Temos mantido a casa cheia nos últimos dias. A quantidade de lençóis lavados, estendidos, passados, guardados e, por fim, tirados novamente do armário me fazem atentar para o aumento repentino e constante da população local.  Semana passada, foram os meus, os que apesar de fora estão tão dentro que quase não é possível chamá-los de visitas (que bom). Desde segunda, revezam-se os delas, os das crianças. Os amigos da escola que chegam em dupla, em trios e enchem a casa de novas vozes, de risadas, de lições de casa feitas a muita música alta (como conseguem?) e pedidos de lanchinhos.
Nossa casa gosta de convidados. É parte do combinado, por aqui, não precisar de permissão para se fazer convites. Basta avisar quem vem. E quem vem? Hoje, a Isa e a Sofi. Logo mais, o Toti e o Max, ontem, a Gabi e a Sue. Um delícia, embora envolva alguma disponibilidade para o inesperado. Já foi preciso correr para o hospital com uma testa rasgada, desgrudar cola quente de um dedinho doído, separar briga, se meter em conversa que tomou rumo torto, ligar para mãe pedindo resgate. 
Na mesma medida em que conhecemos dicas de pizzaria, nos deliciamos com o piano tocado a seis mãos, conhecemos novas músicas, receitas e séries, nos enternecemos com histórias contadas com a doçura de crianças que se deixam estar à vontade em uma casa que não é a sua. 
Abrir a casa é também abrir-se ao novo. E o novo chega em sua própria forma. É possível saber quem vem, mas não como vem.  Sempre que recebo um analisando no consultório penso nesse paralelo. O barulho da porta da sala de espera é, para mim, um anúncio da grandeza, da complexidade do outro. Entro e ao mesmo tempo deixo entrar. A primeira palavra dita, o caminho da fala, a resposta a uma pontuação, todas as possibilidades estão postas e nada nos prepara o suficiente para o que vem. Minhas filhas e seus amigos me presentearam também com este exercício: há de estar à vontade, há de abrir a porta.

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