Crédito: Gislaine Bueno – Cena de “Doze Flores Amarelas”

Nesta quarta (04/04) foi apresentada, no palco do Guairão, aquela que, talvez, é a aposta mais arriscada da história dos Titãs: a ópera-rock Doze Flores Amarelas. Com base em montagens de sucesso como Tommy (do The Who) e Jesus Christ Superstar (de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice), a montagem representa uma ousadia dentro da proposta da banda.

Dirigida por Hugo Possolo e Otavio Juliano (e com argumento dos próprios diretores e a banda, em parceria com o escritor Marcelo Rubens Paiva), a história do espetáculo retrata o cotidiano de três amigas,vividas pelas atrizes e cantoras Yás Werneck, Corina Sabba e Cyntia Mendes, que são afetadas pela violência sexual e os vícios tecnológicos. As garotas, calouras de uma universidade, decidem se divertir em uma festa, e acabam vítimas de abuso. A partir desta introdução, a ópera apresenta a trajetória de cada uma delas, após o acontecido, em uma trama que mistura suicídio, vingança, rejeição, a solidão causada por redes sociais, "macumba" digital e redenção. 

A banda, composta por Branco Mello, Sergio Britto e Tony Bellotto (os últimos remanescentes da formação original), ao lado dos novos integrantes Beto Lee (filho de Rita Lee) e Mario Fabre, permanecem no palco durante toda a peça, pontuando a história com cerca de 25 canções compostas especialmente para a atração. A narração da própria Rita Lee é realizada de maneira pontual, tornando-se um dos pontos mais interessantes da narrativa.

Apesar da experiência dos músicos e da desenvoltura das atrizes em cena, nem sempre a união deles no mesmo espaço causa liga. O primeiro ato, que compreende a reunião das amigas até o estupro, é construído de maneira irregular, e os Titãs se sobressaem no palco.

Já a partir do segundo ato, o elenco e a banda começam a dialogar com mais afinco, assim como as letras das músicas e os arranjos se tornam mais empolgantes e contundentes. Ao mostrar o desenrolar do drama de cada uma das amigas, a ópera deixa claro a mensagem que deseja passar, o que serviu para seduzir parte do público que ainda não tinha comprado a proposta do espetáculo.

Mas o terceiro ato, que registra as consequências da vingança das três meninas e a sua redenção, volta a apresentar sinais de irregularidade e, novamente, os Titãs realçam a sua forte presença.

Mesmo com os problemas de roteiro apresentados no decorrer, a proposta da ópera-rock é ousada e interessante, e demonstra a vontade do grupo em se reinventar. Isso deve ser levado em conta. Faltou apenas uma dose a mais de emoção para convencer o público (incluindo algumas pessoas perdidas, que achavam se tratar de um show da banda). Por se tratar de uma pré-estreia, não é algo que desabone o projeto, pelo contrário. Ele tem potencial para marcar história no teatro brasileiro.