SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os mercados acionários amargaram novo dia de perdas nesta quinta-feira (6), reflexo de temores de um agravamento da guerra comercial travada entre Estados Unidos e China.

A notícia que desestabilizou os mercados foi a prisão da vice-presidente financeira e filha do fundador da empresa chinesa de tecnologia Huawei, Meng Wanzhou. Detida no Canadá na quarta-feira (5), ela poderá ser extraditada para os Estados Unidos.

O governo da China exigiu a libertação de Meng. Em uma queixa furiosa nesta quinta-feira, a embaixada chinesa em Ottawa acusou as autoridades dos Estados Unidos e do Canadá de “violar gravemente os direitos humanos” de Meng Wanzhou.

Diplomatas e funcionários de serviços de inteligência informados sobre o caso disseram que os Estados Unidos decidiram acusar Meng como parte de um inquérito criminal relacionado a tentativas da Huawei de vender equipamento fabricado nos Estados Unidos ao Irã, o que poderia representar violação de sanções contra este último país.

Ainda que a detenção tenha se baseado nos negócios da Huawei com o Irã, os Estados Unidos têm a empresa sediada em Shenzhen na mira há meses.

A Casa Branca recentemente enviou delegações a capitais de países aliados para alertá-los para o fato de que a Huawei, que fornece equipamentos de rede para algumas das maiores empresas de telefonia do Ocidente, representava ameaça de segurança.

A Huawei negou repetidamente qualquer conexão com os serviços de segurança ou as Forças Armadas chinesas, insistindo em que é uma companhia de capital fechado. Mas enfrentou dificuldades para negar afirmações de que o fundador da empresa, Ren Zhengfei, no passado foi oficial das Forças Armadas.

As agências de segurança ocidentais se preocupam com a possibilidade de que depender de equipamentos da Huawei permita que a China penetre redes de telecomunicações estrangeiras, e muitas delas instaram que as operadoras de telecomunicações em seus países rejeitem as ofertas do grupo, ao atualizar seus serviços para as novas tecnologias de quinta geração.

Nessa queda de braço entre Estados Unidos e China, investidores consideram que a trégua na guerra comercial, acertada entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, no fim de semana passado, pode naufragar antes mesmo do início das negociações.

“Iludiu mais que ex-namorado”, diz Victor Candido, economista da Guide, sobre a reação otimista do mercado ainda na segunda-feira (3) e as perdas seguintes.

Os países haviam fixado prazo de 90 dias sem imposição de novas tarifas, para fechar um acordo comercial e por fim a escalada tarifária.

O acirramento da disputa entre China e Estados Unidos, segundo analistas do mercado, tem potencial de agravar a desaceleração da economia global, que de qualquer forma já estaria contratada para os próximos anos.

Essa perspectiva de desaceleração também se impôs sobre as cotações de matérias-primas, como o petróleo, que recuou 30% desde o começo de outubro e agora é negociado ao redor dos US$ 60 o barril.

Nesta quinta, os países-membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) chegaram a um pré-acordo para cortar a produção do combustível e torná-la mais equilibrada à demanda. Ainda é preciso, porém, ouvir a Rússia, um grande produtor que não faz parte do grupo.

A expectativa é que a redução da produção, que pode ser acordada nesta sexta, ajude a sustentar as cotações de petróleo.

Mesmo com o cenário indefinido, o fechamento dos mercados foi com perdas mais contidas que as registradas no começo do pregão –as Bolsas americanas abriram com baixa na faixa de 3%.

Na Europa, que fecha no começo da tarde (do horário de Brasília), as perdas foram de mais de 3% nos principais índices, refletindo o estresse do mercado com a incerteza sobre Estados Unidos e China.

Nesta quinta, o Ibovespa, principal índice acionário do país, caiu 0,21%, a 88.846 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14 bilhões. Na mínima da sessão, o índice chegou a ser negociado perto dos 87 mil pontos.

As perdas foram puxadas pela desvalorização da Petrobras. Os papéis preferenciais cederam 3,79%.

O mercado doméstico sofre com a piora do cenário externo em um momento em que o noticiário doméstico não é tão brilhante, diz Candido.

Ele se refere às recentes falas desencontradas dos representantes do governo eleito de Jair Bolsonaro (PSL) sobre a reforma da Previdência, considerada prioritária por investidores.

Primeiro Onyx Lorenzoni (DEM), futuro ministro da Casa Civil, disse que o governo tem quatro anos para aprovar novas regras para a aposentadoria. Depois Bolsonaro falou que não faria reforma para matar idosos.

O ruído começou a ser dissipado com nova fala do presidente sobre possível fatiamento da proposta para aprová-la no Congresso.

O dólar, que chegou a ser cotado a R$ 3,9440, fechou o dia com ganho de 0,12%, a R$ 3,875. A moeda também se beneficiou do fechamento mais sereno visto nas Bolsas. De 24 emergentes, o dólar ganhou força sobre 16 delas.