SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Aos 81, Roberto Menescal, um dos compositores mais importantes da bossa nova, continua compondo, fazendo shows e gravando discos. Enquanto revisita os seus clássicos, como “O Barquinho” e “Você”, ele se diz feliz com seu atual momento. Para ele, a MPB está longe das rádios, que agora tocam o que realmente “é a cara do Brasil”, mas diz acreditar que algo grandioso ainda está por vir. 


Em shows mais intimistas pelo Brasil, ele divulga o CD/DVD “Roberto Menescal 80 anos”, que tem 17 artistas convidados, entre os quais Jorge Vercillo, Zé Renato, Lenine e Fernanda Takai. Foram eles que ajudaram Menescal a escolher as canções, até porque não seria fácil escolher. “Descobri recentemente que eu tenho mais de 700 músicas gravadas, eu não fazia ideia”, conta Menescal. 


Cada artista convidado lembrou uma música, que nem ele mesmo se recordava, e começou a escrever novos arranjos. “Lenine resgatou uma música que fiz quando a minha filha nasceu, então, já pensei em algo que tivesse a cara dele”, explica o compositor sobre “Adriana”. “Outras canções já não mudam tanto. Lenny Andrade cantou ‘Rio’ a vida inteira. Com essa variedade de ritmos, chegamos a um resultado bacana”, diz Menescal.


Fernanda Takai, que já gravou uma versão de “O Barquinho” em japonês, é a voz da faixa que teve mais de 2.000 gravações em todo mundo. Segundo Menescal, esse levantamento foi feito em 2001, e “hoje já deve ter passado de 3.000”. “O meu ‘Barquinho’ é a ‘Garota de Ipanema’ de Jobim, e o ‘Samba de Verão’, de Marcos Valle”, compara. 


Gravado no ano passado, o álbum só saiu após os 81 anos de Menescal. “Não tem problema, agora já começo a pensar em como celebrar os 90”, diz, animado.


O disco comemorativo reflete o momento em que vivemos, porque “estamos em tempo de revisão”. “Tudo aconteceu no século passado. A tropicália, a bossa nova, o rock, a jovem guarda. Tudo floresceu. Agora, as coisas estão caladas, então revemos tudo em documentários, livros e filmes. Estamos nesse momento de revisão ou em uma fase de pré-novo movimento”, afirma o músico.


Para Menescal, não será nos primeiros 20 anos desse século que algo totalmente novo surgiria. “É preciso mais tempo.” Ele afirma que acompanha tudo que é feito, mas estranhou o resultado da série “Coisa Mais Linda”, da Netflix.


“Com esse título, era para ser mais feliz. É muito dramática, não tem a ver com o que a gente era”, diz Menescal, ao lembrar que foram eles que vieram deixaram mais leve e mais otimista o samba-canção, gênero que precedeu a bossa nova. “Mas valeu, eles tocaram nossas músicas e a série foi superbem!”


Junto aos seus clássicos, Menescal conta que não para de criar ao lado dos parceiros de sempre, como Marcos Valle, João Donato e Carlos Lira. “Tivemos uma onda de bossa nova na qual as nossas músicas eram gravadas e iam para a rádio.” Passaram por isso a MPB, o rock, nos anos 1980 e início dos 1990. “Agora as coisas populares tomaram conta, como o sertanejo, o pagode e o funk, e está certo, porque essa é a cara do Brasil, está perfeito”, afirma o cantor. 


As novas canções do artista são apresentas nos shows, em meio aos clássicos que todos querem ouvir. “Continuo trabalhando muito, hoje ainda mais, porque tem uma turma que não gosta de participar de shows de 50 mil pessoas. Fiz cinco shows pequenos em São Paulo no Blue Note, com a casa lotada.”


Projetos novos também estão na agenda do músico. Com Rodrigo Santos, guitarrista do Barão Vermelho, ele vai gravar “Cazuza em Bossa” e ainda tem trabalhos com Fernanda Takai, Leila Pinheiro e com o filho, Marcio Menescal, músico da banda Bossacucanova.