A Federação Paulista de Futebol (FPF) pode modificar datas dos jogos do Paulistão para a disputa da Copa Libertadores, que terá os quatro times grandes do estado de São Paulo pela primeira vez na mesma edição. A afirmação é de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da entidade. “Não existe uma queda de braço. Queremos que os paulistas avancem na Libertadores”, garante o dirigente em entrevista exclusiva ao Estado.

Carneiro Bastos também revela que o ano que vem será decisivo para o futuro do Paulistão com a discussão sobre os direitos de transmissão com as emissoras de tevê. Hoje, a transmissão é exclusiva da Rede Globo. “É possível ter um bom aumento na receita com direitos de TV. Vai crescer. É por isso que nós vamos brigar”, afirma.

Neste ano, os quatro grandes clubes de São Paulo estarão juntos na disputa da Libertadores. Isso pode esvaziar o Campeonato Paulista?

Não, eu não acredito. A Libertadores do Corinthians começa em fevereiro e aí teremos uma definição do seu caminho. No caso dos outros clubes, Palmeiras, São Paulo e Santos, a Libertadores começa apenas em março. Com isso, teremos percorrido grande parte da fase de classificação do Campeonato Paulista. Todos os anos, nós temos muito cuidado para organizar o Paulistão. Ele termina em abril e começamos a preparar a edição do ano seguinte no mês de maio. Nesse processo, nós temos uma grande premissa: ouvir todos. Nós ouvimos jogadores, treinadores, executivos, dirigente, médico e o corpo jurídico dos clubes. O objetivo é melhorar sempre. O torneio é feito pela decisão dos clubes.

Não preocupa o fato de os times usarem reservas no Paulistão?

A presença dos quatro clubes na Libertadores foi uma alegria, um presente ao futebol paulista. Além dela, nós temos cinco clubes nas oitavas de final da Copa do Brasil, os quatro grandes mais o Bragantino. Não é uma concorrência entre os torneios, é uma motivação. Não podemos esquecer que um time grande começa uma competição para ser campeão. O título paulista é importante. Não nos preocupa (o uso de reservas). A gente respeita a decisão dos clubes. Nosso interesse é que o clube avance no torneio internacional. Não é uma queda de braço. Com a tabela da Libertadores, a gente pode modificar uma data ou outra para o clube pode viajar ou descansar.

As datas do torneio podem mudar?

Sim. Vamos trabalhar a quatro mãos, buscando a melhor condição para os clubes. Temos essa parceria e esse diálogo com eles. Outro ponto importante é que estimulamos a utilização das categorias de base. O limite de inscrição de atletas é de 26. Por outro lado, a lista B é livre, sem limite. Faz quatro anos que isso é uma realidade. Pegue o exemplo do Palmeiras, que tem um elenco grande e qualificado e tinha dificuldade de inscrever 26 jogadores. Hoje, o time está tranquilo. Como ele está utilizando a base, ele tem esse conforto.

O torneio deste ano será mais enxuto, com menos datas. Também foi uma decisão dos clubes não jogar nas Datas Fifa?

Sim. Foi uma decisão dos clubes. Na votação final, ganhou a opção de não jogar na data Fifa. Essa decisão pode mudar um pouco os números do Paulistão. Nós não teremos uma partida de quartas de final e outra de semifinal. São rodadas importantes com médias altas de público e renda. Isso pode ser impactante no torneio.

Qual é a importância do Paulistão hoje? E dos outros Estaduais?

O Paulistão é diferente. É uma competição fora da curva. Não é pela administração da Federação Paulista de Futebol ou pelos clubes. O estado de São Paulo representa 40% ou 45% do PIB nacional. Não dá para comparar todas as 27 federações com o futebol paulista. Uma coisa é igual: o fomento do futebol brasileiro está nos Estaduais. No dia que você acabar com os Estaduais e acabar com a possibilidade de 700 clubes jogarem nesses 100 dias, você acaba o fomento do futebol brasileiro. A possibilidade de jogar nesses 100 dias, movimentando os clubes e revelando jogadores, é o pulmão do futebol brasileiro. O Paulistão é uma fábrica de craques. Todo ano tem. O Martinelli foi direto para o Arsenal, por exemplo.

E o excesso de jogos?

