BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Um grupo de oficiais de baixa patente da Guarda Nacional Bolivariana que tinha se rebelado durante a madrugada desta segunda-feira (21), no quartel de Cotiza (ao norte de Caracas), foi preso pelo Exército no início da manhã.


De acordo com um comunicado oficial, os 27 rebeldes haviam assaltado um comando localizado no bairro do Petare e de lá teriam levado armamentos. O texto diz também que os oficiais se renderam quando chegou a Cotiza uma patrulha do Exército chefiada pelo capitão Gerson Soto Martínez.


Antes de serem presos, eles gravaram vídeos em que diziam desconhecer a autoridade do ditador Nicolás Maduro e pedindo apoio da população civil. O líder da rebelião foi identificado como o sargento Valdrén Figueroa.


Também nesta segunda-feira, o presidente do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, Juan José Mendoza, disse que as ações da Assembleia Nacional, desde que se encontra em desacato – ou seja, desde a presidência de Julio Borges (2017) até a atual, de Juan Guaidó – são nulas.


“A Assembleia Nacional não tem uma junta diretora válida, portanto está agindo fora da lei ao incitar a população a atos públicos. A nulidade de seus atos é absoluta.”


Mendoza disse ainda que não se pode aplicar o artigo 350 da Constituição, como pede a Assembleia Nacional, que permite a desobediência civil em caso de o governante estar abusando de seu cargo e desrespeitando as leis do país.


Em Cotiza, moradores revoltados com o ocorrido com os soldados começaram uma manifestação na rua, reprimida com gás lacrimogêneo.


Por meio das redes sociais, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, disse que, sobre os oficiais rebeldes, cairá “todo o peso da lei”.


Um dos líderes da oposição e ex-candidato a presidente, Henrique Capriles, do partido Primeiro Justiça, apoiou o levante de Cotiza e disse que se trata de um exemplo do descontentamento dentro das Forças Armadas do país.


Porém, fez um alerta. “Uma coisa é a cúpula, outra é a tropa. Ninguém nega que há um descontentamento e que a fome e a crise econômica também afetam os soldados e suas famílias, mas é preciso que se mobilizem também os da alta cúpula”. Depois, voltou a dizer que “a situação do país é insustentável, todos os dias a crise econômica aumenta. O regime quer uma guerra? Isso nunca será uma solução”.


Já o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, afirmou que não gostaria de ver “uma divisão das Forças Armadas, e sim que toda a família militar se junte a seu movimento”.


Segundo o jornal Miami Herald, ex-generais do Exército, hoje exilados nos EUA, apoiam Guaidó. “Estamos num momento parecido ao de 2002″ [quando um golpe de Estado derrubou Hugo Chávez do poder]”, disse o general Herbert García Plaza, que hoje vive em Washington.


“As Forças Armadas hoje não têm o desejo de ir contra a população, caso haja protestos muito numerosos”, disse ao jornal americano.


O presidente Jair Bolsonaro falou sobre os desdobramentos da crise política na Venezuela nesta segunda-feira. Em Davos, na Suíça, onde participa do Fórum Econômico Mundial , ele disse a jornalistas que espera que o “governo [do ditador Nicolás Maduro] mude rapidamente”.


*Colaboraram Maria Cristina Frias, Luciana Coelho e Lucas Neves, em Davos.