Referência mundial do blues e conhecido por atualizar o gênero nos anos 1980, emprestando-lhe marcas pop e acessíveis, com 40 anos de carreira e cinco prêmios Grammy, Robert Cray volta ao Brasil para uma série de quatro shows nesta e na próxima semana. O primeiro, gratuito, é em São Paulo neste fim de semana: dia 27, sábado, no Parque Villa-Lobos, às 17h30.

A apresentação faz parte da 5.ª edição do Festival BB Seguros de Blues e Jazz, realizado em oito cidades, com escalações diferentes. No sábado, em São Paulo, ainda tocam no Parque, a partir das 11h, nomes como Sérgio Dias, Luiz Carlini e Thiago Espirito Santo.

Os outros shows de Robert Cray no Brasil ocorrem em Belo Horizonte (31 de julho, Grande Teatro do Palácio das Artes), Rio (2 de agosto, Vivo Rio) e Brasília (3 de agosto, Parque da Cidade). Ele também se apresenta em Buenos Aires no dia 28 de julho.

Dono de um estilo livre que trabalha com elementos do blues sem cair em paranoias ortodoxas – Cray chama alguns de seus críticos de “bluesnáticos” -, o guitarrista americano de 65 anos ficou conhecido, mas não só por dividir o palco com alguns dos maiores blueseiros da História: Albert Collins, John Lee Hooker, Muddy Waters, B.B. King, Willie Dixon, Eric Clapton, Keith Richards, Stevie Ray Vaughan. Foi ele uma das pessoas, aliás, que dividiram o palco com Stevie Ray na noite de sua trágica morte em um acidente de helicóptero, em 1990.

Mas Cray construiu ao longo das últimas quatro décadas uma discografia respeitável de 20 álbuns de estúdio, 15 deles nas paradas da Billboard e 11 indicações para o Grammy. O trabalho mais recente é Robert Cray & Hi Rhythm (2017), gravado com a mítica banda de apoio de Al Green e outros nomes do soul – que evidencia, também, a fluidez com que o som da sua Stratocaster varia e conversa com ritmos diferentes. O novo disco, conta Cray, por telefone desde o Estado americano de Montana, foi uma ideia do produtor Steve Jordan (famoso por seu trabalho com Keith Richards).

“Trabalho com Steve há algum tempo, e numa troca de e-mails ele entendeu que a junção com o Hi Rhythm fazia sentido. Desde o começo parecia fantástico. Voltei a escrever algumas coisas, escolhemos outras canções, e até o Tony Joe White (morto em outubro de 2018) veio ao estúdio e fez uma música conosco. Pessoalmente, a ideia não era recriar o som deles, mas fazer o som deles com aquele sentimento que trago do blues”, explicou.

Os shows no Brasil terão versões do repertório mais recente, mas um músico experiente como Cray sabe dosar a balança: músicas mais conhecidas na sua voz, como Right Next Door (Because of Me) e Smoking Gun, também fazem parte do setlist. “De noite para noite, mudamos o set, mas deixamos alguns favoritos. Não é prazeroso tocar a mesma coisa todo dia, e as músicas ficam maiores ao longo do tempo. Temos uma lista de 50 canções para escolher”, diz. O “temos” de sua frase se refere à The Robert Cray Band, que também conta com Richard Cousins (baixo), Dover Weinberg (teclados) e Terrence Clark (bateria).

O músico diz ouvir pouca música nova e estar pouco conectado ao novo blues americano – embora seu nome sempre esteja associado ao conceito de abrir portas para os caminhos contemporâneos do gênero. “A coisa com o blues é que cada geração tem uma abordagem diferente”, reflete. “Uma banda como a nossa, por exemplo, não toca o blues tradicional, sempre tivemos elementos de soul e R&B. Há muitos guitarristas novos que fazem essa mistura mais com o rock. Também parece que todo mundo quer ser o novo Stevie Ray Vaughan. As pessoas deveriam tentar escrever mais músicas e ser elas mesmas.”

Para ele, a fundação forte do blues na cultura americana não é algo envelhecido, justamente porque muitos outros tipos de música, do rock ao hip-hop, remetem ao gênero do Delta do Mississippi. “Quando alguém ouve gente como Eric Clapton ou os Rolling Stones, é levado para o blues. Quando as pessoas ouvem isso querem saber de onde esses caras vêm. É quase como uma oportunidade de voltar para a escola”, comenta. Ele próprio começou a gostar de música, ainda criança, ao ouvir os Beatles no rádio (“meu primeiro herói da guitarra foi George Harrison”), mas, como conta, aos 15 anos o “inseto do blues o picou”.

B.B. King foi o primeiro de uma lista de nomes de homens que não apenas faziam mágica com a guitarra, mas que tinham histórias de vida inacreditáveis para aquele adolescente. O que o garoto ainda não imaginava era que ele próprio dividiria o palco com algumas dessas lendas anos depois. “A coisa mais importante sobre esses encontros é como fui aceito por fazer o que faço, basicamente. Quando somos convidados para tocar com pessoas assim, o que se deve fazer é o que se faz normalmente. Se você consegue passar do ponto de ficar nervoso, você toca e então é maravilhoso.”

5ª FESTIVAL BB SEGUROS DE BLUES E JAZZ

Parque Villa-Lobos.Avenida Prof. Fonseca Rodrigues, 2.001. 27/7. 11h às 19h. Gratuito.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.