O empresário circense americano P.T. Barnum dizia algo que seria apenas um primor de cinismo se não contivesse alguma verdade: “ninguém nunca perdeu dinheiro por subestimar a inteligência do público”.
Desde sempre esta inteligência vem sendo subestimada com sucesso por feiticeiros, charlatões, astrólogos, populistas, e todos que se valem da crença arraigada de muitas pessoas em um universo mágico no qual as palavras têm poderes superiores aos dos fatos. O ministro da propaganda do “esquerdista” Adolf Hitler apenas fazia eco quando afirmava que uma mentira mil vezes repetida se torna verdade, prenunciando as fake news. Passado o tempo em que oradores empolgavam as massas com retórica grandiloquente que mirava os corações, a essência atual das campanhas políticas são as promessas, supostamente dirigidas às mentes e aos bolsos. E tais promessas versam desde “dar um vestido para Maria, e um roçado para o João…” como canta Gilberto Gil, às mais mirabolantes invenções para moralizar o país, resolver todos os problemas da economia, criar milhões de empregos bem pagos, etc.

Infelizmente, o modelo de funcionamento governamental em nosso sistema democrático tem sido de empresários buscando obter lucros, ao mesmo tempo em que políticos buscam o poder, prestígio e principalmente a renda proporcionada pelos cargos públicos. Evidentemente há exceções, mas poucas, e a política fica estabelecida como um meio para os fins privados dos políticos; os projetos da sociedade e do próprio Estado não são compreendidos como motivação e sim oportunidade no pior sentido do termo, sem que uma política educacional possa prevalecer. Esta perversão vai assumindo uma característica estrutural e sistêmica, levando o eleitor ao desalento, e a uma ideia de que nunca teremos solução. Os candidatos que prometem aqueles mundos e fundos, e têm sucesso sendo eleitos, precisarão pagar as dívidas. E então assistimos ao segundo ato da comédia trágica: continuando a subestimar a inteligência dos eleitores, prosseguem ao afirmar que aquilo que não está sendo realizado é culpa exclusiva de outrem, da oposição, da imprensa, do judiciário, da lei da gravidade, das chuvas, das secas… nunca da própria incompetência, inapetência, ou irrealismo absoluto no que prometeram.

Quando o assunto é Educação, os descalabros têm sido piores. Enquanto sofremos todos os efeitos de uma educação deficitária, que impede o crescimento econômico, a evolução das industrias, a melhora do sistema de saúde e o acesso a novas tecnologias, assistimos atônitos a discursos sobre “marxismo cultural”, de mudanças absurdas na legislação de trânsito, de alterações inócuas ou até perigosas de procedimentos em áreas irrelevantes para a preocupante situação brasileira. Medidas urgentes de correções de rumos, de readequações nos processos avaliativos e de implantação de projetos eficientes não são realizadas, como se perdendo tempo em assuntos periféricos ao processo educativo fossem resolver-se sozinhas.

Nenhum povo atingiu um bom estágio civilizacional e boa qualidade de vida a seus cidadãos sem um excelente sistema educativo, capaz de tirar pessoas da miséria, da falta de higiene, da violência e das poucas luzes intelectuais. A área demanda conhecimento específico para sua condução, domínio das questões financeiras é essencial, mas não garante boa gestão educacional, e políticos muitas vezes esquecem que estar voltado a ganhar as próximas eleições na maior parte das vezes não é suficiente para melhorar a qualidade do ensino, simples discursos não tem o dom de aumentar a efetividade de projetos neste segmento. Entre as demandas técnicas e os pronunciamentos eleitoreiros descolados da realidade, vamos prolongando nossas mazelas e enriquecendo alguns poucos, sem que os grandes problemas nacionais tenham solução à vista.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.