SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – O atirador que matou cinco pessoas e depois cometeu suicídio em Campinas (a 93 km de SP) dentro da Catedral Metropolitana da cidade, no último dia 11, teve seu quadro de “mania de perseguição” agravado após a morte do irmão, ocorrida em abril do ano passado, de leucemia.

A informação foi dada nesta segunda-feira (17) pelo pai dele, Eder Salatti Grandolpho, 82 , em depoimento à polícia.

Segundo o delegado do Deinter 2, José Henrique Ventura, Euler Fernando Grandolpho “ficou mais recluso e isolado” após a morte do irmão. “Que ele sofria de depressão, não há dúvida. Precisamos agora entender se isso tem relação com o crime”, disse Ventura.

O pai do atirador acrescentou que Grandolpho fez tratamento contra o uso de drogas, há cerca de 20 anos. 

A polícia também quer ouvir a uma camelô que, segundo o delegado Hamilton Caviolla, do 1º DP de Campinas, teria se encontrado com o atirador 15 minutos antes do crime.

“Precisamos esclarecer a origem das armas e saber se ele fez tudo isso sozinho, da cabeça dele. Temos vários indícios de que ele estava sozinho, como cartas e anotações, provas testemunhais. Mas se conseguirmos fazer o trajeto dele antes do ataque, o nosso trabalho está encerrado”, afirmou o delegado.

Também nesta segunda, ocorreu a missa de sétimo dia em homenagem às vítimas, no mesmo horário (12h15) em que começou o culto que precedeu à chacina, na semana passada.

ATAQUE

No dia do ataque, os tiros foram disparados após a missa das 12h15, que é realizada no mesmo horário todos os dias. A PM diz ter registrado um chamado pelo 190 às 13h25.

Uma câmera do circuito interno da catedral mostra ação do atirador. No vídeo, obtido pela reportagem, ele de repente se levanta e passa a disparar contra um grupo de pessoas sentadas logo atrás dele.

O atirador em seguida caminha para a frente da igreja e começa a disparar contra os policiais que entraram na catedral para rendê-lo.

Euler ainda teve tempo de trocar o pente da pistola até ser atingido no tórax. Caído, mas ainda consciente, disparou contra a própria cabeça. Ele ainda tinha 28 balas em pentes na mochila.

A Polícia Civil apreendeu papeis, documentos, cartas e um notebook na casa de Grandolpho. O delegado diz que a família o descreveu como uma pessoa retraída e de pouca conversa.

Os familiares disseram não ter conhecimento de qualquer arma e que temiam que ele se suicidasse. O atirador não trabalhava desde 2014 e morava com o pai desde a morte da mãe.

Atingidos pelo atirador, José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, Eupidio Alves Coutinho, 67, Sidnei Vitor Monteiro, 39, e Cristofer Gonçalves dos Santos, 38, não resistiram aos ferimentos e morreram no local.

Outras quatro pessoas foram baleadas e socorridas pelos bombeiros e pelos médicos do Samu. Entre elas estava Heleno Severo Alves, 84, que morreu na quarta, em um hospital de Campinas. 

ESTATUTO DO DESARMAMENTO

A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) provocou uma nova discussão sobre ampliar o acesso a armas para autodefesa. Durante a campanha, ele prometeu revogar o estatuto caso fosse eleito. Para fazer isso, porém, é necessária aprovação do Congresso.

Aprovado em dezembro de 2003, o Estatuto do Desarmamento limitou a posse de armas no país e tirou milhares de armamentos das ruas.

Até o início de 2014, quase 650 mil armas de fogo foram entregues voluntariamente pela população.

Atualmente, 55% dos brasileiros acham que as armas devem ser proibidas por representarem ameaça à vida dos outros, e 41% avaliam que possuir uma arma legalizada deve ser direito do cidadão que queira se defender. Os dados são de pesquisa Datafolha de outubro deste ano.

Em novembro de 2013, 68% avaliavam que as armas deveriam ser proibidas, e só 30% queriam armas liberadas.

De um lado deste debate está a hipótese da letalidade, em que o aumento de armas leva ao avanço dos conflitos com mortes, além da redução dos custos dos criminosos para obterem armas – porque preços no mercado paralelo caem ou porque fica mais fácil se apropriar de armas legais.

No extremo oposto, está a hipótese do uso defensivo de armas, segundo a qual a proliferação de armamentos diminuiria a incidência de crimes ao mudar o cálculo de risco de criminosos. Eles seriam desencorajados do enfrentamento diante da maior probabilidade de encontrarem resistência inesperada por parte da vítima.

Lei federal de 2003, o Estatuto do Desarmamento regula o acesso a armas e restringiu o porte e a posse em todo o país. Ainda assim, em média seis armas são vendidas por hora no mercado civil nacional. Neste ano, até 22 de agosto, haviam sido vendidas 34.731 armas no país.