Ao final de cada ano, muitas vezes nos perguntamos o que é, essencialmente, o sucesso na vida. Cada um de nós pode imagina-lo no grande acúmulo de capital (mais frequente atualmente, mas nem por isso unânime) ou no despojamento de bens materiais,  na segurança ou nos riscos assumidos pela procura de adrenalina, na solidão ou na vida em grandes grupos, no devotamento ao trabalho ou numa atitude mais ao deus-dará, num planejamento meticulosos de cada passo ou na existência mais ao sabor dos acontecimentos.

A verdade é que é impossível definir claramente o que é uma vida de sucesso, ou ter uma “receita de bolo” capaz de atender a todos os seres humanos dentro de suas especificidades, pois são muitas as pequenas coisas que nos fazem felizes ou infelizes. O tipo de educação recebida, o acolhimento dentro da família, a moral aprendida desde cedo e desenvolvida nos contatos comunitários, os talentos individuais, a cultura, a religião, tudo isso influencia nosso senso comum do que seria a verdadeira felicidade, e felizmente não temos nenhuma lei ou regulamento que a determine de forma absoluta.

Podemos contestar a norma que parece associar dinheiro e estado de graça, no entanto a vida de quem está à margem deste padrão não costuma ser fácil, sua força e legitimidade de ampla aceitação pode implicar em rejeição social daqueles que não se adequam aos cânones.

Também não é simples do ponto de vista individual o fato de que podemos fixar o nível de excelência num ponto extremamente alto, muitas vezes com objetivos tão distantes de serem alcançados, que o sentimento geral passa a ser de fracasso, quando na verdade apenas a competitividade para a qual a sociedade nos preparou é causadora desta insatisfação. Gostar do que se tem, avaliar positivamente nossas pequenas vitórias, sem autoenganos e arrogância é duro aprendizado.

Por isso professores tem um encargo difícil e complexo, o de avaliar o sucesso escolar. As exigências, os critérios e regras de julgamento dentro do sistema educacional, que enquadra um determinado estudante como apto ou não às normas da Escola, quando todos eles diferem na formação básica obtida dentro de seus lares, na cultura de seus círculos mais próximos, já que a escola não tem o monopólio da educação, parece tarefa inglória. Os saberes de cada indivíduo são em boa parte elaborados fora dos muros escolares, por exemplo na importância dada ao sistema educativo pelos familiares do círculo mais íntimo, se existe ali o hábito da leitura e de respeito aos professores. O nível socioeconômico influencia no acesso ao lazer, às facilidades tecnológicas, viagens, livros e todo o mais que compõe o que denominamos ambiente de conhecimento.

No entanto, embora a escola não possa ser considerada a única responsável pelo insucesso ou sucesso, outras instâncias, nas quais incluiríamos os exemplos de políticos em seus pronunciamentos, mais ou menos agressivos, mais ou menos elogiosos da cultura e da ética, a mídia, as pessoas respeitadas dentro da comunidade, que compõe educação em sentido amplo, podem nos trazer o sentimento de vitória ou de fracasso.

Refletir sobre estas características externas que interferem profundamente no mundo interior de cada ser humano é caminho para o autoconhecimento e percepção mais acurada do mundo, pois sentimos a passagem do tempo de duas maneiras: a que compreende as datas inscritas no calendário, e a natural, na qual o tempo é fluido, está ligado ao movimento da Terra em torno do Sol, que nosso planeta completa a cada trezentos e sessenta e cinco dias e seis horas, aproximadamente. No entanto, algumas datas são tão significativas que o calendário se torna mais relevante na marcação de algumas etapas: a convenção de primeiro de janeiro como início de um novo ano passa a ser sinônimo de recomeço e novas chances.

Que possamos aproveitar muito e sem pandemia este ano que se inicia.

 

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.