desses episódios ocorreram no Paraná. 

As agressões são de todo o tipo (verbal, física e até mesmo sexual) e atinge majoritariamente a população LGBT (em 85% dos casos, com 96 ocorrências). Com relação ao sexo, a maior parte das vítimas são mulheres (57,5%, com 65 registros). 

Chama a atenção, ainda, o fato de na grande maioria dos casos os suspeitos das agressões serem identificados como eleitores de Jair Bolsonaro (PSL) ou antipetistas. No caso paranaense, por exemplo, todas as onze ocorrências são desse tipo. Já em todo o país, o percentual é de 85%.  Além disso, há seis registros de agressões contra eleitores do candidato do PSL e em outras 10 ocorrências o posicionamento ideológico e eleitoral dos agressores não fica claro (mas sete desses casos foram perpetrados contra homossexuais).

Pleito ficará marcado pela violência, dizem especialistas

Assassinatos, lesões, ameaças e ofensas fizeram destas eleições as mais violentas da história, dizem especialistas em segurança.

"É o pleito em que o tema esteve mais presente, tanto no número de agressões quanto nos discursos", diz Renato Sérgio de Lima, 48, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

"A polarização levou pessoas a quererem impor verdades à força. Isso é ruim para todos, pois no dia seguinte teremos que conviver", diz Elisandro Lotin de Souza, 45, sargento da Polícia Militar de Santa Catarina e presidente da Associação Nacional de Praças.

"Foi, sim, a eleição mais violenta, tanto na ideologia quanto entre eleitores. E não só desconhecidos, mas familiares, amigos", diz Beatriz Pedreira, 32, cientista social e cofundadora do instituto Update.

 Ela realça o que vê como um fator de agravamento: a recessão que precedeu o pleito. "A crise deixou as pessoas mais inseguras e fomentou medo, individualismo e violência."

Segundo Lima, do FBSP, a radicalização dos políticos fez as pessoas se sentirem autorizadas a cometer atos violentos.

O acirramento atingiu a imprensa. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) registrou 141 ameaças e agressões a jornalistas que cobriam as eleições.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, determinou que a Polícia Federal investigue ameaças a Patrícia Campos Mello, repórter da Folha, e a Mauro Paulino, diretor-executivo do Datafolha. Elas ocorreram após reportagem do jornal mostrar que empresas estavam contratando disparos em massa anti-PT por WhatsApp.

Medo e raiva dominam eleitores

Quando comenta os sentimentos obscuros que cercaram os brasileiros neste processo eleitoral, a psicóloga Débora Salomão, 35, diz ter pena de todo mundo.

Na pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira (25), 72% dos entrevistados se disseram desanimados; 74%, tristes; 81%, inseguros. A maioria -51%- disse sentir mais medo do que esperança.

Até o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa falou em medo para justificar o voto em Fernando Haddad, no Twitter, neste sábado (27).

A compaixão que a fala da psicóloga expressa não é, porém, dos sentimentos mais predominantes na campanha.

Para o cientista político Antonio Lavareda, 67, autor do livro "Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais", a equação destas eleições opõe, principalmente, medo e raiva.

"Medo sobretudo usado na campanha do PT, medo do que Bolsonaro representa, medo da ditadura etc.", diz.

"Do outro lado", afirma, está a raiva dos governos petistas -"da recessão, do desemprego, da corrupção, mais a raiva por aspectos identitários".

Rivalidade entre torcidas

Os 147 milhões de brasileiros que estão aptos a votar chegam hoje (28) às urnas sem terem tido a oportunidade de ver os dois candidatos que pleiteiam o maior cargo do país exporem os detalhes de suas propostas de governo. Também não puderam ver questionada a viabilidade delas.

A ausência de debate  num segundo turno de disputa pela Presidência da República é inédita na redemocratização – e talvez seja a síntese da eleição de 2018, em que a racionalidade e a maturidade política estiveram, como nunca, distantes.

Mesmo liberado pelos médicos, Jair Bolsonaro (PSL) optou, como estratégia de campanha, por não correr o risco de perder, com sua impulsividade, pontos nos debates.

O eleitor não sabe dizer o que Bolsonaro ou seu adversário Fernando Haddad (PT) farão imediatamente, caso assumam o Palácio do Planalto, para, por exemplo, reverter o desemprego, que atinge 13 milhões de trabalhadores e suas famílias.

Ninguém tem na ponta da língua a grande medida de seu candidato, mas qual brasileiro, incentivado pela propaganda de seus presidenciáveis, não discutiu ou ouviu falar do risco iminente de o Brasil virar a caótica Venezuela ou voltar a ser uma ditadura? E o destino tenebroso ocorrer, paradoxalmente, como resultado do voto – exatamente o clímax da democracia?

Um catastrofismo que não resiste a uma breve análise histórica ou a fatos ocorridos ontem mesmo, que reiteram a força das instituições brasileiras. Reafirmada, por exemplo, quando o STF proíbe a invasão policial das universidades e a Justiça impõe tornozeleira eletrônica para o coronel da reserva que ameaçou e xingou magistrados.

O eleitor não sabe dizer o que Bolsonaro ou seu adversário Fernando Haddad (PT) farão imediatamente, caso assumam o Palácio do Planalto, para, por exemplo, reverter o desemprego, que atinge 13 milhões de trabalhadores e suas famílias.

Ninguém tem na ponta da língua a grande medida de seu candidato, mas qual brasileiro, incentivado pela propaganda de seus presidenciáveis, não discutiu ou ouviu falar do risco iminente de o Brasil virar a caótica Venezuela ou voltar a ser uma ditadura? E o destino tenebroso ocorrer, paradoxalmente, como resultado do voto – exatamente o clímax da democracia?

Um catastrofismo que não resiste a uma breve análise histórica ou a fatos ocorridos ontem mesmo, que reiteram a força das instituições brasileiras. Reafirmada, por exemplo, quando o STF proíbe a invasão policial das universidades e a Justiça impõe tornozeleira eletrônica para o coronel da reserva que ameaçou e xingou magistrados.