A menos de dois quilômetros do Centro de Curitiba fica a mais antiga comunidade pobre de Curitiba, que abriga mais de 6 mil pessoas. Ela já se chamou Vila Capanema, passou a ter o nome de Vila Pinto e hoje é conhecida como Vila Torres. Mas poderia também se chamar Vila Esperança.
Encravada entre os bairros Jardim Botânico, Prado Velho, Rebouças e Guabirotuba, muitas vezes se destaca pela violência. São notícias de tiros, mortes, moradores com medo de sair de casa por conta de confrontos entre a Turma de Baixo (atrás da PUC) e a Turma de Cima (vizinha da Avenida das Torres). Contudo, com a força da vida comunitária, principal antídoto para a criminalodade, a história começa a ser mudada.
Um dos vetores dessa transformação é a Organização de Desenvolvimento do Potencial Humano (ODPH), localizada na Rua Manoel Martins de Abreu, 405. Fundada em 2009, surgiu da necessidade de atrair e tirar das ruas crianças e adolescentes, público-alvo do tráfico de drogas. Desde então já atendeu mais de mil moradores da comunidade.
Hoje atendemos 40 crianças de 6 a 12 anos no contra-turno escolar, tendo como pilares a educação e o assistencialismo, comenta Kauanna Batista Ferreira, fundadora da ODPH. Aqui tem espaço de diálogo com as crianças. Incentivamos elas a falarem como foi o dia anterior, sempre com um foco positivo para que elas coloquem no vocabulário coisas positivas, explica.
O foco, contudo, não é apenas nas crianças. Todos os dias, por exemplo, a mãe de uma das crianças participantes do projeto é quem prepara os alimentos — são quatro refeições diárias para os participantes do projeto —, o que ajuda a integrar essas mulheres, fazê-las conhecer melhor seus filhos. A elas também são ofertados cursos de nutrição e alimentos, garantindo o desenvolvimento adequado dos pequenos e uma melhora alimentar para toda a família.
Não é de surpreender, então, que nesses últimos anos a própria comunidade tenha sofrido alterações profundas – e para melhor. A cultura da comunidade mudou bastante. Era uma cultura muito violenta, um medo constante que nos deixava retraídos. Junto com outros projetos, fizemos a comunidade se abrir, se tornar pró-ativa. E o pensamento das crianças mudou, elas agora têm um mundo.

Precisamos que Curitiba abrace o projeto, diz fundadora da ODPH
Desde a sua criação em 2009, quando era ainda uma biblioteca comunitária, a ODPH tem crescido na base de doações. Tudo que temos foi doado. Nossa força é o voluntariado, que vem aqui e aplicam atividades sociais de vários temas. Temos uma educadora também, comenta Kauanna, fundadora da organização.
Sem apoio do poder público e contando com oito padrinhos (três deles pessoas jurídicas), contudo, a ODPH, que conta com 25 crianças na lista de espera, encara dificuldades financeiras. Nosso sonho é ter estabilidade financeira. Não temos ainda entrada suficiente. Embora os custos sejam baixos (cerca de R$ 300 mensais por criança), ainda falta uns 50% do custo atual, diz Kauanna.
Patrícia Valente Haj Mussi, fundadora do Instituto Liga Social, destaca que ações sociais não vivem apenas da doação de alimentos, uma vez que há toda uma estrutura por trás de uma iniciativa como a ODPH, com contas e salários a serem pagos no final do mês, como em qualquer outra empresa.
Precisamos que Curitiba abrace o projeto. Atendemos crianças, mas quem mais ganha é a sociedade, que vai formar pessoas com cabeça diferente. A cidade só vai mudar quando olharmos essas comunidades, investirmos nelas, complementa Patrícia Valente Haj Mussi, fundadora do Instituto Liga Social.

De biblioteca à escola em menos de uma década
A ideia de criar a ODPH, relata Kauanna, surgiu a partir de um convite feito por um dos líderes comunitários da Vila Torres. Eu tinha apenas 16 anos, fiquei surpresa com o contive, mas topei, recorda a jornalista, cuja avó foi uma das fundadoras da comunidade. O índice de morte de jovens era muito alto e queríamos mudar isso.
Primeiro foi criado o Dia da Cultura da Vila Torres, no qual a própria comunidade se apresentou durante o dia. Ali a comunidade acabou se integrandoi, se conhecendo melhor, e viu que juntos poderíamos mudar nossa imagem, tanto interna, entre os próprios moradores, quanto para o público externo.
O segundo passo contou com o apoio de carrinheiros, que representam cerca de 60% dos moradores da Vila. Eles já recolhiam muitos livros, inclusive obras novinhas, embaladas, e começaram a entregar esse material para a Kauanna. Ainda não tinhamos um espaço físico, apenas um local para guardar esse material. Decidi então pegar os livros e fui para a praça. Ia chamando as crianças que estavam pela rua mesmo.E aí foi crescento, mais gente ajudando, a própria comunidade organizou os espaços e foi aumentando.

SERVIÇO
Organização de Desenvolvimento do Potencial Humano – ODPH
O que é: Uma organização que visa estimular a cultura através de projetos sociais, atividades educativas e ações festivas. Atende atualmente 40 crianças com idade entre 6 e 12 anos moradores da Vila Torres.
Telefone: (41) 9793-4159 / 3093-4965
E-mail: [email protected]
Facebook: https://www.facebook.com/OdphVilatorres/
Como ajudar: A organização necessita de apoio financeiro e também doação de materiais e alimentos. Quem quiser ajudar também pode contatar a Liga Social (www.ligasocial.org.br) e se tornar um investidor social.
Voluntários: Quem quiser dar aulas ou realizar algum projeto social em parceria com a ODPH pode entrar contatar a instituição por meio dos contatos acima disponibilizados.