BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Com a 7ª produção nacional, Minas Gerais começa a despontar no Brasil e no exterior como o mais novo terroir para a produção de vinhos finos, principalmente com as uvas syrah (tinto) e sauvignon blanc (branco).


A técnica consiste na inversão do ciclo da videira, alterando para o inverno o período de colheita das uvas destinadas à produção de vinhos finos. São aplicadas duas podas, uma para a formação de ramos, em setembro, e de produção, em janeiro e fevereiro.


Com a tecnologia da dupla poda, desenvolvida no Núcleo Tecnológico Uva e Vinho da Epamig (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais), os vinhos têm se destacado no circuito gastronômico e em concursos nacionais e internacionais.


Os primeiros vinhos com a técnica foram colocados à venda em 2013. De lá para cá, vêm ganhando rapidamente notoriedade e espaço no mercado.


“Alguns dos rótulos que já degustamos nos mostram vinhos com perfil de boa concentração de aromas, intensos, muito encorpados, com bom potencial alcoólico e equilibrados”, afirma o enólogo Daniel Salvador, presidente da Abe (Associação Brasileira de Enologia).


Na safra de 2018 foram produzidas 500 mil garrafas (de 750 ml) de vinho com a técnica da dupla poda. Nos próximos dois anos (safra 2019/2020), a previsão é dobrar esse volume e atingir a marca de um milhão de garrafas de vinhos de uvas colhidas no inverno. Isso porque os vinhedos foram produzidos nos últimos anos e ainda se encontram em formação.


O êxito da dupla poda, desenvolvida pelo engenheiro-agrônomo Murillo Albuquerque Regina, PhD em vitivinicultura e enologia pela Universidade Bordeaux, na França, deve-se ao fato de as uvas colhidas no inverno apresentarem mais aroma e maior concentração de açúcares e polifenóis, o que contribui para o aumento da qualidade da bebida.


A prática está sendo difundida principalmente no sul mineiro, em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de Goiás e da chapada Diamantina, na Bahia.


“O diferencial qualitativo dos vinhos de dupla poda é que a época de maturação e colheita da uva coincide com o período de dias ensolaradas e noites frescas, aliados à ausência de chuva”, afirma Murillo Albuquerque Regina.


Esta condição climática faz com que as uvas alcancem um ótimo estágio de maturação, originando vinhos com equilíbrio entre álcool, acidez e estrutura dos taninos.


A parreira experimental da dupla poda foi implantada em 2003 na mineira Três Corações, na fazenda Maria da Fé, onde é produzido o vinho syrah Primeira Estrada.


Passada a fase de testes, o Primeira Estrada venceu a Grande Prova de Vinhos do Brasil em 2016. Para aprimorar a tecnologia, Marcos Arruda Vieira Botelho, dono da fazenda, contou com a ajuda da Epamig e de dois sócios franceses, que moram no interior da França e produzem mudas e vinho para o mundo inteiro.


O engenheiro-agrônomo Eduardo Junqueira Nogueira Júnior, produtor do Maria Maria na fazenda Capetinga, em Boa Esperança, conta que a primeira safra foi produzida em 2013 e enviada para participar de concurso em 2015. Ele saiu vencedor. Na fazenda as variedades plantadas são sirah, cabernet sauvign, sauviogn blanc, e chardonay.


Em Cordislândia, a família Porto iniciou, em 2004, o cultivo de videiras e trabalha com duas linhas: a Dom de Minas, que não passa pelo envelhecimento em madeira e a Gran Reserva, que tem amadurecimento em barricas de carvalho, produzidos pela vinícola Luiz Porto Vinhos Finos. O vinho Luiz Porto Syrah conquistou a medalha de bronze conquistada em 2018 no International Wine Challenge.


TÉCNICA DA DUPLA PODA


Vinhos fabricados: os principais são o Syrah (tinto) e Sauvignon Blanc (branco). Estão sendo desenvolvidos em menor escala Chardonay, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Pinot Noir.


Área plantada: atualmente existem 120 hectares em produção e 150 hectares em formação. Em 2019 mais 50 hectares deverão ser implantados.


Produção: cerca de 500 mil garrafas na safra 2018. A previsão da Epamig é de chegar a 1 milhão de garrafas nos próximos dois anos (safra 2019/2020) e 2 milhões de garrafas nos próximos cinco anos.


Marcas premiadas:


MG: Maria, Maria, Luiz Porto (Cordislândia), Primeira Estrada (Três Corações), Casa Geraldo (Andradas)


SP: Casa Verrone (São José do Rio Pardo), Guaspari (Espirito Santo do Pinhal).


Onde pode ser aplicada:


É indicada paras as regiões Sudeste, Centro-Oeste e nas regiões de altitude do Nordeste, como a Chapada da Diamantina na BA. No Sul ela não se aplica, devido às baixas temperaturas do inverno, e também pela distribuição regular das chuvas ao longo do ano. No semiárido nordestino ela pode ser aplicada, mas as altas temperaturas durante o ano todo afeta negativamente a qualidade da uva.