Existe uma dificuldade para um pequeno número de clubes que disputam torneios internacionais? Sim, existe. Um clube com uma gestão capacitada e profissional consegue fazer da primeira fase do Estadual, sem prejuízo técnico, uma mini pré-temporada. O Flamengo está começando o Carioca com o time da base mais os reforços. Ele vai fazer uma campanha. Provavelmente não seja a melhor campanha. Quando o resto do time voltar, ele vai disputar de igual para igual. É possível planejar, sim. Se os clubes caminharem ao longo dos torneios internacionais, eles terão um calendário muito mais cheio. Isso é fato. É um pequeno número de clubes que precisa se preparar e contribuir. Cabe a eles contribuir com o fomento do futebol brasileiro. Significa fazer um sacrifício para que o País continue formando essa imensidão de craques.

O torneio começa sem a veiculação da primeira rodada na TV aberta. Isso é um problema?

Já estamos acostumados com isso. A Rede Globo não transmite os jogos de meio de semana em fevereiro. É uma questão de programação. A gente respeita. É uma parceira muito importante da Federação Paulista de Futebol. A gente convive com isso nos últimos anos e não tem nos causado prejuízo.

No Rio, existe uma discussão sobre cotas de transmissão. Isso pode ocorrer em São Paulo também?

Os direitos são negociados pela Federação Paulista junto com os clubes. Não temos uma divisão. Não temos a dificuldade verificada no Brasileiro em que clubes têm contrato com uma emissora e outras agremiações com outra TV. Eu acho que o futebol brasileiro só muda se os clubes quiserem. Qualquer tipo de mudança parte da vontade dos clubes.

Antes das federações?

Sim. Antes das federações. Quem me elege são os clubes. Eles têm o poder de dizer sim ou não. A partir de algumas visitas do País, foi possível verificar que o modelo brasileiro é o único em grandes ligas. Só no Brasil o clube negocia os seus direitos individualmente. Os sucessos de receita nos grandes campeonatos do mundo, não só no futebol, são a venda de direitos em conjunto. Os clubes brasileiros precisam, no mínimo, discutir isso. Eles serão muito mais fortes coletivamente do que individualmente.

Em São Paulo, a discussão é coletiva, mas existe uma diferenciação de cotas entre os clubes, correto?

Existe um escalonamento. Os quatro maiores arrecadadores (Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos) têm uma diferença em relação aos outros. O restante é influenciado pela posição no campeonato, permanência na divisão e outros critérios que variam de clube para clube. São valores próximos, mas eles têm diferença.

Como continuar a evolução do futebol feminino?

Incentivar o futebol de base. Há três anos, nós fizemos a primeira competição de base do futebol feminino no País. Era o único esporte olímpico que não tinha torneios de base. Esse é o quarto ano do sub-17. Teremos o sub-15. Temos feito festivais no interior com sub-11. O futebol feminino precisa de mais praticantes. O público quer futebol feminino.

Como será o Paulistão nos próximos anos?

O ano de 2021 vai nos dar um caminho. Vamos iniciar as negociações para os contratos dos direitos de transmissão. Hoje, são todos da Globo. Estamos nos preparando para entender esse mercado. Nós vimos o que aconteceu na Libertadores. Cada segmento ganhou um dia na competição. Ainda não sabemos se teremos um dono de tudo ou se vamos fatiar uma parte para cada empresa. O futuro do futebol paulista vai começar a ser definido no ano que vem. Vai continuar sendo forte e desejado. Vamos sentar com os clubes e traçar os caminhos.

Em sua visão pessoal, é melhor ter uma empresa só transmitindo ou diversificar?

Prefiro a forma capaz que gerar mais recursos para os clubes. É por isso que nós vamos brigar. É possível ter um bom aumento na receita com direitos de TV. Vai crescer.

Provavelmente apostando na diversificação das empresas que vão transmitir?

Ainda não temos uma certeza. O Grupo Globo é um parceiro de muito tempo. Vamos iniciar a conversa com eles. Aí, depende da estratégia e da posição a Globo.

A premiação para os clubes pode aumentar nos próximos anos?

Até 2021, os valores vão permanecer. Na negociação do novo contrato, vamos ouvir os clubes e saber qual porcentual eles querem retirar do todo para ser destinado à premiação. É uma conversa necessária em cima do novo contrato de TV.