Franklin de Freitas – As altas de preços do tomate e da cebola juntamente com os planos de saúde, foram os principais responsáveis pela inflação de 0,16%

O preço da feira finalmente está caindo em Curitiba. Segundo informações das Centrais de Abastecimento do Paraná S/A (Ceasa-PR), nas últimas semanas a média do preço dos principais tubérculos, frutas, legumes e verduras comercializados no atacado da Ceasa Curitiba teve queda de 4,13%. O produto com maior redução no preço foi a caixa de 20 quilos do pepino em conserva, com redução de 42,86%, enquanto o valor da couve-flor grande (dúzia) foi o que mais subiu, com alta de 28,57%.

De acordo com Paulo Ricardo da Nova, diretor agrocomercial da Ceasa-PR, até abril o cenário em Curitiba era de alta nos preços, num movimento que já ocorre sazonal e normalmente, mas que neste ano ganhou um contorno extraordinário por conta da alta exacerbada nos valores. A partir da chegada da estação mais fria, no entanto, a demanda por hortaliças, especialmente as folhosas, começou a cair, fazendo também os preços baixarem.

“Quando começa a entrar o inverno, algumas regiões mais quentes começam a ter sua produção e daí não vem buscar mais os produtos da nossa região. Além disso, com o frio também reduz o consumo de hortaliças. Pessoal quer mais abobrinha, batatinha, mas folhosa cai muito o valor. E o mercado, num geral, está em baixa. Teve uma queda geral nas compras”, comenta Paulo Ricardo. “O tomate, que chegou ao preço recorde de R$ 200 um tempo atrás, esses dias foi vendido a R$ 45”, ilustra ainda.

Dos 30 principais produtos comercializados pela Ceasa Curitiba, um terço registrou queda no período entre 18 de julho e 1º de agosto, outro terço manteve a estabilidade e um último terço ainda teve alta. De maneira geral, no entanto, o valor médio dos produtos passou de R$ 58,74 para R$ 57,14 nas duas últimas semanas, o que aponta para uma queda de 4,13%.

Entre os produtos que mais baixaram de preço, além do pepino em conserva (que passou de R$ 70 para R$ 40), os principais destaques são a vagem (-33,33%, com o preço da caixa de 15kg passando de R$ 90 para R$ 60) e o chuchu (-20%, com a caixa de 20kg passando de R$ 35 para R$ 28). Por outro lado, entre os produtos que mais subiram de preço nas últimas semanas estão, além da couve-flor (que passou de R$ 35 para R$ 45), o limão tahiti (+14,29%, com o preço da caixa de 23kg subindo de R$ 35 para R$ 40) e a batata doce extra roxa (+12,5%, com a caixa de 20kg passando de R$ 40 para R$ 45).

Baixo poder de compra para o próximo verão deve ter impacto

Se a chegada do inverno e a queda recente nos preços deve dar uma aliviada no bolso dos curitibanos, por outro lado a Ceasa-PR revela uma preocupação com o verão que se aproxima. Isso porque muitos produtores estão mudando a alternativa do plantio, o que pode impactar o abastecimento.

“Pessoal que plantava hortaliça na Grande Curitiba hoje planta soja, que está valorizada e não exige mão-de-obra, porque faz tudo com máquina. Então o preço das hortaliças pode subir no verão, até porque vamos ter também o La Niña, que pode gerar dificuldade de água para irrigação”, aponta Paulo Ricardo da Nova.

Um dos grandes problemas, ainda segundo o diretor agrocomercial da Ceasa-PR, tem sido a perda significativa de poder de compra por parte dos produtores de hortaliça. Como exemplo ilustrativo, ele cita que anos atrás, quando a caixa de alface era vendida a R$ 12, bastava vender um caixote para comprar dois sacos de adubo. Hoje, mesmo com o caixote de alface sendo comercializado mais caro (a R$ 20), é preciso vender 10 caixas para comprar um saco de adubo.

“Poder de compra do produtor caiu muito, não tem mão de obra e o insumo está caríssimo. Ao mesmo tempo, a soja está valorizada, o milho está valorizado, são coisas que dispensam mão de obra e os mais jovens não querem trabalhar com hortaliça”, explica ainda Paulo Ricardo, pedindo reconhecimento aos produtores.

“Temos de valorizar quem fica na terra, produzindo. Cada vez mais quem faz isso são famílias. Temos de incentivar as pequenas cooperativas familiares, colocando produto na merenda escolar, como tem sido feito, e incentivando programas como o Câmbio Verde, de Curitiba, e o Sacolão Verde, de São José dos Pinhais”.

Apesar de queda recente, valores ainda estão mais altos que em 2021

Mesmo com a queda recente no preço da feira, Paulo Ricardo da Nova destaca que o valor de tubérculos, frutas, legumes e verduras comercializados no atacado pela Ceasa-PR estão mais altos do que no mesmo período do ano passado.

“Houve muita alta nos preços, que subiram demais. Mesmo com os preços mais baixos agora, se comparar com o ano passado os valores estão altos. Estão baixos na comparação com o que tivemos até abril”, comenta.

Como os produtores estão produzindo menos, questiona-se, então, se no próximo verão os consumidores terão de conviver com preços ainda mais altos do que os registrados no começo deste ano. Ao menos por ora, a avaliação é de que os preços devem, sim, voltar a subir na medida em que a estação mais quente for se aproximando, mas que essa alta deve ser menos expressiva do que a vista anteriormente.

“Não vai ser tão alto como foi. Houve recuo no preço dos adubos. Estava a R$ 100, chegou a R$ 200 e pouco e agora já acha por R$ 140. Mas vai depender dos insumos manter esse recuo. Se voltar a crescer, não tem como fugir”, afirmou Paulo da Nova. “Mas hoje me parece que a situação dos adubos está mais ou menos equacionada e o pessoal também buscou outras alternativas, que se tornaram viáveis com a alta de outros insumos, como pó de rocha com teor de potássio junto. Uma agricultura biológica, com insumos biológicos”, finaliza o diretor agrocomercial da Ceasa-PR.