SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Presente em quase um terço dos jogos da Copa até agora, a tática conhecida como retranca tem dado trabalho para seleções tradicionais como Brasil, Alemanha e Argentina. No geral, porém, essa estratégia defensiva vem se mostrando pouco efetiva em termos de resultados.

A Folha analisou todas as 32 partidas da primeira e da segunda rodada, encerrada neste domingo (24). Em nove delas, a maior parte do jogo ficou concentrada na defesa e na intermediária defensiva de uma das equipes.

Nesses times retrancados, de sete a oito atletas passaram a maior parte do jogo em seu campo defensivo.

Nos demais jogos, houve um equilíbrio em termos de toques na bola e distribuição dos jogadores no campo.

Entre os times que jogaram retrancados, apenas três conseguiram vencer ou empatar.

Duas dessas partidas ocorreram na primeira rodada. Na primeira, a estreante em Copas Islândia (22ª do ranking da Fifa) arrancou um empate com a Argentina, bicampeã mundial (5ª colocada).

Foi no seu próprio campo defensivo que 8 dos 11 jogadores do time europeu mais tocaram na bola. Entre os argentinos, apenas 4 atletas ficaram mais na defesa (os dados são da empresa Opta, tabulados pela reportagem).

“Nosso sistema defensivo funcionou muito bem. Tivemos uma boa organização”, disse Heimir Hallgrimsson, técnico da Islândia.

Atual campeã, a Alemanha também parou no sistema defensivo do México, que, com contra-ataques bem armados, ainda conseguiu marcar um gol e vencer o jogo.

Os mesmos alemães parecem ter entendido como vencer bloqueios desse tipo e, na segunda rodada, conseguiram bater a retranca da Suécia.

Considerando todos os toques dados na bola na partida, a grande área sueca é onde mais houve eventos. Ou seja, eram os suecos defendendo, e os alemães, atacando.

Apesar de terem somado poucos pontos até aqui, os times mais defensivos têm dado muito trabalho. A Alemanha conseguiu bater a Suécia com gol apenas aos 50 minutos do segundo tempo (o empate dificultaria muito sua classificação às oitavas de final).

A seleção brasileira também enfrentou uma equipe que pode ser considerada como retrancada, a Costa Rica. Os gols brasileiros saíram apenas nos acréscimos da etapa final.

Philippe Coutinho chutou de bico dentro da área, e Neymar aproveitou cruzamento do lado direito, marcando pela primeira vez no Mundial.

“Estava pensando: não é possível, tudo o que a gente está fazendo e não sai gol, o Navas tirando tudo, a gente não acredita”, afirmou o técnico Tite, sobre o jogo.

Na segunda rodada, a única seleção que conseguiu ganhar pontos jogando mais atrás que o adversário foi Portugal.

Cristiano Ronaldo fez de cabeça no começo do jogo. No restante da partida, a equipe concentrou seus jogadores em seu próprio campo para garantir a magra vitória de 1 a 0 contra o Marrocos.

“Soubemos sofrer. No futebol, às vezes é preciso saber fazer isso”, afirmou Cedric, lateral direito de Portugal, quarto no ranking da Fifa, após a partida, em que enfrentaram o Marrocos (41º na lista).

O fato de as retrancas feitas por seleções com menos tradição não terem funcionado na segunda rodada fez com que resultados considerados como zebras diminuíssem neste Mundial na Rússia.

A reportagem analisou todos os jogos das duas primeiras rodadas de Copas em que uma seleção tinha ao menos dez posições acima da adversária no ranking da Fifa, no início da competição (o ranking é atualizado ao menos uma vez por ano).

Se o time favorito (com melhor ranking) empatou ou perdeu, foi considerado como resultado inesperado.

Até a primeira rodada, houve cinco jogos em que isso aconteceu, colocando o Mundial na Rússia como o segundo com mais zebras desde 1994.

Ao fim da segunda rodada, o número de jogos em que o favorito perdeu pontos se igualou ao de 2014 e ficou atrás de 2010 e 1998. Ou seja, foi apenas o terceiro maior das Copas desde 1994.

Neste Mundial, foram 10 resultados em que a seleção favorita tropeçou, ante as mesmas 10 em 2014, 13 em 2010 e 11 em 1998.