Franklin de Freitas – O edifício Eduardo VII

Qual a história por trás das imponentes paredes que sustentam os prédios mais icônicos de Curitiba? Foi para responder questões como essa (e muitas outras) que surgiu o projeto “Prédios de Curitiba”, que busca, através da arquitetura e do urbanismo, resgatar a história local, reativando a memória curitibana e contribuindo para o fortalecimento da identidade cultural.

Coordenadora do projeto, Mayra Abalem conta que tudo teve início em 2017, quando foi publicada a primeira edição do livro “Prédios de Curitiba”, idealizado por Guilherme Macedo (da Lona Arquitetos) e realizado em parceria com Fábio Domingos Batista (Grifo Arquitetura) e Washington Takeuchi (fotógrafo e idealizador do blog Circulando por Curitiba). A obra, que fala sobre o processo de verticalização na cidade e apresenta 40 edifícios da capital paranaense inaugurados desde 1916, está para ser reimpressa, com os interessados podendo adquiri-la por meio de uma campanha no Catarse, intitulada “Livro Prédios de Curitiba – Reimpressão 1ª edição”.

Quando do lançamento da obra, mil cópias foram impressas e vendidas ou distribuídas para bibliotecas e escritórios de arquitetura. “Hoje em dia não temos mais [exemplares do livro] e estamos trabalhando para essa reimpressão devido à alta demanda e busca pelo primeiro exemplar. Após essa reimpressão, não faremos mais. É uma oportunidade única de adquirir”, comenta Abalem. “O livro é como uma linha do tempo, conseguimos acompanhar essa mudança nos movimentos, na direção da cidade, desde o período eclético até o arte déco, modernismo, brutalismo, até projetos mais contemporâneos”.

Alguns dos prédios cujas histórias são contadas são o Tijucas, conhecido por sua galeria e por concentrar um grande número de alfaiates; o Eduardo VII, que está passando por um processo de revitalização atualmente; o Asa, que muitos dizem ser assombrado por conta da taxa de suicídio no edifício; e o Paço da Liberdade, inaugurado em 1916 e antiga sede da Prefeitura de Curitiba, um ponto importante para a cidade não só pela questão arquitetônica.

“A intenção, desde o início do projeto e até pela própria linguagem que o livro utiliza, não é alcançar apenas pessoas da área de arquitetura, mas qualquer pessoa que tem interesse em saber a história da cidade através dos edifícios. Boa parte dos seguidores já são da área, têm interesse mais instintivo, mas muitos estudantes [de outras áreas], pessoas mais velhas que querem conhecer sobre prédios mais antigos, nos acompanham. Sempre tem um comentário ou outro de ‘cresci nesse prédio’, essa parte é bastante forte”, relata a coordenadora do Prédios de Curitiba.

Capital paranaense tem 43 prédios com mais de 100 metros de altura

Recentemente a equipe do Prédios de Curitiba, em artigo publicado em 8 de junho e assinado pelo estudante de Direito Diego Minella, divulgou um levantamento que descobriu quais os edifícios mais altos da capital paranaense. O estudo, que catalogou um total de 228 edifícios no município, revelou 43 prédios na cidade que possuem mais de 100 metros, além de trazer um ranking dos maiores na cidade.

Na primeira posição aparece o Universe Life Square, localizado na Rua Comendador Araújo (nº 252), no Centro, e inaugurado em 2013. O empreendimento tem 152,28 metros de altura. Na sequência, com 129,65m, vem o Evolution Corporate, de 2004, localizado também no Centro (Rua Brigadeiro Franco, 1826). Ele é seguido de perto por dois edifícios que ficam no Campo Comprido: o Maison Legend (Rua Monsenhor Ivo Zanlorenzi, 3480), com 127,04m; e o Palazzo Lumini (Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 3305), com 125,3m.

SAIBA

Plataforma digital

Depois do lançamento do livro, de um ano e meio para cá a equipe do Prédios de Curitiba começou a crescer — hoje já conta com cerca de 20 colaboradores — à medida que o projeto também foi se digitalizando. Assim surgiu a plataforma prediosdecuritiba.com.br, com forte presença no Instagram também, e que traz conteúdos que já estavam no livro, democratizando o acesso à informação, e também artigos inéditos que tratam de temas diversos: o porquê do nome Boca Maldita; o mito sobre a origem e o histórico de transformação da Praça Tiradentes; a história do artista curitibano Poty Lazzarotto e suas obras espalhadas pela cidade; o resgate da memória de Enedina Alves Marques, a primeira engenheira do Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil.

“A plataforma digital tem a parte de arquitetura, prédios, fotografia, cultura, história… Acreditamos que é uma ferramenta de pesquisa não somente para arquitetura, mas para a história da cidade. A intenção é levar conhecimento e cultura para todos que tem interesse em conhecer mais a capital”, afirma Mayra Abalem, revelando ainda que a equipe já pensa também numa segunda edição do livro Prédios de Curitiba, com outros edifícios icônicos de Curitiba tendo suas histórias resgatadas.

Um pedaço de Nova York e outro do Marrocos – Você pode não conhecer Nova York e jamais ter visitado o avistado o Flatiron Building. Inaugurado em 1902, o empreendimento foi um dos primeiros arranha-céus construídos na cidade estadunidense. Por outro lado, provavelmente já viu o Edifício Eduardo VII (foto da esq.), localizado na Av. Mal. Floriano Peixoto (nº 16, Centro). O prédio foi encomendado nos anos 1950 pelo empresário Miguel Calluf e nasceu de uma inspiração do famoso arranha-céu nova-iorquino. Já foi considerado um dos mais importantes e luxuosos da cidade, mas chegou a ficar fechado por duas décadas e agora está sendo revitalizado pela VR Investimentos, em parceria com a Housi, para ter moradias por temporada. Mais um ‘pedacinho’ de outro país fica na Rua José de Alencar, quase esquina com a Rua Dr. Goulin, onde está localizado o El Cashbah (à direita). Idealizado pelo engenheiro civil Munir Guérios, a obra é, na prática, um grande castelo branco e de janelas coloridas com quatro torres nas pontas, inspirado nas fortalezas antigas do Marrocos.

Edifícios Casario e Brasilino Moura: estéticas inusitadas – Dois prédios que se destacam em Curitiba por sua ousadia, pelo inusitado, são o Edifício Casario (foto da esquerda) (Avenida João Gualberto, 2099, Juvevê) e o Brasilino Moura (à direita) (Rua Cândido Lopes, 205, Centro). O primeiro foi construído em 1979 e idealizado pelo arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que por anos morou ao lado do empreendimento. O prédio chama a atenção por sua fachada, que apresenta recuos de diferentes tamanhos. Já o segundo, de 1944, fica no Centro (Rua Cândido Lopes, 205) e também tem como ponto alto a estética da fachada, que transmite a sensação de que o prédio está prestes a cair. Não à toa, o apelido do edifício é “balança, mas não cai”.