SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Quando chegar o intervalo do All-Star Game da NBA, que acontece no domingo (17), o rapper Meek Mill vai animar a torcida enquanto os astros descansam. Só que diferentemente da NFL, que colocou o Maroon 5 na pausa do Super Bowl e foi duramente criticada, a liga de basquete escolheu alguém idolatrado por fãs e, principalmente, estrelas do esporte.


Mill é um dos nomes mais consagrados do hip-hop atual. Sucesso de vendas, ele é um dos músicos favoritos dos jogadores da NBA. Mas o que faz dele tão querido assim?


São muitos os fatores, mas dois chamam atenção. Um deles é que Mill teve a infância difícil, sem uma família estruturada. Assim como muitos dos hoje All-Stars da liga norte-americana, ele encontrou em um talento único uma forma de vencer a pobreza.


O segundo motivo é o principal. O rapper foi condenado de forma polêmica em novembro de 2017, e a situação engajou muitos jogadores a pedirem sua liberdade.


O caso começou em 2008. Preso por posse ilegal de arma, o cantor, ainda conhecido como Robert Williams, foi condenado a dois anos de prisão e mais oito de condicional.


Desde então, Mill trava uma verdadeira batalha com a Justiça dos Estados Unidos. Entre quebras de condicional e discussões com a juíza Jenece E. Brinkley, responsável pelo caso, o rapper chegou a ser condenado a ter aulas de etiqueta e bons modos -algo inédito para casos como o dele.


Em agosto de 2017, o cantor foi preso novamente. Os motivos alegados foram: uma briga com funcionários do aeroporto de St. Louis e direção perigosa. Na ocasião, o artista viu um garoto pilotando uma moto em Nova York e pediu para dar uma volta. O cinegrafista do rapper fez uma transmissão ao vivo no Instagram, e o cantor empinou o veículo sem capacete. Ele foi multado e liberado.


Três meses depois, Mill foi novamente preso e dessa vez condenado de dois a quatro anos por falhar em um teste antidrogas e não limitar suas viagens, o que havia sido ordenado pela Corte. A defesa alegou que o cantor estava afastado das drogas há mais de 10 meses, mas não adiantou. A juíza Brinkley alegou que o rapper deveria estar preso porque representava um perigo para a sociedade.


Pouco tempo depois foi descoberto que o FBI estava em uma investigação contra a juíza, e chegou-se a especular que ela tentou persuadir Mill a romper contrato com seus agentes e assinar com um amigo dela. A polêmica ficou ainda maior quando a Justiça descobriu que um dos policiais que prendeu o artista pela primeira vez em 2008, e que testemunhou em júri no caso, foi acusado de corrupção.


Para a defesa de Mill seria motivo mais do que suficiente para que o artista fosse liberado, mas não foi o que aconteceu, e ele permaneceu preso, incluindo até um período na solitária.


A situação fez com que diversos artistas e atletas se engajassem em uma campanha para a libertação de Mill. Jay-Z, LeBron James, Lonzo Ball e Karl-Anthony Towns foram alguns dos astros que se pronunciaram. Enquanto Joel Embiid, pivô do Philadelphia 76ers, o comediante Kevin Hart e o dono do New England Patriots, Robert Kraft, foram pessoalmente até a prisão visitar o cantor.


Todos alegaram perseguição racial, uma vez que a pena foi considerada dura demais para o crime, e pediram uma reforma no sistema judicial norte-americano para que episódios como o do rapper não se repetissem.


A campanha ficou ainda mais forte com o apoio da NFL. Em 2018, o Philadelphia Eagles usou o hit “Dreams and Nightmares” (Sonhos e Pesadelos) como hino para entrar em campo nos playoffs do futebol americano.


A revolta popular envolvendo o caso foi grande que fez com que pessoas fossem protestar nas ruas pela liberdade do cantor. A pressão funcionou, e Mill deixou a prisão em abril de 2018, cinco meses após ser detido e condenado. Qual foi a primeira atitude dele? Deixou a detenção e, de helicóptero, foi direto para um jogo do Philadelphia 76ers. O artista foi recebido com festa e participou da “cerimônia do sino”, uma honraria concedida pela franquia da NBA.


Desde que foi solto, o rapper se dedica a militar pela reforma do sistema prisional norte-americano. E muita gente se juntou a ele na campanha. Recentemente, a Puma lançou um tênis em conjunto com Mill, em um novo pedido a revisão da Justiça criminal do país.


Todo o histórico, desde a infância difícil até a condenação polêmica, fez com que Meek Mill se tornasse uma espécie de “irmão” para os jogadores da NBA, uma vez que muitos enfrentaram dificuldades antes do estrelato. Em janeiro deste ano, a liga de basquete confirmou que ele será uma das atrações do show do intervalo no All-Star Game ao lado de J. Cole, outro artista respeitado entre os astros do basquete.