O cinza tão associado a São Paulo fica mais evidente em algumas regiões da cidade, como o centro. Entre calçadões, muros e alguns dos maiores edifícios da capital, parques e praças estão quase isolados do restante da paisagem de raras árvores e plantas em distritos como Sé, República e Brás.

Um projeto da Prefeitura quer mudar essa situação, criando corredores verdes em 113 quilômetros da região central.

A ideia é implementar ao menos um projeto-piloto – no Brás ou na Santa Ifigênia – ainda na gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB), que pretende concorrer à reeleição em 2020.

Também são previstas melhorias em espaços já existentes, como o Parque D. Pedro II, o Largo da Concórdia e a Praça Roosevelt.

A ideia faz parte do Projeto de Intervenção Urbana (PIU) Setor Central, que estabelece diretrizes para o desenvolvimento imobiliário, ambiental e urbano dos distritos Brás, Pari, Bom Retiro, Belém, República e Sé. O texto está em fase de audiência e consulta públicas e, na versão final, será enviado como projeto de lei para a Câmara Municipal, em março. Um dos objetivos principais é levar 300 mil novos moradores para a região.

O projeto Caminhos Verdes abrange dezenas de calçadas, incluindo algumas nas vias mais movimentadas do centro, como as Avenidas do Estado, Rangel Pestana, Bom Jardim e Celso Garcia, e áreas mais degradadas, como o entorno da Cracolândia. Inclui ainda quatro novas praças, duas nas proximidades da Marginal do Tietê, uma perto do Jardim da Luz e outra na Liberdade.

Segundo a Prefeitura, o custo estimado é de R$ 72 milhões, incluindo alargamento de calçadas, rebaixamento de guias e sinalização. A previsão é de 48 meses para a elaboração do projeto executivo e entrega das obras, ou seja, parte da execução deve ficar para a próxima gestão.

Um mapeamento dos locais de grande circulação de pedestres e que interligam pontos de interesse, como estações de Metrô, foi utilizado para escolher as vias, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando Chucre. “Foram identificadas ruas e avenidas com largura suficiente para, além de fazer o alargamento da calçada, ter uma área de respiro.”

Segundo ele, um dos principais objetivos do Caminhos Verdes é melhorar a experiência dos pedestres, com mais sombra e redução na temperatura. A mudança também dialoga com a intenção de adensar áreas mais subutilizadas e degradadas, como o próprio entorno do Parque D. Pedro II, que pode ganhar uma Parceria Público-Privada (PPP) para prédios habitacionais.

Em relação a pedestres e ciclistas, o PIU Setor Central prevê também a criação de cinco ciclopassarelas sobre o Rio Tietê, interligando as regiões central e norte. Há também a previsão de projetos especiais para cinco áreas no entorno de espaços conhecidos do centro, como o Estádio Canindé, o Teatro Oficina e a Estação Júlio Prestes. “Esses territórios merecem uma discussão mais profunda”, afirma o secretário.

Exterior

O conceito de corredor verde ganhou espaço no planejamento urbano no fim do século 19, em Boston (EUA), interligando as “parkways” com áreas arborizadas de tamanhos diversos, diz Matheus Casimiro, urbanista e ex-diretor técnico da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente.

Exemplo internacional mais recente vem de Medellín, na Colômbia, que implementou o Green Corridor em 18 ruas e 12 hidrovias. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a iniciativa reduziu a temperatura em mais de 2ºC em certos pontos.

“Quanto mais o verde for integrado aos espaços públicos, melhor para todos”, diz Casimiro. “Com os parques lineares, definidos no Plano Diretor de 2002, pela primeira vez uma legislação falou em plano de arborização para avenidas e ruas. Na prática, poucas vias de fato conseguiram implementar.”

O último Plano Diretor, de 2014, prevê elaborar o Plano Municipal de Arborização, que está em desenvolvimento e definirá planejamento, implementação e manejo da arborização.

Casimiro diz que criar corredor verde não é, em si, uma dificuldade. O desafio é articular vários atores, como secretarias, concessionárias de energia, órgãos de patrimônio histórico e proprietários. “Tem a questão da fiação, do tipo de pavimento, precisa ver o mobiliário com a CET (o que inclui, por exemplo, placas de sinalização).” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.