A guerra pela audiência na TV aberta e a luta diária dessas ante o avanço do streaming têm feito os canais se mexerem para manter sua clientela. Muitos nomes destacados da área cultural decidiram apostar alto e partiram para novas empreitadas, ou mesmo tiveram uma ajudinha para que isso ocorresse. Atenta ao momento, a Globo coloca suas fichas na abertura de um novo horário para a reprise de novelas, como faz com o já tradicional Vale a Pena Ver de Novo. Assim, a partir desta segunda-feira, 6, entra no ar novamente o folhetim O Cravo e a Rosa, de Walcyr Carrasco, logo após o Jornal Hoje.

A novela, que foi ao ar originalmente em 2000, é uma deliciosa inspiração no clássico de Shakespeare, A Megera Domada. Ambientada na São Paulo dos anos 1920, a trama retrata a sociedade da época, mas traz tipos peculiares e com histórias saborosas. Em meio aos costumes que reinavam no período, vamos ver como Catarina (Adriana Esteves), uma jovem que não aceita a dominação machista e luta pelos direitos femininos. Ela é filha do banqueiro Nicanor Batista (Luís Melo), um homem rico que tem a intenção de se tornar prefeito, que preza pelos bons costumes. Só que não. Ele é do tipo do “faço o que digo mas não faça o que faço”. Tem uma vida dupla, o homem de família. E mesmo assim, exige que suas filhas sigam os ditames sociais.

Por isso mesmo, Catarina, que é tida pelos outros como uma fera, é colocada em uma encruzilhada. Se ela não se casar, sua irmã mais nova, Bianca (Leandra Leal) fica sem o direito de namorar, o que a leva a pressionar ao máximo Catarina. E será nesse clima conflituoso que a “megera” será convencida a aceitar o casamento com Julião Petruchio (Eduardo Moscovis), um homem sem traquejos, mas que precisa imediatamente de dinheiro para que não perca sua fazenda. Não, não será nada fácil essa relação, desde antes o período de cortejo, com o Petruchio se esforçando em tentar conquistar sua pretendente. Será sempre uma relação de disputa para ver quem dá a última palavra sobre tudo.

Além da história saborosa e do elenco iluminado, O Cravo e a Rosa carrega consigo todo o clima bucólico e o romantismo de uma época. Ao Estadão, o autor Walcyr Carrasco conta que a criação do texto veio de suas memórias. “Eu fui criado no interior, e tanto o humor como a estética caipira sempre mexeram muito comigo. Mas sou um homem urbano. Então fundi meus dois universos”, diz o dramaturgo. Mas ele deixa claro que para escrever um texto, realizar uma pesquisa é fundamental, seja para uma trama de época ou não. “Todos meus textos exigem pesquisa, sejam atuais ou de época. Eu fiz faculdade de História na USP (não concluída), portanto para mim estudar os anos 1920 foi uma delícia”.

Depois de sua estreia, nos anos 2000, o folhetim de Carrasco ganhou reexibições que foram bem recebidas pelo público. Em 2003, conquistou o direito a retornar ao ar no Vale a Pena Ver de Novo, faixa que voltaria a ocupar em 2013, chegando ao Canal Viva em 2019 e ainda pode ser vista no Globoplay. “O Cravo e a Rosa é muito importante na minha carreira, pois foi meu primeiro sucesso na Globo. Mas também marcou meu coração, porque eu coloquei todo um universo da minha infância em cena”, conta o autor, que explica como é o seu cuidado com o que escreve e o público a que se destina. “Eu escrevo livros infantis, juvenis, novelas, em todos os trabalhos é como se eu mesmo me programasse em relação ao horário. Sento e escrevo, mas um movimento interno faz com que eu já escreva com adequação para o horário, como foi o caso de O Cravo e a Rosa”.

Sobre essa nova oportunidade de levar a novela ao público de casa, Walcyr é só satisfação e afirma ter acontecido algo que ele nem imaginava que poderia acontecer. “A novela virou um clássico”, constata o escritor. “Todas as vezes que é reprisada, O Cravo e a Rosa faz sucesso, e isso para mim é uma grande emoção. Saber que uma novela não é instantânea, mas que pode permanecer!”, comemora, considerando ser esse novo horário uma novidade incrível: “Que autor não gostaria?”. E, por entender que o público brasileiro ama telenovelas, afirma ter para si a vontade de continuar a escrever sempre, “oferecendo meus trabalhos com muita emoção”, diz.

Se destaca algum personagem nessa trama de amor e poder, Walcyr Carrasco conta que, claro, amou muitos todos eles, mas tem um que ele destaca. “Drica Moraes como vilã, um sucesso”, revela o criador, que aponta que”as cenas dela com o porquinho são inesquecíveis”.