Frankin de Freitas – Cães por Curitiba: depois de encontrar um lar

O momento atual da pandemia do novo coronavírus, marcado pela flexibilização das medidas de enfrentamento da Covid-19, tem reservado momentos cruéis para aqueles que trabalham pela causa animal em Curitiba e região. É que depois do movimento de adoção de animais de estimação crescer nos momentos de maior isolamento social, agora, com a retomada da economia e da própria sociabilidade, muitas dessas mesmas pessoas estão se desfazendo deles.

Idealizadora do Miaumigos, que trabalha com o resgate e adoção de felinos, Heloisa Manzano comenta que a devolução de animais que haviam sido adotados sempre aconteceu, especialmente no período de final de ano, quando muita gente sai de férias, vai viajar e, para não ter de pagar um hotel ou por não conseguir alguém para cuidar do bichinho durante o período de ausência, acaba se desfazendo do animal de estimação. Desde o final do ano passado, contudo, esse movimento tem se acentuado de uma maneira que ela define como dolorosa.

“Teve uma onda de muita adoção no começo da pandemia, começaram a adotar demais, inclusive os animais mais velhos”, aponta Manzano, revelando que desde o final de 2021, quando as medidas de isolamento social começaram a ser flexibilizadas no Paraná, muitas pessoas começaram a devolver os animais.

“Só neste mês [abril] tivemos seis devoluções. E é normal ter devolução, mas dessa vez está sendo mais doído, mais dolorido. As pessoas queriam eles para fazer companhia, animalzinho que a gente vê em foto na rede social, a pessoa falando que ele salvou ela da depressão, trabalhando sempre do lado, e de repente resolvem devolver os animais como se fossem objetos”, lamenta.

Já no Projeto Adote Um Vira Lata, a fundadora Letícia Carolina Tavares Fernandes comenta ainda que outro grande problema tem sido a falta de ações desde meados de 2021. “Teve bastante devolução e as adoções em si ainda pararam a partir da metade do ano passado, independente se é filhote, cachorro, gato. E sem doar animais, não conseguimos receber mais, não conseguimos resgatar”, relata.

Crise econômica afeta instituições de proteção animal e pressiona projetos

A situação se torna ainda mais problemática diante da dificuldade financeira que grande parte dos projetos ligados à causa animal. É que com a pandemia acabou se agravando também uma crise econômica, o que fez muitas pessoas que apoiavam financeiramente essas iniciativas deixarem de contribuir.

Além disso, a devolução de pets que já haviam sido adotados acaba gerando um gasto extra, imprevisto, aumentando as despesas num momento em que as receitas já estão estranguladas.

“Isso [devolução de pets], pra gente, gera um caos. Temos um número x de animais, aí vem mais, não tem ração, fora o estresse, porque o animal é acostumado com o ambiente em que ele vivia”, afirma Heloisa Manzano.

“Os animaizinhos sentem como a gente. Eles se apegam, consideram aquele território deles. Se tira eles dali e coloca em outro lugar, ficam desnorteados, isso afeta o temperamento, eles ficam com um olhar mais triste. A questão é muito pesada. Se ele era apegado fica sem querer comer, chora demais… É bem triste. Eles consideram a gente como família”, diz Letícia Carolina Tavares Fernandes.

Apoio animal

Como ajudar uma instituição

É possível ajudar os projetos que atuam em prol da causa animal de diversas maneiras. Uma delas é divulgando os próprios projetos e ONGs nas redes sociais, através do compartilhamento de postagens, por exemplo. Outra maneira é atuar como voluntário, atuando nas mais diversas frentes: no cuidado aos pets que estão aguardando adoção ou mesmo contribuindo de alguma forma com as iniciativas com conhecimentos que você já tem da sua área de atuação (marketing, advocacia, organização de eventos, etc).

Outra maneira é apadrinhar os projetos e contribuir financeiramente ou mesmo doar medicamentos e ração, entre outros itens. “Sempre dependemos de doação, precisamos que as pessoas doem. Neste ano pensamos num forma de retribuir. A pessoa doa, mas também recebe. Lançamos ontem uma marca de roupa, cujo lucro vai ser revertido pros animais. O nome do projeto é A Voz dos Que Não Falam”, conta Letícia Fernandes, do Adote Um Vira Lata.

Para colaborar, basta procurar pelas redes sociais dos dois projetos e entrar em contato via mensagem. Além disso, é comum também a realização de rifas para arrecadar fundos, como relata Manzano, do Miaugatos.

Viralatas

Os animais sem-raça-definida (SRDs), popularmente conhecidos como vira-latas, são os favoritos dos tutores brasileiros. É o que aponta o levantamento feito por uma empresa especializada no mercado de pet sitters (babás de pets), que tem em seu cadastro predominância de SRDs entre cães e gatos. Curitiba segue a tendência do país, segundo a Rede de Proteção Animal da cidade. Os SRDs são 47% dos cães dos lares curitibanos.