O presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), o brasileiro Andrew Parsons, explicou nesta segunda-feira durante os Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, as mudanças feitas nas classificações dos atletas. As alterações foram duramente criticadas pelo presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, que as considerou amadoras, sem critérios e fora de hora.

Andrew admite que os critérios ainda carecem de evolução e diz entender a revolta brasileira, especialmente porque comandou o CPB na gestão anterior – Mizael era seu vice. Na ocasião, lembrou que redigiu há cerca de 10 anos manifesto contra o IPC quando alteraram as classificações em uma medida que prejudicou um dos maiores medalhistas do Brasil, Clodoaldo Silva.

De pedra a vidraça, ele agora informa que as mudanças possuem bases científicas, com trabalhos realizados em parceria com universidades e que a gestão do IPC garante independência para que seus órgãos hajam de maneira independente. Isso não impede, no entanto, de ele lamentar o que aconteceu com o nadador André Brasil, que ficou inelegível e não participa mais do esporte paralímpico.

“No caso específico do André meu coração fica despedaçado. Se tem alguém que ajudou e apoiou o André Brasil a ser um S10 fui eu. Em 2006 estive com ele na África do Sul. Muitos sabem que ele me chamava de papai no início. Agora mudaram os testes, a forma como se avalia. Do ponto de vista pessoal, fico devastado, entristecido. Mas o Comitê Paralímpico Internacional tem uma governança muito sólida para que não facilite que haja um presidente absoluto”, disse.

PARCERIA COM UNIVERSIDADES – Em relação às críticas feitas por Mizael, de que a mudança aconteceu no meio de um ciclo olímpico e de maneira amadora, Andrew foi didático. “Essas mudanças foram anunciadas em setembro de 2017. Foi aprovada pelos comitês dos países em uma assembleia do esporte durante o Mundial do México, em dezembro de 2017. Era um anseio antigo da comunidade da natação, especificamente. Não foi uma decisão do Comitê Internacional. E ela foi anunciada no ano seguinte dos Jogos Paralímpicos do Rio”, explicou.

Segundo o IPC, mais de 65% dos atletas permaneceram nas suas classes. Entre os que mudaram, a maioria baixou de classe. “O sistema anterior era baseado nas boas práticas. Esse agora traz mito mais ciência, foi feito em parceria com universidades mundo afora. Claro que temos muito a evoluir”, disse.

Andrew informou que no caso da natação alguns aspectos que antes não eram levados em conta agora servem de base para definir a classe, como por exemplo o arrasto e a virada. “Esse é o desafio de ter classificadores. Acontece como na arbitragem esportiva do olímpico. Queremos que os classificadores apliquem os mesmos critérios em todas as competições. É o nosso desafio. Não só de padronizar, mas que se apliquem essas regras”, prosseguiu.

RECLAMAÇÕES – Além do Brasil, outros dois países dos 182 que integram o IPC se manifestaram oficialmente contra as mudanças. Andrew disse que não poderia revelar os nomes. “Posso dizer apenas que são europeus e o Brasil, que tenho relação de amizade com o Mizael, e que conversou pessoalmente comigo”.

A elegibilidade não quer dizer que o atleta não é deficiente, vale ressaltar. A classificação é específica por modalidade, para a prova que vai fazer. O critério adotado tenta avaliar se a deficiência do atleta impacta na performance da prova. “É essa independência que falo. Não posso orientar classificadores a tomarem decisões A, B ou C. Fico triste com o caso específico de um atleta que tenho relação de amizade, mas não posso interferir”, encerrou Andrew.