Quem imagina que as ideologias tenham presença ativa na realidade política brasileira, incorre em grande equívoco. Não existem, nas concepções ideológicas à direita ou à esquerda, convicções doutrinárias sólidas no eleitorado que sustente o bifrontismo de pensamento que grande parte da mídia interpreta e divulga. Igualmente outros setores que se acham porta vozes das opções políticas da sociedade. Somos uma sociedade marcantemente conservadora, em que o passado está presente e ignora-se o futuro, aliada à desinformação gigantesca sobre os verdadeiros problemas que nocauteiam o desenvolvimento nacional.  Agravando a situação de uma sociedade desigual e injusta com a maioria da sua população. 
Nesse cenário, nos momentos das disputas eleitorais, emergem os falsos “salvadores da pátria” com soluções irrealistas e, portanto, desfocadas da realidade. É o caminho seguro para o populismo que viceja em setores à esquerda e à direita. A sedução pelo populismo eleitoral agravada, nos últimos tempos, pelo “marketing da mentira”, prevaleceu nas contendas eleitorais. Felizmente nesse ano de 2018, em função da Operação Lava Jato, limitaram o raio de ação desses mistificadores.
O falso debate político, alimentado nos meios de comunicação, desenha em cenário falsificado. Nele existiria a prevalência de duas correntes antagônicas: direita e esquerda. Felizmente a realidade é muito diferente, a sociedade não está majoritariamente dividida entre as duas opções ideológicas. A opção populista não é majoritária na realidade política nacional. O economista Flávio Tadashi Matsumoto, da consultoria Macroplan, em pesquisa feita recentemente comprovou que a adesão ao “populismo de direita” tem o apoio de 17,4% da população; o “populismo de esquerda” de 16,1%; e, o “populismo de ocasião” (fruto da desinformação) se expressa em 16,5%.
Aquela pesquisa da Macroplan quantifica que 50% dos brasileiros não aceitam a opção populista para enfrentar os dramáticos problemas do cotidiano. Constata que 23% da população defende como alternativa a implantação de reformas modernizantes e 27% se inclinam por caminho conservador implantando limitadoras reformas que não afete os seus interesses. Demonstrando, no seu conjunto, que administrar sociedade complexa como a brasileira não é tarefa para amador.
Ante esse cenário o que esperar do governo que venha a ser eleito para conduzir o Brasil entre 2019-2023? Os postulantes à Presidência estariam conscientes do desafio para recolocar o País no rumo do desenvolvimento? Implantariam uma política econômica que enfrente a crise levada pela maior recessão da história? Estariam convictos da necessidade de reformas estruturais para modernizar a estrutura pública eliminando privilégios? Os obstáculos serão numerosos, a começar pelo Congresso Nacional a ser eleito, quando a reeleição de uma maioria fisiológica é dada como favas contadas. E sem a participação do legislativo na aprovação das propostas modernizantes será impossível a governabilidade. Os verdadeiros problemas nacionais não frequentam a agenda do legislativo.
Sem estabilização econômica e enfrentamento da crise social (no qual o desemprego é indicativo) é impossível para qualquer governante administrar o país. No epicentro está o enfraquecimento do Estado democrático. Quem venha a ser eleito para ocupar a curul presidencial, enfrentará conjuntura adversa para recolocar o Brasil no rumo do desenvolvimento. Infelizmente os verdadeiros e crônicos problemas que estrangulam as potencialidades de construção de um País, comprometido com o futuro, não vêm frequentando a agenda dos candidatos presidenciais e nem tão pouco na mídia escrita e televisada, em que nas entrevistas com os postulantes, prevalece o jornalismo de celebridade, na qual o entrevistador é mais importante do que o candidato. Triste tempo.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira